Responsabilidade Social - Uma alavanca para sustentabilidade Parte 3
Responsabilidade
social no âmbito internacional
Destacam-se, no âmbito
internacional, as normas BS 8800 e OHSAS 18001, que tratam de segurança e saúde
no ambiente de trabalho. Além dessas, existem as normas AA 1000 e Social
Accountability 8000 (SA 8000), com foco na responsabilidade social corporativa.
Mesmo ainda pouco conhecida no Brasil, a norma SA 8000 merece uma atenção
especial, entre outros motivos, pelo fato de que a obtenção e manutenção desse
certificado prevê o envolvimento dos trabalhadores da empresa, bem como a
participação de ONGs e sindicatos.
Fundamentalmente, a Social
Accountability 8000 visa aprimorar o bem-estar e as condições de trabalho no
ambiente corporativo, a partir do desenvolvimento de um sistema de verificação
que deve garantir o cumprimento das exigências contidas na norma e a contínua
conformidade com os padrões estabelecidos. Seus requisitos estão baseados nas
declarações internacionais de direitos humanos, na defesa dos direitos da
criança e nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para
isso, a SA 8000 apresenta-se como um sistema de auditoria similar à
certificação ISO 9000, que atualmente já é apresentada por mais de 300 mil
empresas em todo o mundo.
Criada em 1997 e desenvolvida por
um conselho internacional que reúne empresários, ONGs e organizações sindicais,
a SA 8000 quer encorajar a participação de todos os setores da sociedade na
melhoria das condições de trabalho e de vida no ambiente corporativo, eliminar
o trabalho forçado e acabar com a exploração do trabalho infantil. Além de ser
uma questão ética em si, garantir boas e dignas condições de trabalho tornou-se
fundamental no atual mundo dos negócios. Por um lado, contribui para o sucesso
num mercado cada vez mais competitivo e globalizado; por outro, faz parte da
construção de uma sociedade mais justa e fraterna para todos.
Enfim, outras conquistas
empresarias, como as normas ISO e qualidade ambiental, tornam-se um aspecto
bastante expressivo e mostram o empenho empresarial em contribuir para uma
sociedade com qualidade de vida melhor para todos.
Responsabilidade
social e ambiental
A gestão ambiental e da
responsabilidade social, para um desenvolvimento que seja sustentável
econômica, social e ecologicamente, precisa contar com executivos e
profissionais regras de decisão estruturadas e demais conhecimentos sistêmicos
(sistema) exigidos no contexto em que se inserem.
O desenvolvimento econômico e o
meio ambiente estão intimamente ligados. Só é inteligente o uso de recursos
naturais para o desenvolvimento caso haja parcimônia e responsabilidade no uso
dos referidos recursos. Do contrário, a degradação e o caos serão inevitáveis.
A ordem é a busca do desenvolvimento sustentável, que em três critérios
fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente: equidade social, prudência
ecológica e eficiência econômica.
Os novos tempos, caracterizam-se
por uma rígida postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com
organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado e que
atuem de forma ecologicamente responsável.
A melhoria das condições de vida,
passa obrigatoriamente por um conjunto de ações que transcende ao importante
item de preservação ambiental e se expande para a melhoria das condições de
trabalho, assistência médica e social, além de incentivo às atividades
culturais, artísticas, bem como à preservação, reforma e manutenção de bens
públicos e religiosos.
A questão ambiental está se
tornando cada vez mais matéria obrigatória das agendas dos executivos. A
internacionalização dos padrões de qualidade ambiental descrito na série ISO
14000, a globalização dos negócios, a conscientização crescente dos atuais
consumidores e a disseminação da educação ambiental nas escolas permitem
antever que a exigência futura que farão os consumidores em relação à
preservação do meio ambiente e à qualidade de vida deverá intensificar-se.
