Um só mundo e um só oceano
Os países ricos e pobres estão interligados como nunca antes
pela economia, o comércio, as correntes migratórias e por um corpo de água que
cobre 70% da superfície da Terra, do qual depende nossa própria sobrevivência.
Do mesmo modo que só existe um mundo, também há apenas um oceano. Mas, o oceano
está morrendo.
Os sinais de perigo não se fazem esperar: a) vazamentos de
petróleo nas costas espanholas, lixo sanitário nas praias de Long Island Sound,
nos Estados Unidos; b) morte de golfinhos e baleias ao longo da costa do Estado
da Califórnia, nos Estados Unidos; c) um terço dos recifes de corais estão
degradados, sem possibilidades de recuperação, e outro terço em risco iminente;
d) noventa por cento dos peixes predadores oceânicos, como o atum, o tubarão ou
o bacalhau, já estão se extinguindo; e) alarme sobre potenciais fiscos à saúde
humana provenientes de substâncias químicas cancerígenas presentes no salmão de
criadouro; etc.
A pesca indiscriminada está matando o oceano. A revolução
tecnológica que tornou possível a captura de volumes cada vez maiores de
pescado, junto com a exploração populacional dos litorais, os subsídios às
frotas pesqueiras nos países desenvolvidos e um incessante aumento da demanda
por produtos do mar parecem ter se combinado de tal forma que geraram uma
ameaça global de consequências imprevisíveis para futuras gerações.
A incessante expansão das frotas pesqueiras dos países
ricos, apoiadas por elevados subsídios da ordem de US$ 15 bilhões anuais,
causou a devastação das espécies. A pesca ilegal está aumentando, a
regulamentação do setor pesqueiro é ineficiente e os pescadores pobres pagam
pelas consequências.
A demanda continua aumentando devido a um aumento da renda,
principalmente nos países desenvolvidos, mas também nos países em
desenvolvimento. O consumo de pescado duplicou nos últimos 30 anos, passando de
45 milhões para cem milhões de toneladas anuais, e estima-se que até 2020
chegará a 28 milhões de toneladas. As redes de superexploração pesqueira
chegaram às profundezas dos belos, mas frágeis, recifes de corais, em busca de
exóticas espécies em risco de extinção, que, apesar disso, são oferecidas em
luxuosos restaurantes em numerosas cidades.
Quase a metade da população mundial, cerca de três bilhões
de pessoas, vive a não mais de 60 milhas do litoral. Esta concentração e as
atividades de construção causam um aumento da poluição e destruição do hábitat
marinho. O esgoto sem tratamento e os produtos químicos estão causando a
devastação de estuários como a Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos, ou
criando verdadeiras zonas mortas nas proximidades do Golfo do México. A isto se
soma o impacto da mudança climática devido à atividade humana, que já está
ocasionando perigosos impactos nos ecossistemas marinhos. Por causa dos fenômenos
associados à mudança climática, verifica-se surgimento de enfermidades.
Entretanto, ainda há espaço para a esperança. Em 2002, a
Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável de Johanesburg fez um chamado à
comunidade internacional para propor objetivos ambiciosos, embora alcançáveis,
como a recuperação, até 2015, de existências de peixes até atingir níveis de
sustentabilidade. Agora, trata-se de impulsionar, na prática, as ações que nos
levem a esse resultado. Os países desenvolvidos devem liderar este processo.
Como na agricultura, esses países devem ser os primeiros a eliminar os nocivos
subsídios e outras políticas protecionistas que conduzem à pesca
indiscriminada.
Alguns países estão mostrando que se pode progredir na
direção correta. A redução do excesso de capacidade pesqueira no Chile e a
recuperação de licenças cedidas a estrangeiros para favorecer frotas nacionais
sujeitas a melhores controles na Namíbia são dois claros exemplos que levam à
restauração de existências básicas de peixes.
O Banco Mundial, junto a sócios como o Fundo Global para o
Meio Ambiente (GEF), a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a
Alimentação (FAO) e o Fundo de Conservação da Vida Silvestre (WWF), entre
outros, está trabalhando em um novo enfoque em relação ao oceano, que começa na
linha divisória das águas dos rios e continua até as zonas costeiras e o mar.
Somente se for dada prioridade às estreitas ligações entre terra e água, entre
saúde humana e oceânica, entre manejo sustentável e benefícios renováveis, nos
converteremos em promotores responsáveis do Planeta Azul do qual depende nossa
vida e o futuro das próximas gerações.
Fonte: Ian Johnson - Vice-presidente de Desenvolvimento
Sustentável do Banco Mundial
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