Fazenda Vertical, agricultura do futuro


A escassez de terras cultiváveis e os danos que a agricultura tradicional causa ao meio ambiente estão fazendo com que produtores e pesquisadores procurem alternativas viáveis para a atividade. A Fazenda Vertical, projeto do Doutor Dickson Despommier, da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, é uma delas. Como o próprio nome diz, trata-se de um projeto que visa criar alimentos em prédios, otimizando espaço e poupando e recuperando o ambiente.
Estudos prevêem que, em 50 anos, baseados na tecnologia atual, serão necessários um bilhão de hectares de terra adicionais para alimentar uma população 9,23 bilhões de pessoas. Hoje em dia são usados mais de 800 milhões de hectares. Além do problema da falta de terra, a agricultura em larga escala devasta grandes ecossistemas como florestas, pântanos, pastos e estuários, causando perda de biodiversidade.
Para o ser humano, a prática agrícola tradicional traz riscos como transmissão de infecções como gripe, febre amarela e dengue; exposição em níveis tóxicos a algumas classes de agroquímicos, como pesticidas e fungicidas; traumas associados ao trabalho no campo, entre outros.
A Fazenda Vertical ajudaria no reflorestamento e na reversão das tendências de mudança do clima global, além de criar um ambiente urbano sustentável, que incentiva a boa saúde dos habitantes, e uma fonte abundante de água potável e alimentos.
Um espaço indoor intensamente cultivado para alimentar uma vida seria de aproximadamente 28m². Baseado nesses cálculos, uma Fazenda Vertical de um quarteirão, com trinta andares, poderia fornecer alimento para atender confortavelmente 10.000 pessoas. Além disso, para se construir a Fazenda ideal, com o maior rendimento por metro quadrado possível, seria necessária uma pesquisa adicional em muitas áreas, como hidrobiologia, engenharia, microbiologia industrial, genética animal e botânica, arquitetura, saúde pública, gerenciamento de lixo, física e planejamento urbano.
Segundo o Dr. Despommier, em seu ensaio, a Fazenda Vertical precisaria de um forte suporte governamental com incentivos ao setor privado, às universidades e governos locais, para que se consolide uma construção barata, uma operação segura e duradoura e independente de subsídios econômicos e ajuda externa. Assim, o professor prevê a construção de Fazendas Verticais onde as pessoas vivem em estado de miséria, o que aliviaria significamente o problema.
Veja mais algumas vantagens da Fazenda Vertical
- Forneceria alimento suficiente, de forma sustentável, para alimentar toda a humanidade num futuro próximo;
- Reciclaria com segurança e eficiência a parcela do lixo orgânico humano e agrícola, produzindo energia através da geração de metano;
- Proveria uma nova e necessária estratégia para a conservação da água potável;
- Aproveitaria espaços urbanos abandonados e não utilizados;
- Diminuiria a incidência de doenças associadas a coliformes fecais.
- Permitiria a produção anual de alimentos sem perda dos rendimentos devido à mudança do clima ou eventos climáticos.
Cidades podem ter fazendas verticais no futuro
Dickson Despommier, professor de saúde pública na Universidade Colúmbia, em Nova York, espera transformar em realidade sua visão de "legumes no céu". O projeto predileto de Despommier é o da "fazenda vertical", conceito que criou em 1999 com os alunos de pós-graduação em sua classe de ecologia médica, o estudo investigou como o meio ambiente e a saúde humana interagem.
A idéia, que já atraiu a atenção de muitos arquitetos nos Estados Unidos e na Europa, nos últimos anos, acaba de conquistar o interesse de outro dos grandes sonhadores quanto ao futuro das grandes cidades: Scott Stringer, o subprefeito de Nova York que governa o burgo de Manhattan.
Quando Stringer ouviu falar do conceito, em junho, disse que imediatamente surgiu em sua mente uma imagem que transformaria a paisagem dos edifícios de Nova York em um "cenário de fazenda". Stringer afirmou em entrevista telefônica que "nós evidentemente não dispomos de grandes espaços vazios, mas em uma cidade como Manhattan, a verdade é que o céu é o limite".
O gabinete de Stringer já está traçando planos "quanto ao que seria necessário para o projeto piloto de uma fazenda vertical", disse ele, e o governo de Manhattan planeja propor ao prefeito Michael Bloomberg a realização de um estudo quanto à viabilidade da idéia, nos próximos dois meses, ele afirmou. "Creio que realmente possamos levar essa idéia adiante", acrescentou. "Podemos obter os recursos necessários".
