SOCIEDADE DE CONSUMO E PADRÃO DE VIDA


Vivemos em uma sociedade de consumo. Isso significa que todos nós, quase todo o tempo, consumimos coisas. Obviamente, dependendo da extensão da palavra consumo, podemos dizer que todos os animais e plantas do planeta são, de alguma forma, consumidores, apesar de serem produtores também. A idéia de consumo presente neste texto, e normalmente adotada quando nos referimos à sociedade, é o consumo monetário, isto é, o consumo mediante o uso da moeda.
Vivemos, portanto, em uma sociedade de consumo mediado pela moeda. Uma sociedade de trocas, mercantil, também chamada capitalista, por usar o dinheiro, um dos possíveis sinônimos para a palavra capital, como meio primordial de troca. Isto significa que o trabalho produtivo, aquele que importa para a sociedade, é sempre remunerado em dinheiro. Para chegar neste tipo de sociedade uma longa evolução dos processos sociais de produção e troca foi necessário, e a vida nesta nossa sociedade de consumo é fruto de um longo processo de aprendizagem, pelo qual ainda estão passando milhões de pessoas no mundo inteiro.
Quando se pensa numa destas sociedades tradicionais que existem ainda pele planeta, nota-se o quanto o mundo é diferente para eles. Os incentivos aos quais as pessoas reagem podem ser, grosso modo, os mesmo que os nossos: necessidade de água, comida, conforto, poder e sexo sempre foram os grandes motores da sociedade. O que muda é a forma de obtê-los. A nossa sociedade reduziu ou simplificou a maioria destas necessidades à busca de uma única: dinheiro. A quantidade de dinheiro que uma pessoa possui, e mais importante que isso, a quantidade de dinheiro que uma pessoa parece possuir, lhe garante a obtenção de água, comida, conforto além de facilitar a obtenção de poder e conseguir acesso ao sexo. E os meios de comer, beber, adquirir conforto e poder é que se tornaram imensamente sofisticados. E aqui entra a outra questão a tratar no texto: o padrão de vida.
Quais as principais diferenças entre a classe média no Brasil e a classe média nos EUA? É o estilo de vida, os bens que são consumidos ou a quantidade e a qualidade das coisas? Uma pessoa de classe média no Brasil em geral possui uma casa, um ou dois carros, um ou dois filhos, eventualmente uma casa de veraneio, além de uma porção de aparelhos eletrônicos, como computadores, televisões, telefones celulares, fornos de micro-ondas, etc. Nos EUA também. Ambos trabalham mais ou menos os mesmo tempo durante a semana para poder obter o dinheiro necessário para conseguir estas coisas. Talvez algumas crenças e vários hábitos sejam diferentes, mas igualmente participam de alguma atividade religiosa e tem rotinas semanais muito semelhantes. De fato, não há diferenças significativas no estilo de vidas entre as classes médias de ambos os países.
O que difere fundamentalmente o padrão de vida dos americanos e o nosso, é a qualidade e a quantidade do consumo. Assim como nós, os americanos compram casas a prazos longos. A diferença é que suas casas são muito maiores e melhor equipadas que as nossas. Quanto aos automóveis, a diferença é a mesma: automóveis considerados topo de linha no Brasil são a base do mercado nos EUA. Os americanos também comem muito mais do que nós, e principalmente, comem mais produtos industrializados, como sucos, leites especiais, queijos, massas, e alimentos pré-cozidos.
O fato de já termos incorporado grande parte dos hábitos e rotinas dos americanos em nosso cotidiano, nos coloca muito mais próximos deles em várias áreas do que nossas diferenças de renda per capita poderiam supor. Aqui no Brasil, as nossas classes A, B e C, que já compõem a maioria da população, já são plenamente parte de uma classe média que vive o "american way of life". E as classes D e E, cada vez mais, começam a ter estes mesmos hábitos com referência de vida bem sucedida e feliz. Tendo em vista estes pontos, devemos nos preparar para fazer frente ao desafio de levar estas expectativas de consumo a uma população cada vez maior, sem que ocorra a mesma frustração de expectativas que paralisou este processo durante os anos 1980 e parte dos anos 1990.