Neste contexto, as organizações
deverão incorporar a variável ambiental no aspecto de seus cenários e na tomada
de decisão, mantendo com isso uma postura responsável de respeito à questão
ambiental. Empresas experientes identificam resultados econômicos e resultados
estratégicos do engajamento da organização na causa ambiental. Estes resultados
não se viabilizam de imediato, há necessidade de que sejam corretamente
planejados e organizados todos os passos para a interiorização da variável ambiental
na organização para que ela possa atingir o conceito de excelência ambiental,
trazendo com isso vantagem competitiva.
Na informação sobre o meio
ambiente, deve-se incluir a Contabilidade, porque, na atualidade, o meio
ambiente é um fator de risco e de competitividade de primeira ordem. A não
inclusão dos custos e obrigações ambientais distorcerá tanto a situação
patrimonial como a situação financeira e os resultados da empresa.
A
responsabilidade ambiental da empresa
Ecologia e empresa eram
considerados dois conceitos e realidades inconexas. A ecologia é a parte da
biologia que estuda a relação entre os organismos vivos e seu ambiente. Dessa
forma, é entendida como uma ciência específica dos naturalistas, distanciada da
visão da Ciência Econômica e Empresarial. Para a empresa, o meio ambiente que
estuda ecologia constitui simplesmente o suporte físico que fornece à empresa
os recursos necessários para desenvolver sua atividade produtiva e o receptor
de resíduos que se geram.
Alguns setores já assumiram tais
compromissos com o novo modelo de desenvolvimento, ao incorporarem, nos modelos
de gestão, a dimensão ambiental. A gestão de qualidade empresarial passa pela
obrigatoriedade de que sejam implantados sistemas organizacionais e de produção
que valorizem os bens naturais, as fontes de matérias-primas, as
potencialidades do quadro humano criativo, as comunidades locais e que devem
iniciar o novo ciclo, onde a cultura do descartável e do desperdício seja coisa
do passado. Atividades de reciclagem, incentivo à diminuição do consumo,
controle de resíduo, capacitação permanente dos quadros profissionais, em
diferentes níveis e escalas de conhecimento, fomento ao trabalho em equipe e às
ações criativas são desafios-chave neste novo cenário.
A nova consciência ambiental,
surgida no bojo das transformações culturais que ocorreram nas décadas de 60 e
70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente como um dos princípios
fundamentais do homem moderno. Nos anos 80, os gastos com proteção ambiental
começaram a ser vistos pelas empresas líderes não primordialmente como custos,
mas como investimentos no futuro e, paradoxalmente, como vantagem competitiva.
A inclusão da proteção do
ambiente entre os objetivos da organização moderna amplia substancialmente todo
o conceito de administração. Administradores, executivos e empresários
introduziram em suas empresas programas de reciclagem, medidas para poupar
energia e outras inovações ecológicas. Essas práticas difundiram-se rapidamente
e logo vários pioneiros dos negócios desenvolveram sistemas abrangentes de
administração de cunho ecológico.
Para se entender a relação entre
a empresa e o meio ambiente tem que se aceitar, como estabelece a teoria de
sistemas, que a empresa é um sistema aberto. Sem dúvida nenhuma, as
interpretações tradicionais da teoria da empresa como sistema tem incorrido em
uma certa visão parcial dos efeitos da empresa e em seu entorno.
A empresa é um sistema aberto
porque está formado por um conjunto de elementos relacionados entre si, porque
gera bens e serviços, empregos, dividendos, porém, também consome recursos
naturais escassos e gera contaminação e resíduos. Por isto é necessário que a
economia da empresa defina uma visão mais ampla da empresa como um sistema
aberto.
Neste sentido, é possível que os
investidores e acionistas usem cada vez mais a sustentabilidade ecológica, no
lugar da estrita rentabilidade, como critério para avaliar o posicionamento
estratégico de longo prazo das empresas.
Empresa e
sociedade: a responsabilidade social corporativa
Na sociedade de mercado, a
empresa é a unidade básica de organização econômica. As empresas são o motor
central do desenvolvimento econômico e devem ser, também, um motor vital do
desenvolvimento sustentável. Para isto, é imprescindível que elas definam
adequadamente sua relação com a sociedade e com o meio ambiente.
