Tabagismo


O fumo é um importante fator de adoecimento, sendo uma das principais causas de morte evitável no mundo.
O Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional do Câncer/INCA, tem diversas estratégias para reduzir o tabagismo em nosso país.
Uma delas é estimular, através dos profissionais de saúde e da formação de agentes multiplicadores, a conscientização da população em geral sobre os danos causados pelo tabaco.
A proporção de fumantes em nosso país é de aproximadamente 24%, sendo que os indivíduos de nível sócio-econômico mais baixo fumam mais. Paralelamente ao aumento no consumo de cigarros observado nos últimos anos, detecta-se também uma elevação da mortalidade por doenças crônico-degenerativas (câncer, hipertensão e diabetes). Torna-se, portanto, fundamental o trabalho de educação em saúde junto à população, para que haja uma mudança de comportamento no sentido de uma vida mais saudável.
O tabagismo é uma doença
Assim sendo, perguntas como: quanto se fuma no Brasil, quem fuma, qual o tipo de cigarro mais fumado pelos brasileiros são fundamentais para se dimensionar nosso problema, dando informações aos programas de saúde pública no país.
Grande parte dos brasileiros fuma, principalmente os homens. Cerca de 32,6% da população adulta fuma, sendo 11,2 milhões de mulheres e 16,7 milhões de homens. Cerca de 90% dos fumantes ficam dependentes da nicotina entre os cinco e os 19 anos de idade. Atualmente, temos 2,4 milhões de fumantes nessa faixa etária.
A grande concentração de fumantes encontra-se entre 20 e 49 anos de idade. Em todas as faixas etárias, os homens fumam em maior proporção que as mulheres. No entanto, nas faixas etárias mais jovens, a mulher vem fumando mais, diminuindo-se a relação homem/mulher. Esta tendência é grave, pois as mulheres, além da responsabilidade biológica de gerar filhos, convivem com eles intensamente até a adolescência, transformando-os em fumantes passivos e levando-os a encarar o ato de fumar como um comportamento social normal. Sabe-se que nos adolescentes e adultos jovens filhos de pais fumantes há maior prevalência de tabagistas.
O início do tabagismo, nesses casos, seria conseqüência do exemplo apresentado pelos pais ou da necessidade orgânica criada por anos de inalação involuntária da nicotina?
Por outro lado, a mulher vem ocupando espaço crescente no mercado de trabalho, o que a torna, em alguns casos, modelo de comportamento almejado por crianças, adolescentes e adultos do mesmo sexo. Uma área dominada pelas mulheres há muito tempo é a da educação, principalmente primária e secundária. A professora, de maneira geral, abre as portas do mundo para crianças e adolescentes. É fundamental, portanto, que transmita um modelo de vida saudável, livre do uso de drogas.
SUBSTÂNCIAS DA FUMAÇA DO CIGARRO
Quando cigarros industrializados e de fumo-de-rolo, cachimbos e charutos são acesos, algumas substâncias são inaladas pelo fumante e outras se difundem pelo ambiente. Essas substâncias são nocivas à saúde.
Todas as formas de uso do tabaco, inclusive os cigarros com mentol, filtros especiais, com baixos teores (light, extra-light) etc., têm uma composição semelhante, não havendo, portanto, cigarros “saudáveis” ou cachimbos e charutos que façam menos mal. Isso ocorre porque, mesmo escolhendo produtos com menores teores de alcatrão e nicotina, os fumantes acabam compensando essa redução, fumando mais cigarros por dia e tragando mais freqüente ou profundamente, ou seja, fazendo outras modificações compensatórias em conseqüência da dependência à nicotina.
Vale ressaltar que a ação das substâncias do cigarro ocorrem não só sobre o fumante, mas também no não-fumante exposto à poluição ambiental causada pelo cigarro.
DOENÇAS ASSOCIADAS AO USO DO CIGARRO
Doença coronariana (25%) - Angina e infarto do miocárdio.
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica - D.P.O.C. (85%) - Bronquite e enfisema.
Câncer (30%) - Pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero, estômago e fígado.
Doença cerebrovascular (25%) - Derrame cerebral – AVC.
Outras doenças associadas ao tabagismo
Aterosclerose.
Tromboangeíte obliterante.
Hipertensão arterial.
Infecções respiratórias.
Leucemia.
Catarata.
Menopausa precoce.
Disfunção erétil (impotência sexual).
Úlcera péptica.
Composição do Cigarro
A fumaça do cigarro é uma mistura de cerca de 5 mil elementos diferentes. Possui uma parte gasosa (que contém monóxido de carbono), uma partícula (alcatrão), nicotina e água. O alcatrão contém substâncias comprovadamente carcinogênicas como o arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, polônio 210, DDT.
