Desmistificando o Cadastro Ambiental Rural
O Cadastro Ambiental Rural está
gerando dúvidas agora que os mapas mostrando as propriedades cadastradas estão
abertos na internet. Uma delas é sobre a própria legalidade de deixar esses
mapas acessíveis a todos.
A transparência é prevista por lei – mais
especificamente, pelo Código Florestal. Quando os ruralistas no Congresso
alteraram essa lei, em 2012, as multas por desmatamento ilegal praticado antes
de 2008 puderam ser anistiadas. A mudança reduziu em 50% a vegetação nativa por
restaurar. Na época, o CAR foi criado justamente para monitorar o cumprimento
da lei, para que os próprios produtores pudessem se beneficiar da anistia. O
texto do código deixa claro que se trata de um registro público.
“O novo Código Florestal trouxe
alguns incentivos, que ainda precisam ser regulamentados. para beneficiar os
produtores que buscam a regularização. Mas só será possível acessar tais
benefícios com um cadastro efetivo e transparente”, diz Adriana Ramos,
coordenadora do Programa de Política e Direito socioambiental do Instituto
Socioambiental.
Outra dúvida é se essa
transparência viola a privacidade dos produtores. Isso não acontece porque
informações pessoais continuam inacessíveis ao público em quase todos os
Estados. Mesmo dados como CPF e número de matrícula da propriedade podem e
devem ser abertos a todos, como ocorre no Estado do Pará. Não se trata de um
monitoramento em tempo real das atividades em curso dentro das propriedades,
nem de imagens do interior das instalações de uma propriedade. Por serem imagens
de satélite, são muito semelhantes ao que já está disponível, por exemplo, pelo
Google Earth.
O conjunto de dados do CAR é
estratégico por constituir uma base de dados para o controle, monitoramento e
combate ao desmatamento. Mas não revelam qualquer informação estratégica para a
concorrência, como também se afirmou nos últimos dias. Pelo contrário: o CAR
facilita a vida de quem já opera em cadeias rastreadas, como é o caso dos
milhares de produtores rurais que já são monitorados pelas grandes indústrias
alimentícias e empresas de commodities, preocupadas em garantir a origem do
produto que compram.
Apenas aqueles que desmatam não
querem que o cadastro seja acessível ao mercado. Mas, para quem cumpre a lei, o
cadastro traz justiça: ele separa o joio do trigo.
Fonte: Envolverde
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