Responsabilidade Social - Uma alavanca para sustentabilidade Parte 2
Histórico
da responsabilidade social
Tornou-se evidente em 1919, a
questão da responsabilidade corporativa com o julgamento na Justiça americana
do caso de Henry Ford, presidente acionista majoritário da Ford Motor Company,
e seu grupo de acionistas liderados por John e Horace Dodge, que contestavam a
ideia de Ford. Em 1916, argumentando a realização de objetos sociais, Ford
decidiu não distribuir parte dos dividendos aos acionistas e investiu na
capacidade de produção, no aumento de salários e em fundo de reserva para
diminuição esperada de receitas devido à redução dos preços dos carros. É
lógico que a Suprema Corte decidiu a favor de Dodge, entendendo que as
corporações existem para o benefício de seus acionistas e que os diretores
precisam garantir o lucro, não podendo usá-lo para outros fins.
A ideia de que a empresa deveria
responder apenas aos seus acionistas começou a receber críticas durante a
Segunda Guerra Mundial. Nesta época, diversas modificações aconteceram nos
Estados Unidos.
Em 1953, outro fato trouxe a
público a discussão sobre a inserção da empresa na sociedade e suas
responsabilidades: o caso A P. Smith Manufacturing Company versus seus
acionistas, que contestavam a doação de recursos financeiros à Universidade de
Princeton. Nesse período, a Justiça estabeleceu a lei da filantropia
corporativa, determinando que uma corporação poderia promover o desenvolvimento
social.
Nos anos 60, autores europeus se
destacavam, discutindo problemas sociais e suas possíveis soluções, e nos Estados
Unidos as empresas já se preocupavam com a questão ambiental e em divulgar suas
atividades no campo social.
Já na década de 70, começou a
preocupação com o como e quando a empresa deveria responder por suas obrigações
sociais. Nessa época, a demonstração para a sociedade das ações empresariais
tornou-se extremamente importante.
A França foi o primeiro país do
mundo a ter uma lei que obriga as empresas que tenham mais de 300 funcionários
a elaborar e publicar o Balanço Social. Seu objetivo principal prende-se a
informar ao pessoal o clima social na empresa, a evolução do efetivo; em suma,
estabelecer as performances da empresa no domínio social. Este balanço, segundo
o autor, é bastante paternalista, pois exclui os fatos econômicos dos fatos
sociais.
Na década de 90, com uma maior
participação de autores na questão da responsabilidade social, entrou em cena a
discussão sobre os temas ética e moral nas empresas, o que contribui de modo
significativo para a conceituação de responsabilidade social.
Responsabilidade
social no Brasil
Em 1960, foi constituída a
Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), com sede em São Paulo,
iniciando assim uma pregação sobre responsabilidade social nos dirigentes das
empresas. Em 1977, ADCE organizou o 2º Encontro Nacional de Dirigentes de
Empresas, tendo como tema central o Balanço Social da Empresa. Em 79, a ADCE
passa a organizar seus congressos anuais e o Balanço Social tem sido objeto de
reflexão.
Foi elaborado em 1984 o primeiro
trabalho acadêmico do professor João Eduardo Prudêncio Tinoco, que é uma
dissertação de mestrado do Departamento de Contabilidade e Atuaria da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo -
FEA-USP com o título de: Balanço Social: uma abordagem socioeconômica da
Contabilidade.
Em 1991, foi encaminhado ao
Congresso um anteprojeto propondo publicação do Balanço Social pelas empresas,
porém, não foi aprovado. Foi publicado pelo Banespa, em 1992, um relatório
divulgando as suas ações sociais. Em 1993, o sociólogo Herbert de Souza, o
Betinho, lançou a Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a
Miséria e pela Vida, com o apoio do Pensamento Nacional das Bases Empresariais
(PNBE), que constitui o marco da aproximação dos empresários com as ações
sociais. Em 1997, Betinho lançou um modelo de Balanço Social e, em parceria com
a Gazeta Mercantil, criou o selo do Balanço Social, estimulando as empresas a
divulgarem seus resultados na participação social.