O conceito que melhor define essa
relação é o de Responsabilidade Social Corporativa – Corporate Social
Responsability (CSR) – definido pela World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD) como: “a decisão da empresa de contribuir ao
desenvolvimento sustentável, trabalhando com seus empregados, suas famílias e a
comunidade local, assim como com a sociedade em seu conjunto, para melhorar sua
qualidade de vida”. A responsabilidade social faz com que a “empresa
sustentável” se converta em peça chave na arquitetura do desenvolvimento
sustentável.
As empresas hoje são agentes
transformadores que exercem uma influência muito grande sobre os recursos
humanos, a sociedade e o meio ambiente. Neste sentido, vários projetos são
criados, atingindo principalmente os seus funcionários e em algumas vezes seus
dependentes e o público externo, contemplando a comunidade a sua volta ou a
sociedade como um todo. O grande problema é que não se realiza um gerenciamento
correto a fim de saber qual o retorno para a empresa.
Posto isto, várias normas,
diretrizes e padrões foram criados, como a Norma AA 1000, a SA 8000 e a GRI,
contribuindo para criar um modelo de visão sobre as práticas de
responsabilidade social e empresarial e sua gestão de desempenho. No Brasil,
temos o Instituto Ethos, que é uma iniciativa de padronização, além de
apresentar o modelo do Balanço Social proposto pelo IBASE.
Na União Européia, temos o Livro
Verde que divide as áreas de conteúdo da Responsabilidade Social Corporativa em
dois grandes blocos, sendo que o primeiro é relativo a aspectos internos e o
segundo a aspectos externos.
Na dimensão interna, ao nível da
empresa, as práticas socialmente responsáveis implicam, fundamentalmente, os
trabalhadores e prendem-se em questões como o investimento no capital humano,
na saúde, na segurança e na gestão da mudança, enquanto as práticas
ambientalmente responsáveis se relacionam sobretudo com a gestão dos recursos
naturais explorados no processo de produção. Estes aspectos possibilitam a
gestão da mudança e a conciliação do desenvolvimento social com uma
competitividade reforçada.
Quanto à dimensão externa, a
responsabilidade social de uma empresa ultrapassa a esfera da própria empresa e
se estende à comunidade local, envolvendo, para além dos trabalhadores e
acionistas, um vasto espectro de outras partes interessadas: parceiros
comerciais e fornecedores, clientes, autoridades públicas e ONG que exercem a
sua atividade junto das comunidades locais ou no domínio do ambiente.
Encerrando
o assunto
A preocupação com o meio ambiente
tem apresentado uma dinâmica diferenciada nas organizações e nas nações nas
quais estas se encontram. O mercado não mais aceita o descaso no tratamento dos
recursos naturais. Os consumidores estão interessados em produtos limpos. A
legislação torna-se mais rígida, imputando sanções aos infratores, obrigando as
empresas a encarar com seriedade e responsabilidade a variável ambiental em sua
estratégia operacional.
Os grandes problemas que emergem
da relação da sociedade com o meio ambiente são densos, complexos e altamente
inter-relacionados e, portanto, para serem entendidos e compreendidos nas
proximidades de sua totalidade, precisam ser observados numa ótica mais ampla.
Adequar-se às exigências
ambientais dos mercados, governos e sociedade, apesar de levar a empresa a
despender um montante considerável, traz benefícios financeiros e vantagens
competitivas.
A responsabilidade social não é
um modismo e sim uma realidade no contexto empresarial, que acarreta alterações
gradativas de comportamentos e de valores nas organizações, devendo estar
presente nas decisões de seus administradores e balizar seu relacionamento com a
sociedade.
Posto isto, verifica-se que a
sociedade é que dá permissão para a continuidade da empresa. Os detentores de
recursos não querem arriscar indefinidamente seus patrimônios em companhias que
se recusem a tomar medidas preventivas na área social e ambiental.
Fonte: Maria Elisabeth Pereira Kraemer
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