Emissões de metano crescem e ameaçam luta contra aquecimento global
O aumento nos últimos 10 anos das
emissões de metano, potente gás do efeito estufa, ameaça tornar a luta contra o
aquecimento global ainda mais difícil, disseram pesquisadores nesta
segunda-feira (12 dezembro 2016).
“Deve-se tentar quantificar e
reduzir as emissões de metano urgentemente”, afirmaram em um editorial esses
pesquisadores, que coordenaram um balanço mundial realizado por 81 cientistas
de 15 países.
Depois de uma leve diminuição
entre 2000 e 2006, a concentração de metano na atmosfera aumentou 10 vezes mais
rapidamente na década seguinte, afirma o estudo, publicado na revista
científica Earth System Science Data.
“Manter o aquecimento abaixo dos
2°C já é um desafio considerável”, afirmaram, em referência ao objetivo da
comunidade internacional estabelecido no final de 2015 no Acordo de Paris.
“Tal objetivo se tornará cada vez
mais difícil se as emissões de metano não forem reduzidas forte e rapidamente”,
alertaram.
Os pesquisadores trabalham com
várias hipóteses para explicar este aumento, como a exploração dos combustíveis
fósseis ou, mais provavelmente, as atividades agrícolas.
As concentrações aumentaram cada
vez mais rápido desde 2007, com uma forte aceleração em 2014 e 2015.
A tal ponto que nenhum dos
cenários intermediários do último relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), a autoridade científica de referência sobre o
clima, mostrou esta evolução.
“A velocidade de aumento se
aproxima de maneira preocupante ao cenário mais pessimista”, ressalta Marielle
Saunois, da Universidade de Versailles Saint Quentin, em uma coletiva de
imprensa em Paris.
O metano, o segundo principal gás
de efeito estufa relacionado com as atividades humanas, depois do dióxido de
carbono (CO2), contribui com 20% do aquecimento atual.
Até agora, os esforços contra as
mudanças climáticas se concentraram no CO2, emitido em grande parte a partir de
combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), e que representa 70% dos gases de
efeito estufa.
No entanto, o metano é 28 vezes
mais poderoso do que o CO2, embora permaneça menos tempo no ar, cerca de 10
anos.
Grande potencial de ação – O metano é mais difícil de se controlar do que o
CO2, porque está mais difuso e provém em grande parte de fontes naturais, como
zonas úmidas e formações geológicas.
No entanto, de acordo com o
estudo, 60% das emissões de metano estão vinculadas às atividades humanas,
sendo que 36% delas procedem da agricultura, da pecuária e do tratamento de
resíduos.
Os pesquisadores priorizam essa
hipótese para explicar o aumento das emissões. Segundo a FAO, a Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o número de cabeças de gado
passou de 1,3 bilhão em 1994 para a 1,5 bilhão 20 anos depois.
Mas eles também não excluem o
papel dos combustíveis fósseis neste aumento.
No total, 21% das emissões de
metano se devem à exploração de carvão, petróleo e gás, dado que, desde sua
extração até suas redes de distribuição, os vazamentos de metano são muito frequentes.
“A partir dos anos 2000, há uma
grande exploração de carvão na China, e a exploração de gás nos Estados Unidos
também está em aumento”, afirma Saunois.
Por outro lado, o permafrost, o
solo congelado das altas latitudes, também pode liberar metano quando se funde.
Apesar deste ser um dos grandes
temores dos climatologistas, nesta fase ainda “não vemos um aumento anormal das
concentrações”, diz o pesquisador e coautor Philippe Bousquet, acrescentando
que estas “emissões podem aumentar com o tempo, mas isso ocorrerá ao longo de
décadas”.
Em relação ao forte aumento das
emissões nestes dois últimos anos, os cientistas não encontram explicações.
“Pode ser de origem natural”, diz
Bousquet. “Mas se se prolonga por mais do que três ou quatro anos, seria
necessariamente humano”, acrescenta.
Embora não se saiba a origem
exata, pode-se adotar medidas para reduzir ou capturar metano: metanizadores
nas fazendas, modificação dos protocolos de irrigação dos arrozais, evitar os
vazamentos, etc.
“Podemos reduzir estas emissões
mais facilmente, de maneira menos coercitiva, do que as de CO2, apoiando ao
mesmo tempo a inovação e o emprego. Portanto, não devemos renunciar a isto”,
insiste Philippe Bousquet.
Fonte: G1
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