Foi criado, em 1998, o Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social pelo empresário Oded Grajew. O
Instituto serve de ponte entre os empresários e as causas sociais. Seu objetivo
é disseminar a prática da responsabilidade social empresarial por meio de
publicações, experiências, programas e eventos para os interessados na
temática. Em 1999, a adesão ao movimento social se refletiu na publicação do
seu balanço no Brasil por 68 empresas. No mesmo ano, foi fundado o Instituto
Coca-Cola no Brasil, voltado à educação, a exemplo da fundação existente nos
Estados Unidos desde 1984.
A Câmara Municipal de São Paulo
premiou em 1999, com o selo Empresa Cidadã as empresas que praticaram a
responsabilidade social e publicaram o Balanço Social e a Associação de
Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) incluiu em sua premiação o
prêmio Top Social. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança destacou-se pelo
trabalho de erradicação do trabalho infantil, exemplo que atraiu um número
crescente de adeptos. A empresa que combate o abuso contra criança ganhou o
selo Empresa Amiga da Criança.
O primeiro dado relevante a se
destacar na comparação entre 2000 e 1999 é que a média de gastos por empregado
cresceu em praticamente todos os indicadores sociais internos, ou seja, o valor
gasto com empregados em alimentação, previdência privada, saúde, segurança e
medicina no trabalho, educação, cultura, participação nos lucros e capacitação
e desenvolvimento profissional foi 80,1% maior em 2000. A média do gasto em previdência
privada foi 2,3 vezes maior e a participação nos lucros quase dobrou. A única
exceção foi em creche, com redução de 8%. Este crescimento, porém, não quer
dizer que o investimento social destas empresas esteja compatível com o que
delas se espera. Em todo caso, é um dado positivo.
Dessa forma, observamos que para
conquistar um diferencial e obter a credibilidade e aceitação da sociedade e
das diversas partes interessadas dentro do universo empresarial, além de novas
práticas e da publicação anual dos balanços e relatórios sociais e ambientais,
as corporações têm buscado certificações, selos e standards internacionais na
área social. Entre os exemplos brasileiros mais significativos, estão o 'Selo
Empresa Amiga da Criança', conferido pela Fundação Abrinq; o 'Selo
Empresa-Cidadã', que é uma premiação da Câmara Municipal da Cidade de São
Paulo; e o 'Selo Balanço Social Ibase/Betinho', do Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas desde 1998.
Neste sentido, não existe uma
fórmula geral de responsabilidade social quando se trata de negócios. Mas
alguns passos básicos podem ajudar muito na implantação de uma estratégia de
boa cidadania corporativa. A seguir, alguns deles:
1 - Desenvolva uma missão, uma
visão e um conjunto de valores a serem seguidos.
2 - Para que a responsabilidade
social seja uma parte integrante de cada processo decisório, é preciso que ela
faça parte do DNA da companhia – seu quadro de missões, visões e valores. Isso
leva a um comprometimento explícito das lideranças e dos funcionários com questões
como ética nos negócios e respeito a acionistas, clientes, fornecedores,
comunidades e meio ambiente.
3 - Coloque seus valores em
prática – é básico. De nada adianta ter um maravilhoso quadro de valores na
parede do escritório se eles não são exercitados e praticados a cada decisão
tomada.
4 - Promova a gestão executiva
responsável – esse é um exercício diário e permanente. É preciso fazer com que
cada executivo leve em consideração os interesses dos seus partícipes antes de
tomar qualquer decisão estratégica.
5 - Comunique, eduque e treine –
as pessoas só conseguirão colocar valores de cidadania corporativa em prática
se os conhecerem e souberem como aplicá-los no dia-a-dia.
6 - Publique balanços sociais e
ambientais – elaborados por especialistas e auditores externos, eles garantem
uma visão crítica de como acionistas, funcionários, organizações comunitárias e
ambientalistas enxergam a atuação da empresa.
7 - Use sua influência de forma
positiva – o mundo corporativo é formado por uma grande rede de
relacionamentos. Use os valores cidadãos de sua empresa para influenciar a
atuação de fornecedores, clientes e companhias do mesmo setor.
Fonte: Maria Elisabeth Pereira Kraemer
Comentários
Postar um comentário