O vazio da sociedade consumista
Nas minhas reflexões no aprendizado da vida, tenho pensado no consumismo que move o mundo. Li recentemente o livro “Vida Líquida” de Bauman e me chamou a atenção o que a sociedade de consumo influencia na personalidade de pessoas, que vivem a reboque do tempo e do modismo das coisas. Chamo a atenção para o seguinte texto:
A sociedade de consumo tem por base a premissa de satisfazer os desejos humanos de uma forma que nenhuma sociedade do passado pôde realizar ou sonhar. A promessa de satisfação, no entanto, só permanecerá sedutora enquanto o desejo continuar irrealizado; o que é mais importante, enquanto houver uma suspeita de que o desejo não foi plena e totalmente satisfeito. Estabelecer alvos fáceis, garantir a facilidade de acesso a bens adequados aos alvos, assim como a crença na existência de limites objetivos aos desejos "legítimos" e "realistas" - isso seria como a morte anunciada da sociedade de consumo, da indústria de consumo e dos mercados de consumo. A não-satisfação dos desejos e a crença firme e eterna de que cada ato visando a satisfazê-los deixa muito a desejar e pode ser aperfeiçoado - são esses os volantes da economia que tem por alvo o consumidor.
A sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação. Uma forma de causar esse efeito é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem sido alçados ao universo dos desejos do consumidor. Uma outra forma, ainda mais eficaz, no entanto, se esconde da ribalta: o método de satisfazer toda necessidade/desejo/vontade de uma forma que não pode deixar de provocar novas necessidades/desejos/vontades. O que começa como necessidade deve terminar como compulsão ou vício. E é isso que ocorre, já que o impulso de buscar nas lojas, e só nelas, soluções para os problemas e alívio para as dores e a ansiedade é apenas um aspecto do comportamento que não apenas recebe a permissão de se condensar num hábito, mas é avidamente estimulado a fazê-lo.
Todos os seres humanos são e sempre foram consumidores, e nossa preocupação com o consumo não é novidade; decerto precede o advento da variedade "líquida" da modernidade. Seus antecedentes podem ser facilmente identificados em tempos bem distantes do nascimento do consumismo contemporâneo. É, portanto, altamente ineficiente e, no final, equivocado examinar simplesmente a lógica do consumo (sempre uma atividade profundamente individual e solitária, até mesmo quando realizada em conjunto) a fim de compreender o fenômeno do consumidor atual. Em vez disso, é necessário focalizar a verdadeira novidade, que é de natureza basicamente social, e apenas secundariamente psicológica ou comportamental: o consumo individual conduzido no ambiente de uma sociedade de consumidores.
Uma "sociedade de consumidores" não é apenas a soma total dos consumidores, mas uma totalidade, como diria Durkheim, "maior do que a soma das partes". É uma sociedade que (para usar uma antiga noção que já foi popular sob a influência de Althusser) "interpela" seus membros basicamente, ou talvez até exclusivamente, como consumidores; e uma sociedade que julga e avalia seus membros principalmente por suas capacidades e sua conduta relacionadas ao consumo. Dizer "sociedade de consumidores" é dizer mais, muito mais, do que apenas verbalizar a observação trivial de que, tendo considerado agradável o consumo, seus membros gastam a maior parte de seu tempo e de esforços tentando ampliar tais prazeres. É dizer, além disso, que a percepção e o tratamento de praticamente todas as partes do ambiente social e das ações que evocam e estruturam tendem a ser orientados pela "síndrome consumista" de predisposições cognitivas e avaliativas. A "política de vida", que contém a Política com "P" maiúsculo, assim como a natureza das relações interpessoais, tende a ser remodelada à semelhança dos meios e objetos de consumo e segundo as linhas sugeridas pela síndrome consumista.
É interessante pensar nesse vazio que as pessoas tem sem parar para refletir, o que de fato são as suas carências do ponto de vista psicológico e buscar resolver com ajuda pesoterapeutica para que haja uma mudança no padrão comportamental.
BAUMAN, ZYGMUNT - Do Livro "Vida Líquida" - Por: Fátima Barreto
Fonte: www.servicosocial2011unifacs.blogspot.com

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