A questão do Meio Ambiente e as Eleições


Com o clima de histeria em torno da Copa, criado pela propaganda do governo e pelos anúncios dos patrocinadores, pouca coisa indica que estamos praticamente às vésperas das eleições. Não fosse o futebol, o debate político estaria bem mais presente na mídia, já que é esse o acontecimento – e não o torneio de ludopédio – que mais influirá no futuro do país. O governo provavelmente nem deseja debater a situação social e econômica com profundidade, dados os altos índices de inflação, a baixa taxa de crescimento, além de todos os problemas de infraestrutura que – com raras e pequenas exceções – permanecem sem solução.
A partir de julho então, com ou sem título mundial – fato que terá grande influência na disposição do eleitor –, começará efetivamente a campanha dos candidatos em suas diversas formas. Propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV; carreatas, comícios, cartazes e panfletagem; debates na mídia e ações nas redes sociais; tudo será usado para ganhar nossos votos. O que distingue todo este show pirotécnico político, da massiva propaganda de lavagem cerebral que cerca a realização da Copa? A diferença entre ambas talvez seja somente o produto. Se, por um lado, querem vender-nos a Copa e seus patrocinadores, por outro pretendem nos certificar da qualidade dos candidatos. Em tudo isso, fica de fora o debate sobre os temas essenciais; aqueles que têm relevância para o futuro do país.
Um dos assuntos de importância, sempre tratados superficialmente, é o do meio ambiente. No entanto, segundo pesquisas recentes, já é considerável o percentual da população urbana que conhece melhor os problemas e a importância da questão ambiental. Graças à ação da mídia e de ONGs ligadas ao setor, o nível de conscientização vem gradualmente aumentando. Se no passado a ecologia dizia respeito somente à destruição da floresta amazônica ou à matança de baleias, atualmente já é grande o numero de pessoas que associam a proteção do meio ambiente também ao saneamento básico, à coleta e destinação do lixo, ao ar poluído das cidades, ao planejamento urbano e ao transporte.
Esta nova situação deverá ou deveria causar algum tipo de impacto nos programas dos partidos e no discurso dos candidatos. Tirar a questão ambiental lá das páginas finais do programa dos partidos – muitas vezes colocada aí por falta de mais assunto – e trazê-la para as páginas iniciais, associada aos programas econômicos e sociais. Da mesma forma os candidatos, em suas aparições públicas, deveriam ter a capacidade de saber explicar a forma como, por exemplo, os programas em relação à infraestrutura, transportes ou saúde têm a ver com o saneamento e a preservação dos recursos hídricos, e vice versa.
Talvez ainda seja demais esperar tal nível de sofisticação do discurso político. No entanto, partidos e candidatos devem levar em conta que a cada nova eleição parcelas maiores do eleitorado têm melhor formação, dispõem de mais informações e têm senso crítico mais apurado. Pelo menos no que se refere ao saneamento e à gestão de resíduos, o grau de expectativa do eleitor está alto – espera esta criada muitas vezes pela própria propaganda do governo. Por isso o discurso “... pela saúde, educação e trabalho, conto com seu voto!” está cada vez mais desacreditado. O eleitor não pode mais ser tratado como uma criança, que se convence com histórias da carochinha.
"No fundo, toda vontade de ter uma teoria totalmente coerente realiza-se na perda de seu contato com o real, na sua esclerose e no seu endurecimento. A racionalização torna-se, então, um mal terrível, isso porque o espírito racionalizador se crê racional e acredita que os outros sejam delirantes." _ Boris Cyrulnik e Edgar Morin - Diálogo sobre a natureza humana_ 

Fonte: Ricardo Rose - Jornalista, autor, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia.

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