Projeto TAMAR


O nome TAMAR foi criado a partir da contração das palavras “tartaruga marinha”. A abreviação se mostrou necessária ainda no início dos anos 80, para a confecção das pequenas placas de metal utilizadas na identificação das tartarugas marcadas pelo Projeto para estudos de biometria, monitoramento das rotas migratórias e outros.
Desde então, o Projeto TAMAR passou a designar o Programa Brasileiro de Conservação das Tartarugas Marinhas, que é executado pelo IBAMA, através do Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas (Centro TAMAR-IBAMA), órgão governamental; e pela Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisas das Tartarugas Marinhas (Fundação Pró-TAMAR), instituição não governamental, de utilidade pública federal.
Essa união do governamental com o não-governamental revela a natureza institucional híbrida do Projeto TAMAR. O TAMAR conta ainda com a participação de empresas e instituições nacionais e internacionais, além de organizações não-governamentais.
HISTÓRIA
Até o final da década de 70: nenhum trabalho de conservação marinha As tartarugas marinhas já haviam sido incluídas numa lista de espécies ameaçadas de extinção, mas estavam desaparecendo rapidamente, por causa da captura incidental em atividades de pesca, da matança das fêmeas e da coleta dos ovos na praia. Houve reação e denúncias, inclusive com repercussão internacional.
1976 a 1978: primeiras expedições a Fernando de Noronha, Atol das Rocas e Abrolhos.
 O objetivo era desbravar áreas marinhas remotas, denunciar a degradação e alertar para a necessidade de conservação. Entre os realizadores dessas primeiras expedições, a maioria estudantes de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande, estavam aqueles que integrariam, anos depois, a primeira equipe do Projeto TAMAR.
1980: criação do Projeto TAMAR
O IBDF criou o Projeto TAMAR, com o objetivo de salvar e proteger as tartarugas marinhas do Brasil. Como primeira ação, foram enviados questionários a prefeituras, universidade, delegacias regionais do IBDF e colônias de pescadores, de todas as localidades, do Oiapoque ao Chuí. Pesquisadores levaram dois anos percorrendo o litoral brasileiro para a identificação das espécies, locais de desova, período de desova e os principais problemas relativos à exploração.
1981: Caravana Rolidei
 A equipe se auto-intitula “Caravana Rolidei”, inspirada no filme By By Brasil, de Cacá Diegues, premiado no Festival de Cannes. A Caravana realiza as primeiras iniciativas de conscientização das comunidades e registra as primeiras imagens de uma tartaruga marinha em comportamento de desova no Brasil.
1982: monitoramento da temporada reprodutiva nas três primeiras bases
Depois de identificados os principais pontos de desova, o trabalho de conservação começou pela Bahia (Praia do Forte), Espírito Santo (Comboios) e Sergipe (Pirambú). No dia 18 de janeiro, o TAMAR marca uma tartaruga marinha pela primeira vez no Atol das Rocas.
1983: primeiro patrocínio da Petrobras
Os próprios oceanógrafos procuraram a Petrobras, no Rio de Janeiro, apresentando todo o levantamento já feito, o trabalho em curso, função e objetivos do Projeto. A empresa adotou a idéia e passou a abastecer os jeeps. Depois, contratou três pescadores, os estagiários, e nunca mais os laços entre o TAMAR e a Petrobras se desfizeram.
1988: criação da Fundação Pró-TAMAR
 Aliada imprescindível, a Fundação é uma entidade sem fins lucrativos criada para apoiar o trabalho de conservação das tartarugas marinhas, responsável por parte das atividades na área administrativa, técnica, científica, pela captação de recursos junto à iniciativa privada e agências financiadoras, e pela gestão do programa de auto-sustentação. Saiba mais...
