Incineração - Bem ou Mal
A incineração é um processo de
decomposição térmica, onde há redução de peso, do volume e das características
de periculosidade dos resíduos, com a consequente eliminação da matéria
orgânica e características de patogenicidade (capacidade de transmissão de
doenças) através da combustão controlada. A redução de volume é geralmente
superior a 90% e em peso, superior a 75%.
Para a garantia do meio ambiente
a combustão tem que ser continuamente controlada. Com o volume atual dos
resíduos industriais perigosos e o efeito nefasto quanto à sua disposição
incorreto com resultados danosos à saúde humana e ao meio ambiente, é
necessário todo cuidado no acondicionamento, na coleta, no transporte, no
armazenamento, tratamento e disposição desses materiais.
Segundo a ABETRE (Associação
Brasileira de Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição de Resíduos
Especiais) no Brasil, são 2,9 milhões de toneladas de resíduos industriais
perigosos produzidos a cada 12 meses e apenas 600 mil são dispostas de modo
apropriado. Do resíduo industrial tratado, 16% vão para aterros, 1% é
incinerado e os 5% restantes são co-processados, ou seja, transformam-se, por
meio de queima, em parte da matéria-prima utilizada na fabricação de cimento.
O extraordinário volume de
resíduo não tratado segue para lixões, conduta que acaba provocando acidentes
ambientais bastante graves, além dos problemas de saúde pública. Os 2 milhões
de resíduos industriais jogados em lixões significam futuras contaminações e
agressões ao meio ambiente. No Estado de São Paulo, por exemplo, já existem,
hoje, 184 áreas contaminadas e outras 277 estão sob suspeita de contaminação.
A recente Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico (PNSB) realizada pelo IBGE colheu dados alarmantes quanto ao
destino das 4.000 toneladas de resíduos produzidos pelos serviços de saúde,
coletadas diariamente e provenientes dos 5.507 municípios brasileiros. Apenas
14% das prefeituras pesquisadas afirmaram tratar do lixo de saúde de forma adequada.
Este tipo de lixo “é um reservatório de microorganismos potencialmente
perigosos, afirma documento da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Para os resíduos de saúde
classificados como patogênicos, por exemplo, uma das alternativas consideradas
adequadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é a incineração. A
redução de passivos ambientais constituídos por resíduos perigosos tem
encontrado na incineração em alta temperatura, a melhor técnica disponível e
mais segura, confirma engenheiro químico de uma empresa.
No Brasil, a destruição de
resíduos pela via do tratamento térmico pode contar com os incineradores
industriais e com o co-processamento em fornos de produção de clinquer
(cimenteiras). A Resolução Conama 264/99 não permite que os resíduos
domiciliares brutos e certos resíduos perigosos venham a ser processados em
cimenteiras, tais como os provenientes dos serviços de saúde, os rejeitos
radioativos, os explosivos, os organoclorados, os agrotóxicos e afins.
Processo
de Incineração
Para que um resíduo chegue a ser
incinerado é necessário que ele esteja apto a ser transportado e esteja
devidamente caracterizado, física, química e físico-quimicamente. Há uma série
de atividades preliminares que podem ser desempenhadas ou pelo gerador ou pelo
prestador de serviço de incineração ou por um terceiro, preposto credenciado de
um dos dois.
Estas atividades resumem-se a
exame de carga e seu acondicionamento (a granel, em sacos, em bombonas, em
tambores metálicos, em containers, etc), coleta de amostra composta para a
caracterização em laboratório, acondicionamento para o transporte, obtenção das
Licenças Ambientais junto aos órgãos ambientais nas duas pontas (gerador e
incinerador), aviso ou permissão de tráfego de outros Estados situados no roteiro,
carregamento do veículo e amarração de carga, inspeção geral do veículo, da
documentação e do motorista.
É bem verdade que uma grande
parte de resíduos que antes eram encaminhados para essas empresas, atualmente
estão indo para cimenteiras. Esse quadro competitivo entre as duas alternativas
conduziu a uma redução substancial nos preços outrora cobrados pelos
incineradores, acirrando a concorrência. Acredita-se que uma maior consciência
está sendo incutida nos geradores de resíduos, em grande parte provocada pelo
receio das sanções oriundas da aplicação da lei de Crimes Ambientais e também
por uma maior ação fiscalizadora dos órgãos ambientais. Esses fatos vêm
trazendo novos negócios para os incineradores e também para as cimenteiras.
Método
Contestado
A incineração e o
co-processamento em fornos de cimento são apresentados como as principais
políticas para a redução de resíduos.
Segundo avaliação do Greenpeace
estes métodos são prejudiciais à saúde humana, pois despejam substâncias
tóxicas no meio ambiente, causando severos danos. Mas, um estudo da ABLP -
Associação Brasileira de Limpeza Pública, mostra que os sistemas modernos de
incineração de lixo são dotados de sistemas computadorizados de controle
contínuo das variáveis de combustão, tanto na câmara primária quanto na de
pós-combustão, bem como, nas demais etapas de depuração de gases e geração de
energia.
Para os estudiosos, o processo de
incineração no Brasil, ganhou o conceito de poluidor, nocivo à saúde e
prejudicial ao meio ambiente devido ao uso de equipamentos já obsoletos ou à
operação e manutenção inadequadas. Sob vários aspectos, a incineração constitui
o processo mais adequado para a solução ambientalmente segura e problemas de
disposição final de resíduos.
