Manejo de pragas e produção orgânica são contrapontos ao uso de agrotóxicos
A produção orgânica é o componente mais importante para ser
utilizado como contraponto aos agrotóxicos no Brasil, na avaliação do professor
Carlos Hugo Rocha, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná,
membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) no Paraná mostram que a adoção do chamado Manejo Integrado de Pragas
pode reduzir em até 50% o uso de agrotóxicos na agricultura. A mesma
metodologia tem sido usada em outras regiões do Brasil e em outros países,
segundo Rocha.
“O conhecimento acadêmico para isso já existe e ele vem
sendo aprimorado por pesquisadores em diversas universidades no país”. Segundo
ele, já há nas faculdades de agronomia conhecimento consolidado sobre o manejo
de pragas como referencial para a redução do uso de agrotóxicos no dia a dia da
agricultura brasileira.
No entanto, segundo Rocha, o método esbarra nos interesses
econômicos das empresas que vendem produtos agroquímicos. Os técnicos dessas
empresas têm o trabalho e o salário atrelados à venda dos defensivos e exercem
muita influência nas decisões dos agricultores sobre a produção, o que faz com
que a redução do uso de agrotóxicos seja um dos principais desafios da
agricultura nacional.
No Paraná, por exemplo, o total de produtos agroquímicos
vendidos alcançou 10 quilos por habitante, por ano, em 2011. “Esse é um número
extremamente elevado quando a gente compara isso com qualquer outra região do
Brasil e do mundo. São dados bastante preocupantes”, disse o professor à
Agência Brasil. Daí a busca de alternativas para o controle de agrotóxicos ser
fundamental para a saúde dos ecossistemas em geral, incluindo o solo, a vida
silvestre, os mananciais de água e também para a saúde da população, apontou
Rocha. “Esses produtos são perigosos, entram nas cadeias alimentares e isso
afeta a saúde da população brasileira em geral”.
Agricultura orgânica
De acordo com o especialista, as propriedades que trabalham
com agricultura orgânica não usam, por princípio, produtos agrotóxicos. Os
agricultores conseguiram desenvolver métodos adaptados de cultivo no qual a
presença da vegetação dos ecossistemas naturais se mescla à paisagem agrícola e
o manejo das culturas e do solo é feito de maneira mais harmônica com a
natureza, o que evita o aparecimento de pragas. Quando elas surgem, são
controladas naturalmente pelo próprio meio ou por recursos não tóxicos.
Rocha avalia que a transição de uma agricultura altamente
contaminante para o método orgânico também está entre os desafios da produção
brasileira. Segundo ele, é crescente o número de agricultores que estão
partindo para esse sistema de produção, com predomínio de pequenos
proprietários, embora a mudança também em áreas mais extensas, por exemplo, em
plantações de cana-de-açúcar em São Paulo, que são cultivadas de maneira
orgânica. “É crescente e é potencial”.
Na Dinamarca, o governo tem a meta de transformar 100% de
sua agricultura em orgânica. Na Holanda, mesmo a agricultura convencional tem
baixo uso de produtos químicos. Além do manejo integrado de pragas, as medidas
de legislação ajudam nessa transição, observou Rocha. Por exemplo, na Holanda,
que é o maior exportador de batatas semente do mundo, há uma lei que obriga o
agricultor a fazer rotação de culturas. “Só pode plantar batatas de quatro em
quatro anos porque, se plantar seguidamente, acaba infestando o seu solo e de
toda a região por conta disso”, explicou.
No Paraná, está em discussão a necessidade de os plantadores
de soja adotarem o regime de rotação de culturas. O uso de agrotóxicos nas duas
safras anuais de soja favorece o aparecimento de mais pragas e mais doenças
devido à não adoção da rotação de culturas. No estado, 90% das propriedades são
de pequeno porte. Pesquisa feita pela UEPG mostra o papel dessas propriedades
para a proteção da floresta e, ao mesmo tempo, para a prestação de serviços
ambientais para a sociedade, como produção de água, proteção da biodiversidade,
proteção contra erosão e estabilidade das margens.
A UEPG está apoiando a transformação dessas propriedades
familiares em propriedades orgânicas. Das 1,4 mil propriedades orgânicas
certificadas no estado, mais de 300 tiveram suporte do programa de apoio à
certificação da universidade, que combina a adequação ambiental, proteção de
rios e nascentes e conservação de solos ao apoio para o agricultor levar sua
propriedade de um sistema intensivo para um sistema ecológico de produção.
Fonte: Agência Brasil
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