Despommier estima que custaria entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões criar o protótipo de uma fazenda vertical, mas que o custo de uma das torres agrícolas de 30 andares que ele propõe, cada uma das quais capaz de alimentar 50 mil pessoas, seria da ordem das centenas de milhões de dólares. "Sou visto como uma espécie de excêntrico, porque a idéia é realmente meio maluca", diz Despommier, 68, com uma risada. "Você poderia pensar que estou falando de criaturas mitológicas".
Despommier, cujo nome em francês quer dizer "das macieiras", vem espalhando as sementes de sua idéia radical em aulas, palestras e em seu site. Ele afirma que suas idéias são sustentadas pelas pesquisas sobre vegetais hidropônicos conduzidas pela Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), e que o potencial de usar o sol, o vento e água contaminada da cidade como insumos a torna mais viável. Mas diversos observadores apontam que os sonhos estratosféricos de Despommier precisam voar um pouco mais baixo.
"Por que precisa ser uma torre de 30 andares?", perguntou Jerry Kaufman, professor emérito de planejamento regional e urbano na Universidade do Wisconsin, em Madison. "Por que não podemos ter seis andares? O potencial é inspirador, em termos de conceito, mas acho que ele exagera um pouco quanto aos resultados que poderiam ser atingidos".
Armando Carbonell, diretor do departamento de planejamento e design urbano no Instituto Lincoln de Política da Terra, em Cambridge, Massachusetts, classifica a idéia como "muito provocante". Mas ela requer uma rigorosa análise econômica, acrescentou. "Será que um plantador de tomates na região sul de Manhattan seria capaz de pagar mais pelo terreno do que um banqueiro de investimento interessado em construir um edifício comercial? Minha aposta é que o banqueiro de investimento poderá pagar mais".
Carbonell questiona se uma fazenda vertical pode produzir a economia de energia que os proponentes da idéia alegam. "Existe um dispêndio de energia incorporado ao concreto, ao aço e ao processo de construção", ele acrescentou, afirmando que o preço de um terreno na cidade de qualquer maneira mais que compensaria os benefícios derivados de não ser preciso transportar produtos cultivados em áreas mais distantes. "Acredito que essa relação de custo se sustentará mesmo que os custos do transporte continuem a subir e que os custos das emissões de carbono venham a ser incorporados como insumos ao sistema econômico".
Algumas das críticas apontam para questões bastante úteis. O humorista Stephen Colbert declarou, em tom jocoso, que fazendas verticais eram um projeto elitista, quando entrevistou Despommier em seu programa Colbert Report, em junho, uma visita que levou a contagem de visitantes ao site do professor a subir dos habituais 400 ao dia para mais de 400 mil no dia seguinte ao programa. Despommier concorda em que será preciso pesquisar muito mais, e classifica os cálculos quanto à economia de energia que seus alunos fizeram quanto às fazendas verticais como "um pouquinho otimistas". Ele acrescentou que "sou um biólogo velejando em águas muito profundas, agora".
"Caso eu viesse a me estabelecer como uma autoridade de certificação de fazendas verticais, a primeira coisa que eu levaria em conta seria a segurança", ele afirma. "Como impedir que as safras sejam invadidas por insetos e bactérias?" Ele diz que cultivar alimentos em arranha-céus nos quais o clima possa ser controlado também serviria para protegê-los contra as geadas e outros riscos relacionados ao clima, garantindo alimentos de melhor qualidade para abastecer a cidade, e sem o uso de pesticidas ou fertilizantes químicos.
As imagens dos arquitetos sobre fazendas verticais - combinando os Jardins Suspensos da Babilônia e a Biosfera 2, a um modo meio SimCity - parecem estar despertando interesse. "O projeto também precisa impressionar em termos de arquitetura, porque é necessário que funcione igualmente no terreno do marketing social", disse Despommier. "Meu desejo é que as pessoas digam que querem uma torre dessas em sua rua".
Augustin Rosenstiehl, um arquiteto francês que trabalhou com Despommier para projetar um "arranha-céu vivo" modelo, disse acreditar que qualquer fazenda vertical tenha de se adaptar a um lugar específico. Rosenstiehl, principal projetista do escritório de arquitetura Atelier SOA, em Paris, disse que "não podemos realizar um projeto sem saber onde, por que e como vamos cultivar. Por exemplo, em Paris seria estúpido cultivar trigo, porque ele é plantado em torno da cidade, e é trigo de boa qualidade. Não há razão para construir torres caras demais".
Fonte: www.portalhidroponia.com.br e The New York Times




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