A entidade ambientalista alega
também que em diversos países a incineração tem sido preterida, porém, o
trabalho da ABPL, diz que em países como Alemanha, Japão, Suíça e EUA, por
exemplo, muitas plantas foram construídas recentemente, além do que outras
estão em construção, principalmente para a geração de energia. Esta reversão de
deu principalmente nos últimos anos com o avanço das tecnologias de depuração
de gases e dos controles “on line”, por computador, de todas as emissões
gasosas e líquidas. Nestes últimos anos, a maioria das instalações de
tratamento de gases, das principais plantas naqueles países foram substituídas
e hoje atendem às exigentes normas de proteção ambiental.
Atualmente, segundo trabalho da
ABLP, o tratamento de gases é ainda mais sofisticado, perseguindo a meta de
emissão zero. Crescem os sistemas para a remoção de outros poluentes como NOx,
dioxinas e furanos, além do aparecimento das tecnologias avançadas de
tratamento para a produção de resíduos finais inertes, que podem ser reciclados
ou dispostos sem nenhum problema para o meio ambiente, tal como o uso do plasma
térmico.
Vários processos estão se
sofisticando atualmente no pré-tratamento do lixo, anterior à incineração, para
aumentar a sua homogeneização, baixar a umidade e melhorar o poder calorífico,
de tal forma a transformá-lo em um combustível de qualidade para a máxima
geração de energia. Sofisticam-se também os processos de combustão com o
aumento dos sistemas de turbilhonamento, secagem, ignição e controle da
combustão.
Por mais
que a tecnologia tenha avançado não há incineração limpa
Este enorme investimento na
incineração vai deitar abaixo a política de redução, reutilização e reciclagem,
e vai impedir que se cumpram as metas para reutilizar através de reciclagem.
Centros de triagem e centros de
valorização orgânica através da compostagem, para produção de biogás ou
composto para agricultura, seria melhor não só para o Ambiente, como também
iria permitir a criação de mais postos de trabalho.
Do ponto de vista ambiental, em
vez de melhorar, agravarão ainda mais as condições atmosféricas desfavoráveis à
vida humana, animal e vegetal. Isso porque a substituição é realizada
conjuntamente com ambicioso aumento de capacidade de geração. Mesmo trocando
emissões mais sujas por outras menos agressivas, o aumento de queima “limpa”
representa uma troca de seis por meia dúzia.
Assim, só ganhou o empreendedor, enquanto a sociedade ficou com a dura
conta dos impactos ambientais.
Nos porões do inconsciente
coletivo, estamos enfrentando velhos mitos, em especial o de Midas. O ritmo
econômico sobrepõe-se sobre ao ritmo biológico, natural. Sem regras neste jogo,
ganham os poderosos, ganha a lógica da concentração de poder e riqueza a
qualquer custo social. E quem deveria colocar as claras regras do jogo? Sem
dúvida o poder público! Sua omissão cria fragilidades enormes por falta de
planejamento, sem meios estruturais e preventivos para a poluição. Há falta de
sintonia entre ciência, controle e monitoramento ambiental e ações preventivas
para a proteção da saúde humana e ambiental, resultando em maior
vulnerabilidade para a população.
Termelétricas são máquinas
poluidoras, na medida em que lançam na atmosfera toneladas de NOx,
hidrocarbonetos metânicos e não-metânicos, CO² (monóxido de carbono), entre
outros. Como via de escape e adequação, procede-se com frequência à prática de
troca de emissões, condicionando novos empreendimentos à melhores sistemas de
controle e tecnologia, que proporcionem redução da poluição, mas que será automaticamente
preenchida pelo novo contribuinte licenciado na bacia atmosférica, ou como já
dito, seis por meia dúzia.
Atualmente, surgem novos atores.
Juntam-se ao cenário de áreas saturadas propostas de incineradores, que
prometem uma formula mágica para a resolução das montanhas de resíduos
produzidos pela sociedade contemporânea. Sem audiências públicas, sem discussão
com a academia, setores do governo estadual anunciaram este ano que a
tecnologia da incineração deverá ser a alternativa preferencial para a
destinação de resíduos sólidos. Assim, mais uma vez, a sociedade se vê
atropelada e instada a reagir para proteger-se de iniciativas poluentes, desta
vez, patrocinada pelo próprio governo, seja ele federal ou estadual.
Os incineradores têm sido uma
verdadeira armadilha para a sociedade contemporânea. Seu histórico é brutal. É
preciso ressaltar os clássicos casos de emissão de particulados, dioxinas,
furanos e metais pesados, bem como a falta de estudos sobre as condições de
nossas bacias atmosféricas relacionadas a estes poluentes. Os efeitos adversos
dessas substâncias, que incluem câncer, estão registrados em toneladas de
documentos de inquestionáveis fontes científicas.
Parece óbvio que planejar o caos
é sempre conveniente para alguns setores econômicos, como ocorre na questão dos
resíduos. Quanto mais demorar a implementação de uma política de uso racional e
de lógica reversa para a cadeia produtiva, maior será a dificuldade de
transformação social. Para obter produção de calor e energia nos incineradores,
muito material que poderia ser reciclado será incinerado e queimar tudo
permitirá manter a festança como está, principalmente para o setor produtivo.
É preciso estabelecer um grande
debate público, onde se possa questionar e repensar a equação termelétricas e
incineradores aos olhos das ações a favor da sociedade e da sustentabilidade.
Incineração do lixo é o perigo
disfarçado de solução. É importante entender que o que se tornar cinzento, não
se poderá voltar a ser pintado de verde.
Fonte: www.ambientebrasil.com.br e Luiz Henrique Lopes
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