A IMPORTÂNCIA DA DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS PARA A PROTEÇÃO DA AMAZÔNIA
Um dos temas menos comentados
durante as eleições e que ficou fora do discurso da reeleição da Presidente
Dilma Rousseff, foram os direitos indígenas e também o meio ambiente. Em um
momento em que as mudanças do clima estão cada vez mais frequentes, a temática
ambiental e as políticas públicas para a proteção e gestão das Terras Indígenas
precisavam ser tratadas com maior atenção.
Uma carta divulgada pelo IPAM no
dia 22 de outubro 2014, mostra que a Amazônia precisa ser preservada, pois
desempenha um papel fundamental na estabilização das concentrações dos gases de
efeito estufa e na minimização dos efeitos das mudanças climáticas globais.
“Para que o Brasil alcance a extinção do desmatamento na Amazônia brasileira e
usufrua dos serviços ambientais prestados por suas florestas será crucial a
manutenção de grandes extensões contínuas de florestas. O elemento essencial
para que isto aconteça são as áreas protegidas, em especial as Terras Indígenas
e suas populações”, aponta a carta “A Amazônia Indígena e as Mudanças
Climáticas: recomendações aos Presidenciáveis”, elaborada pelo IPAM.
Apesar de existir uma legislação
vigente no país que trata dos direitos dos povos indígenas, existe ainda um
grande abismo entre a teoria e a prática. O processo de demarcação,
regulamentado pelo Decreto nº 1775/96, é o meio administrativo para identificar
e sinalizar os limites do território tradicionalmente ocupado pelos povos
indígenas, porém a crescente resistência dos proprietários rurais vem sendo uma
das principais razões na diminuição do ritmo de regularização, determinada pelo
Art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Existem hoje no Brasil quase 900
mil índios e mais de 690 Terras Indígenas. As lideranças indígenas reivindicam
o reconhecimento de cerca de 1000 áreas. De acordo com um levantamento feito
pela Folha de São Paulo, no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foram
homologadas 145 áreas (41 milhões de hectares), o governo Lula (2003-2010)
retrocedeu para 84 áreas (18 milhões de hectares). E por fim, a presidente
Dilma Rousseff homologou apenas 10 áreas (966 mil hectares), sendo o governo
que menos demarcou terras indígenas desde a redemocratização do país.
Outro ponto polêmico na temática
é a PEC 215/00, em tramitação na Câmara dos Deputados, que diminui o poder da a
Fundação Nacional do Índio (Funai) sobre as demarcações e torna a homologação
das Terras Indígenas dependente da aprovação do Congresso. Para o deputado
Padre João (PT-MG), um dos principais defensores da causa indígena na Câmara, a
PEC 215 significa um retrocesso. “A gente percebe a organização de uma bancada,
formando uma maioria, indo a voto e que se torna, de fato, uma ameaça a um
direito constitucional sagrado, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal”,
afirmou.
Em diversos casos, a justiça
precisa interferir e estipular um prazo para a finalização do processo de
demarcação, que podem ultrapassar 10 anos. É o caso da Terra Indígena Sawré
Muybu. No dia 29 de outubro a Justiça Federal estipulou o prazo de 15 dias para
que Funai dê sequência ao processo de demarcação da TI, que fica na região de
Itaituba, oeste do Pará. O processo que já ocorre há 13 anos, foi paralisado
sem explicações no ano passado. A Terra Indígena está localizada em uma região
onde o governo pretende construir a Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.
Com a construção da usina, aldeias, florestas e cemitérios da terra indígena
serão alagados.
Para demonstrar a importância dos
Territórios Indígenas, tanto para os povos que nela habitam quanto para a
preservação dos recursos naturais, foi lançado no dia 30 de outubro o relatório
“Violações de direitos humanos dos indígenas no Estado do Mato Grosso do Sul”,
resultado de uma missão realizada em agosto de 2013 pela Relatoria do Direito
Humano à Terra, Território e Alimentação.
O documento destaca a
complexidade das violações aos direitos dos povos indígenas Guarani e Kaiowá,
como a negação do seu território, a exclusão social (da qual resulta todo o
processo de confinamento) e até a negação dos direitos básicos à realização da
vida com dignidade (alimentação adequada, ao acesso à educação intercultural, à
saúde que considere a medicina tradicional, entre outros).
Porque
demarcar
De acordo com a carta do IPAM, as
taxas de derrubada de florestas no interior das Terras Indígenas são inferiores
a 2% (1999-2008), um valor bem abaixo das regiões ao redor destas terras (de 25
a 30%) e menor do que o encontrado para Unidades de Conservação sem gente
dentro. Isso mostra a importância da demarcação das terras indígenas para a
redução do desmatamento da Amazônia.
“Ao manter florestas intactas
dentro dos territórios indígenas, nós estaremos reduzindo os prejuízos globais
que a população mundial terá no futuro com a mudança do clima”, enfatiza o
Diretor-executivo do IPAM, Paulo Moutinho.
A demarcação das Terras Indígenas
favorece a sociedade mundial, já que preservação dessas regiões contribui para
a proteção do meio ambiente e da biodiversidade, bem como para o controle
climático global. Esta medida é urgente para a população brasileira, uma vez
que o país está sofrendo os impactos causados pelo desmatamento e pelo
desenvolvimento econômico insustentável. A garantia e a efetivação dos direitos
territoriais dos povos indígenas, tanto no Pará como no Mato Grosso,
contribuem, para a construção de uma sociedade que valoriza a identidade étnica
e cultural dos seus povos.
Fonte: www.sergiorochareporter.com.br
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