Estamos trocando a realidade pela ficção
Quanto mais são as razões para
agirmos com urgência no combate às mudanças climáticas, mais absurdos
contribuem para impedir seu avanço.
Desde a Conferência Climática de
Copenhague, a COP 15 em 2009, muito se discutiu e passo a passo foi se chegando
ao consenso do perigo representado pelas mudanças climáticas até se chegar ao
Acordo de Paris estabelecido em 2015. O documento contou com a chancela de 195
países e tudo fazia crer que entraríamos num processo sério e efetivo no
combate ao aquecimento global.
Eis que nacionalismos limítrofes,
comandados pelo governo norte-americano de Trump passou a questionar o acordo e
até mesmo a existência irrefutável do aquecimento do planeta. Agora se junta a
ele o governo brasileiro do presidente eleito Jair Bolsonaro em que muitos
classificam as mudanças climáticas como sendo um complô do marxismo globalista.
Assim como o presidente americano
disse não acreditar no relatório preparado pelo seu próprio governo quanto aos
perigos das mudanças climáticas para a economia e a segurança dos Estados
Unidos, nossas novas lideranças tem feito a incrível troca da ciência e dos
fatos pelas opiniões e crenças. Portanto, nada mais natural do que o novo
governo ter contribuído para cancelar a realização da COP 25 no Brasil em 2019.
Sem dúvida, uma maneira de manter a coerência de um pensamento incoerente,
ignorante e perigoso para a humanidade, mas que faz todo o sentido pelo andar
da carruagem.
Não é à toa que desde a semana
passada em Katowice, na Polônia palco da COP 24 estar registrando alguns
dissabores para os que trabalham pelo sério e responsável enfrentamento das
mudanças climáticas.
O Renascimento do Carvão
Eis que Estados Unidos e a Arábia
Saudita usaram Conferência Climática na Polônia para elogiar e reforçar o uso
do carvão como, vejam bem, “fonte limpa de energia”, um verdadeiro escárnio às
informações que cada vez mais colocam os combustíveis fósseis como os grandes
vilões do aquecimento global.
O relatório divulgado em outubro
pelo IPCC – sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas – concluiu que será necessário reduzir em 50% as emissões de gases
de efeito estufa até 2030 tendo como base as emissões de 2010 com o objetivo de
conter o aumento da temperatura média do planeta. Mesmo assim durante a COP na
Polônia, Estados Unidos, Arábia Saudita, Rússia e Kuwait tem feito oposição à
aprovação do relatório que precisa da assinatura de todos os países
participantes da cúpula.
Apesar das severas críticas que
tem sido feitas a esses grandes emissores, não parece muito provável que eles
mudem de posição.
Mesmo diante de tragédias
causadas pelos fenômenos climáticos extremos, uma das terríveis consequências
do aquecimento global e da opinião de cientistas e especialistas da própria
Casa Branca, Trump não parece capaz de alterar sua crença. Seria muito
engraçado se não fosse trágico, uma ironia feita pelo ex-prefeito de Nova York,
Michael Bloomberg, ao dizer que “O governo Trump continua promovendo o carvão
em uma cúpula sobre o clima da ONU. O que vai fazer depois? Ignorar a ciência
sobre o tabaco e promovê-lo em uma conferência mundial sobre o câncer?”, bem
diante dos absurdos que temos visto é melhor não duvidar.
Assim como nos Estados Unidos, o
Brasil, país com a maior biodiversidade e floresta tropical do mundo, as
opiniões e crenças passam agora a prevalecer sobre a ciência e os fatos.
Afinal, parece mais confortável para os líderes desses países “achar” alguma
coisa do que discutir com seriedade temas mais complexos.
Desse modo as teorias conspiratórias
imaginadas por esses líderes colocam em risco o futuro do planeta e de todos
nós que aqui vivemos. Se mesmo com todos de acordo o caminho não se mostrava
muito fácil, o obscurantismo torna tudo mais difícil e incerto.
Que o céu nos ajude!!!
Fonte: Reinaldo Canto - Envolverde
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