1990: criação do Centro TAMAR-IBAMA e da primeira Confecção Pró-TAMAR, em Regência/ES
1992: 1 milhão de filhotes protegidos e liberados ao mar
1995: 2 milhões de filhotes protegidos e liberados ao mar
1999: 3 milhões de filhotes protegidos e liberados ao mar
2000: 4 milhões de filhotes protegidos e liberados ao mar
2003: 5 milhões de filhotes protegidos e liberados ao mar
2005: 7 milhões de filhotes protegidos e liberados ao mar
2007: 8 milhões de filhotes protegidos e liberados ao mar
O QUE O TAMAR FAZ
Missão
 A missão é proteger as tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, através da geração de alternativas econômicas sustentáveis.
O TAMAR surgiu com o objetivo de proteger as tartarugas marinhas. Com o tempo, porém, percebeu-se que os trabalhos não poderiam ficar restritos às tartarugas, pois uma das chaves para o sucesso desta missão seria o apoio ao desenvolvimento das comunidades costeiras, de forma a oferecer alternativas econômicas que amenizassem a questão social, reduzindo assim a pressão humana sobre as tartarugas marinhas.
As atividades são organizadas a partir de três linhas de ação: Conservação e Pesquisa Aplicada, Educação Ambiental e Desenvolvimento Local Sustentável, onde a principal ferramenta é a criatividade. Desde o início, tem sido necessário desenvolver técnicas pioneiras de conservação e desenvolvimento comunitário, adequadas às realidades de cada uma das regiões trabalhadas. As atividades estão concentradas em 22 bases, distribuídas em mais de 1100 km de costa.
Assim, sob o abrigo da proteção das tartarugas, promove-se também a conservação dos ecossistemas marinho e costeiro e o desenvolvimento sustentável das comunidades próximas às bases - estratégia de conservação conhecida como “espécie-bandeira” ou “espécie-guarda-chuva”.
Essas atividades envolvem cerca de 1200 pessoas, a maioria moradores das comunidades, e são essenciais para a proteção das tartarugas marinhas, pois melhoram as condições do seu habitat e reduzem a pressão humana sobre os ecossistemas e as espécies.
CONSERVAÇÃO E PESQUISA APLICADA
Desde a sua criação, o Projeto TAMAR investe recursos humanos e materiais para adquirir o maior conhecimento possível sobre a biologia das tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, priorizando pesquisas aplicadas que resolvam aspectos práticos para a conservação desses animais. Conhecidos pela grande capacidade migratória, com um ciclo de vida de longa duração, as tartarugas ainda são um mistério para pesquisadores do mundo inteiro.
ÁREAS DE DESOVA
Manejo das fêmeas
 A postura mais importante diante de uma fêmea em comportamento reprodutivo é não incomoda-la, para que ela conclua a desova.
Observando o momento oportuno e utilizando técnicas reconhecidas internacionalmente, os técnicos do TAMAR marcam as nadadeiras anteriores, identificando o animal com um número individual e uma inscrição com o endereço da sede nacional e a solicitação de que seja notificado quando e onde aquela tartaruga foi encontrada.
Quando isso acontece, é possível estudar o comportamento da desova, as rotas migratórias, possibilitando um maior conhecimento das populações.
Sabe-se, por exemplo, quantas vezes uma fêmea adulta retorna à praia para desovar em uma mesma temporada de desova, qual o intervalo dos retornos, o local escolhido e o período entre uma estação de desova e a próxima.
Manejo dos ninhos e filhotes
 Os ninhos são localizados através dos rastros na areia. Os que estiverem em locais de risco são transferidos para trechos mais protegidos da praia ou para cercados de incubação nas bases, onde se tenta reproduzir as condições naturais. Nesses locais ficam protegidos de qualquer ação predatória (natural e humana), da erosão e das marés, possibilitando um manejo adequado e melhores resultados de eclosão.
Hoje, como resultado do trabalho de educação ambiental desenvolvido pelo TAMAR junto às comunidades, a maioria dos ninhos estão fora de perigo, não necessitando ser transferidos. Ficam nos locais de origem, onde a equipe de pesquisadores do TAMAR acompanha as condições de incubação em ambiente natural - importante ferramenta para indicar, a partir da análise comparativa entre ninhos naturais e transferidos, se o manejo está adequado.