A fumaça do cigarro também contém ciliotoxinas e irritantes. Vários órgãos e sistemas sofrem os efeitos farmacológicos da nicotina, que conjuntamente com o CO atua no sistema cardiocirculatório, aumenta os níveis de trombohexano, levando a um aumento da adesividade plaquetária. A intoxicação do SNC (Sistema Nervoso Central) pela nicotina pode levar a tremores, vômitos, convulsões, depressão respiratória e morte.
Dependência a Nicotina
A dependência e abstinência a nicotina podem desenvolver-se com todas as formas de uso do tabaco (cigarros, cachimbos, charutos, e fumo mascado). A capacidade de estes produtos induzirem ou manterem a dependência e abstinência aumenta com a rapidez de absorção, a dose e a disponibilidade da nicotina. A severidade da dependência a nicotina pode ser ilustrada com o fato de que apenas 33% das pessoas que deixam de fumar sozinhas permanecem abstinentes por um período superior a 2 dias., e menos de 5% mantém-se abstinentes por mais de 1 ano. 50% dos fumantes com aproximadamente 20 anos de idade preenchem os critérios da DSM-IV para dependência a nicotina, e 84% dos fumantes mais velhos.
A nicotina após ser inalada atravessa a barreira hemato-encefálica em 10 segundos, produzindo efeito quase que instantaneamente. Liga-se a receptores pré-sinapticos, neurônios periféricos e sinapses neuro-musculares,. É captada por receptores específicos, levando a um aumento da função dopaminérgica mesolimbica. Há interação dos efeitos hormonais, substâncias psicoativas e neuropeptídeos (dopamina, adrenalina, acetilcolina e vasopressina, catecolaminas, serotonina, prolactina e hormônios hipofisarios) eleva os níveis de ACTH e aumenta a liberação de hormônios pituitários.
Diversos são os fatores envolvidos no estabelecimento da dependência: a nicotina produz efeitos que reforçam o seu uso, como melhora da performance cognitiva e do humor, diminui a ansiedade e ajuda a controlar o peso; a dose de nicotina pode ser controlada pela maneira como se fuma, com um maço o fumante administra nicotina aproximadamente 200 vezes ao dia. Os sintomas de abstinência a nicotina começam em poucas horas, com pico em 24-48 horas, com duração media de 4 semanas. A severidade dos sintomas varia de paciente para paciente. Sintomas: fissura (craving), humor disfórico, insônia ou hipersonia, irritabilidade, ansiedade, dificuldade em se concentrar, inquietação, bradicardia, cefaléia, obstipação intestinal, aumento de apetite. A fissura e a irritabilidade podem perdurar por 6 meses ou mais.
Fatores socioculturais, ambientais comportamentais e psicológicos também estão associados ao fumo
Epidemiologia
O fumo é a causa mais importante de morte e doença previsíveis. É responsável por 20% de todas as mortes nos EUA sendo que 45% dos fumantes morrerão de uma causa induzida pelo fumo. O percentual de fumantes no Brasil é considerado alto quando comparado com outros países da América Latina. Fuma-se mais na região sul, 42% dos habitantes.
(fonte: Ministério da Saúde - Pesquisa Nacional sobre estilo de vida 1988 Falando sobre Tabagismo - 2 edição, 1996 - INCA - Câncer no Brasil dados dos registros de base populacional Rio de Janeiro, 1991.)
Fumar cigarro causa câncer de pulmão, cavidade oral, laringe, bexiga, rins, colo de útero, doença cardiovascular, doença pulmonar crônica obstrutiva, ulcera péptica, distúrbios gastrointestinais e complicações materno-fetais, entre outras. É responsável por 90% dos canceres de pulmão. Fumo passivo causa a morte de milhares de não fumantes e maior morbidade nos filhos e cônjuges de fumantes.
Estudos com gêmeos mostraram que a hereditariedade no hábito de fumar é tão grande quanto a do alcoolismo.
As intervenções para cessar o fumo trazem para a população ganhos com a saúde com gastos relativamente modestos. A longo prazo essas medidas irão reduzir os gastos com a saúde relacionados ao cigarro, liberando recursos econômicos para outras áreas.
O que fazer
Pergunte se o seu paciente está fumando em todas as oportunidades que tiver.
Advirta sempre da necessidade de parar.
De assistência aqueles que querem parar.
Reavalie o que aconteceu com o doente em tentativas anteriores.
Combine uma data para que o paciente pare de fumar.
Identifique os problemas e planeje uma estratégia para lidar com eles.
Estimule o paciente a pensar em pessoas que possam ajudá-lo.
Planeje o que fazer quando houver consumo concomitante de álcool.
Estimule o uso de terapia de reposição de nicotina através dos adesivos ou goma de mascar, fornecendo orientação adequada.
Agende um retorno em uma semana.
A bupropiona ou nortryptilina podem ser utilizadas no tratamento de determinados pacientes.
Encaminhe a um serviço especializado se houver necessidade.
Métodos Disponíveis
Orientação realizada pelo médico: os profissionais da saúde orientam seus pacientes para que deixem de fumar, o que pode ser feito de uma forma breve ou de uma forma mais intensiva. As formas mais intensivas apresentam melhores resultados.
