Inclusão Produtiva e Social
Apesar dos avanços econômicos,
políticos e sociais conquistados pelo Brasil, segundo o censo do IBGE de 2010
cerca de 16 milhões de pessoas, que representam 8,5% da população do País,
ainda vivem em condições de extrema pobreza, com rendimento mensal domiciliar
de até R$ 70,00. Desse total, quase 9 milhões de pessoas (54%) estão nos
centros urbanos e mais de 7 milhões (46%) estão no meio rural.
Em termos de insegurança
alimentar, em 2009 a proporção de domicílios nessa situação era de 30,2%, o que
abrangia aproximadamente 67,6 milhões de pessoas. Dessas, cerca de 5%
encontravam-se em estágio grave, ou seja, 11,2 milhões de pessoas.
E o que significa segurança
alimentar? É o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais. Ainda, tem como base práticas alimentares que promovam a saúde, que
respeitem a diversidade cultural e sejam social, econômica e ambientalmente
sustentáveis. Segurança alimentar e nutricional é um direito de todos.
O grande desafio para erradicar a
pobreza é retirar essa população dessa condição, rompendo o círculo vicioso da
exclusão social e da insegurança alimentar. Para isso, é necessária uma série
de ações governamentais e políticas econômico-sociais que promovam a inclusão
social e produtiva dessas pessoas. Ainda, são de grande importância ações que
elevem a renda familiar per capita e que ampliem o acesso aos serviços públicos
e às oportunidades de ocupação e renda.
Hoje, uma das políticas de inclusão
social do governo é a promoção da agricultura familiar. Além de ser instrumento
de desenvolvimento socioeconômico, é instrumento de fortalecimento da
democracia. Pelos dados do Censo Agropecuário Brasileiro de 2006, é possível
reconhecer que a agricultura familiar está em mais de 84% dos estabelecimentos
rurais do País. Isso significa que são mais de 4 milhões de propriedades, com
uma área média de 18 ha, ocupando cerca de 24% das terras agrícolas e
absorvendo mais de 74% da mão de obra do campo, ou seja, mais de 12 milhões de
pessoas.
A agricultura familiar é um fator
essencial para qualquer política de erradicação da pobreza e segurança
alimentar porque, entre outras razões, sua produção abastece o mercado interno
de alimentos e de matérias-primas. Assim, contribui para a alimentação da
população brasileira por meio da produção de 87% da mandioca, 70% do feijão,
58% do leite e 46% do milho, entre outros. Além disso, contribui de forma
significativa para as cadeias agroexportadoras, como a de suínos, com 59%; a de
aves, com 50%; a de café, com 38%; e da complexa soja, com 16%, entre outros.
Esse cenário de relevância
nacional apresentado coloca a agricultura familiar como protagonista na
produção de alimentos. Porém, as ações para a erradicação da pobreza e
segurança alimentar também devem beneficiar os agricultores familiares, porque
parte significativa da população pobre e com insegurança alimentar é composta
por agricultores e agricultoras familiares.
É importante entender que a busca
por soluções para a sustentabilidade do desenvolvimento rural, por meio da
agricultura familiar, deve começar no âmbito das comunidades e propriedades
rurais, valorizando, ao mesmo tempo, a experiência dos produtores e os avanços
científicos. Dessa forma, pesquisa e desenvolvimento atuam em estreita
colaboração com produtores, com objetivos coletivos de melhorias técnicas,
econômicas e sociais dos sistemas de produção.
Institutos de Pesquisa
Agropecuária vêm buscando inovações para contribuir, cada vez mais, para a
erradicação da pobreza, para a segurança alimentar e para a agricultura
familiar, de forma sustentável e participativa com os agricultores.
E o esforço da ciência vai ainda
além. Pesquisadores estão em constante busca por cultivares mais produtivas e
tolerantes a pragas e doenças; mais resistentes à seca e mais adaptadas às
diversas regiões e condições de cultivo e com maiores teores de elementos
essenciais, como ferro, zinco e vitaminas. Essas melhorias são chamadas de
biofortificação e ajudam no combate à fome oculta nas regiões mais carentes do
Brasil, impactando positivamente a segurança alimentar e a agricultura familiar
do País.
Quando o trabalho é
compartilhado, o retorno é maior e melhor para todos. Exemplo disso são os
resultados promissores da participação e coletividade. A partir de trocas entre
ciência e campo, é possível levantar os problemas e dificuldades para então
identificar, priorizar, implantar, acompanhar e avaliar as ações necessárias
para a construção de processos de desenvolvimento específicos e adaptados a
cada realidade. A inovação técnica e a inovação social, como a organização dos
produtores, são aspectos fundamentais e indissociáveis do processo de
desenvolvimento com sustentabilidade. As informações geradas tornam-se
referências e são utilizadas para beneficiar outras comunidades, o que amplia a
escala do processo.
Para citar alguns casos de
sucesso, destacam-se melhorias nos processos de articulação entre agricultores
familiares, por meio de associações e cooperativas, e melhorias nas tecnologias
de produção, como ajustes no espaçamento e adubação do milho, uso de variedades
mais adaptadas, manejo e recuperação de pastagens e suplementação do rebanho
leiteiro durante a época seca.
Por um lado, a inovação social,
por meio de compras coletivas, possibilitou em Silvânia (GO), na década de 90,
a redução de 20% no gasto com adubos. Por outro lado, as inovações técnicas
possibilitaram à maior parte dos agricultores, que produzia em média 1,5
tonelada de milho por hectare, passar a produzir mais de 3 toneladas, chegando
até, nas melhores lavouras, a produtividades superiores a 6 toneladas.
Ressalta-se que a produtividade média brasileira no período era de 2,5
toneladas.
Destaca-se que mais do que um
simples espaço para discussão de problemas comuns, as organizações dos
agricultores se transformaram em instrumentos valiosos para solução de
problemas, não só no nível técnico, mas também no campo da saúde e da educação,
indissociáveis do avanço tecnológico na busca do desenvolvimento.
As vantagens são muitas. Ganha a
pesquisa agropecuária, que inova e melhora suas metodologias. Ganha o produtor,
que aplica as técnicas com retornos reais de produtividade e renda, além de
fortalecer as associações em benefício do setor.
Fonte: www.agrosustentavel.com.br
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