A manutenção dos ninhos in situ (exatamente no mesmo local escolhido pela fêmea) é importante também para não interferir na proporção entre machos e fêmeas, pois a determinação do sexo das tartarugas sofre influência decisiva da temperatura da areia: temperaturas mais altas determinam o nascimento de fêmeas e mais baixas o nascimento de machos.
ÁREAS DE ALIMENTAÇÃO
Além das atividades realizadas nas áreas de desova, o TAMAR mantém bases de conservação e pesquisa em áreas onde esses animais se alimentam e a captura incidental pela pesca artesanal é significativa.
Acreditando que a solução para o problema seja o maior conhecimento das populações e, conseqüentemente, o desenvolvimento de alternativas econômicas eficazes, o TAMAR criou o programa “Nem tudo que cai na rede é peixe”, uma campanha educacional orientada para os pescadores. Eles são orientados para verificar suas redes, salvar as tartarugas capturadas e trazê-las à equipe de pesquisa. É possível reanimá-las adotando procedimentos simples de massagem em seu ventre.
Completado o processo de reanimação, as tartarugas são marcadas, medidas, registradas e liberadas ao mar, logo que se mostram recuperadas. Hoje, aproximadamente 250 pescadores cooperam com o TAMAR em áreas de alimentação, e mais de 10.000 tartarugas foram reanimadas desde 1991.
Programa Pesca
O Programa Nacional para a Redução da Captura Incidental de Tartarugas Marinhas pela Atividade Pesqueira (Programa Pesca) é executado desde junho de 2001, tendo surgido a partir da evolução da campanha Nem Tudo O Que Cai na Rede é Peixe.
O objetivo é diminuir a incidência de tartarugas capturadas e mortas pela atividade pesqueira, através da coleta de informações, pesquisa sobre as artes e petrechos que mais capturam tartarugas e proposição de alternativas, como a substituição de determinadas técnicas e equipamentos por outros menos predatórios.
Nas comunidades à beira-mar, que sobrevivem da pesca artesanal, o trabalho de conscientização dos pescadores está bem mais adiantado, graças ao envolvimento das comunidades, gerando a ação conjunta de técnicos e pescadores.
Em alto mar, o problema está junto às grandes empresas pesqueiras que, por realizarem uma pesca industrial em larga escala, possuem também um maior potencial de capturar tartarugas marinhas. Por outro lado, algumas artes de pesca, como o arrasto de camarão e da lagosta, aproximam-se demais da costa, causando a captura e a morte das espécies de tartaruga que utilizam os recifes e bancos de algas para alimentação e descanso.
Medidas de apoio
 As tartarugas marinhas interagem com quase todos os tipos de pesca, desde as redes de arrasto e espera, até espinhéis, passando por cercos, currais, linha e anzol, entre outros. Num levantamento do TAMAR, foram identificadas 11 artes de pesca com potencial de captura de tartarugas marinhas nos Estados de São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Ceará.
Para solucionar o problema, o TAMAR está atuando intensamente em campanhas para conscientizar os pescadores da necessidade de respeitar o limite de três milhas de distância da costa. Além disso, os técnicos do Projeto ensinam aos pescadores como reabilitar tartarugas desmaiadas e buscam junto às comunidades desenvolver projetos de auto-sustentação.
Em Sergipe, o TAMAR está ajudando a comunidade que vive do camarão a testar a criação de ostras em cativeiro como alternativa econômica. Ao mesmo tempo, a fiscalização realizada pelo Ibama também é importante, pois, nos casos mais graves, coíbe os abusos e resulta muitas vezes em multas e até apreensão de carga e embarcações. Também foi criada uma legislação específica pra barcos camaroneiros acima de 11 metros que devem utilizar TEDS, dispositivo de exclusão de tartarugas.
Outro fator que tem sido levado em consideração é a adoção de sanções de mercado, como certificação a partir de critérios ambientais, moratórias ou embargo para o pescado originário de áreas onde a captura incidental ocorra com frequência. 

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