Aconselhamento comportamental individual e em grupo: ajuda os fumantes a deixar o cigarro, não havendo diferenças entre o aconselhamento individual e em grupo.
Material de auto ajuda: muitos fumantes deixam de fumar sozinhos, sendo que material com instruções e informações sobre os efeitos do fumo, e de como deixar de fumar são importantes, mas não apresentam melhor resultado do que a intervenção de um profissional da saúde.
Reposição de nicotina: o objetivo das terapias de reposição e repor a nicotina do cigarro, o que reduz os sintomas de abstinência associados a cessação do fumo. Todas as formas disponíveis no mercado (adesivos, goma de mascar, e em alguns países, os inaladores de nicotina, spray nasal e tabletes sublinguais de nicotina) são efetivas como parte de uma estratégia para cessação do fumo. A reposição de nicotina aumenta em 2 vezes a probabilidade de abandono do fumo. Exceto por motivos de ordem médica, todos os fumantes podem usar a reposição de nicotina. A gravidez e a doença cardiovascular são contra indicações para o seu uso, e o seu emprego nestas situações deve ser avaliado pelo médico.
Ansiolíticos e anti-depressores: o hábito de fumar parece em parte se dever a um déficit de dopamina, serotonina e norepinefrina, e que são aumentadas com o uso de ansiolíticos e anti-depressores. Ansiedade e depressão são sintomas de abstinência a nicotina, e algumas vezes, parar de fumar pode desencadear um quadro depressivo. Há pouco na literatura sobre o emprego dos ansiolíticos. Os anti-depressores, bupropiona e nortriptilina podem ajudar a cessar o fumo. Há evidencias promissoras de que a bupropiona seja mais eficaz do que a reposição simples da nicotina.
Clonidina: foi originalmente utilizada como hipotensor. Atua no sistema nervoso central e pode reduzir os sintomas de abstinência em vários comportamentos de adição, incluindo a nicotina. Apesar do número pequeno de trabalhos, a clonidina parece ser eficaz em promover a cessação do uso do fumo, porém os efeitos colaterais proeminentes limitam seu uso.
Mecamylamina: é um antagonista da nicotina (bloqueia o efeito da nicotina). O seu emprego se deve ao fato de ela bloquear os efeitos recompensadores do uso da nicotina, reduzindo então a necessidade de fumar. Há poucos estudos sobre seu emprego, havendo necessidade de mais estudos para que seu uso possa ser indicado.
Acetato de prata: produz um gosto desagradável quando combinado com cigarros, produzindo um efeito aversivo. O efeito deste agente parece ser menor do que o obtido com a reposição de nicotina. A falta de efeito parece dever-se a dificuldade de adesão ao tratamento por parte dos fumantes.
Lobeline: é um agonista parcial da nicotina, que vem sendo empregada em inúmeros produtos comerciais. Não há evidência a longo prazo de que a Lobeline seja eficaz para a cessação do fumo.
Hipnose: vem sendo difundida como método auxiliar para a cessação do fumo. A hipnose atua nos impulsos enfraquecendo o desejo de fumar e reforçando a vontade de permanecer abstinente. Há falta de estudos bem controlados, porém parece que a hipnose não produz efeito maior do que outras intervenções em 6 meses.
Acupuntura: acredita-se que ela reduza os sintomas de abstinência. Não há evidência clara de que a acupuntura seja eficaz para a cessação do fumo.
Grupos Especiais
Gestantes: o uso de reposição de nicotina está contra indicado, e nos casos em que houver necessidade do seu emprego, deve ser supervisionada pelo médico. A gestante deve receber informação precisa sobre os malefícios do fumo durante a gravidez, assim como acompanhamento intenso para que se mantenha abstinente.
Pacientes internados: intervenção específica para o doente internado aumenta em 5% as chances de o doente deixar de fumar. Ao paciente internado deve ser oferecida ajuda para que ele se mantenha abstinente, inclusive com a reposição de nicotina.
UM MUNDO LIVRE DE TABACO
É necessário que todos os grupos sociais mobilizem-se, de forma esclarecida, contra o tabagismo, para que as gerações futuras possam desfrutar de um mundo menos poluído pelo tabaco. Muito importante nessa luta, são as crianças e os adolescentes, que atuam como fortes agentes de mudança comportamental e social.
Para isto é fundamental que todos participem, informando, protegendo crianças e gestantes da fumaça do cigarro, criando ambientes livres do fumo, incentivando e apoiando o trabalho dos órgãos de saúde e de lideranças do governo na busca de soluções para o plantio alternativo de tabaco, na elaboração de legislações específicas, no desenvolvimento de atividades nas escolas que abordem o tema, etc.
Enfim, todos devem contribuir para que se alcance uma sociedade livre de tabaco.
            www.sespa.pa.gov.br

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