Áreas Verdes: um elemento chave para a sustentabilidade urbana
Mundialmente, as cidades estão
experimentando rápidas mudanças, resultado de um permanente processo de
urbanização. O crescimento das cidades é um processo dinâmico e muito diverso,
mas tem uma característica comum: é cada vez mais espaço-intensivo, isto é, há
uma crescente demanda de espaço para usos urbanos: para acomodar moradias,
indústrias, serviços públicos e áreas de recreação, infraestrutura (tratamento
de água e esgoto, produção de energia) e construção das malhas de transporte,
colocando sob crescente pressão paisagens culturais e naturais.
Um atributo importante no
desenvolvimento das cidades, muitas vezes negligenciado, é o cuidado com as
áreas verdes. Como a transformação da paisagem continua em ritmo acelerado,
cada vez mais se perdem importantes espaços naturais ou os ainda restantes
tornam-se verdadeiras ilhas nas “cidades-sem-fim” (endless cities). Na Europa,
o processo de urbanização, ocasionado pela necessidade de uma adaptação às
condicionantes econômicas, demográficas e à situação política (por ex. o
declínio populacional e o aumento da longevidade, desindustrialização,
liberalização de mercado, etc.), traz implicações significativas, tanto para o
ambiente natural como na composição das sociedades urbanas.
Muitos dos atuais programas de
desenvolvimento buscam a melhoria da qualidade de vida no meio urbano. Isso
significa, necessariamente, a melhoria do meio ambiente e do equilíbrio
ambiental. Áreas verdes são elementos cruciais para alcançar estes objetivos.
Elas são os elementos per se naturais dentro do ambiente extremamente
artificial em que as nossas cidades se transformaram. Áreas verdes são
igualmente relevantes para o bem-estar e as condições de saúde da população,
por promoverem a biodiversidade, constituírem importante parte da paisagem
urbana, por trazerem benefícios econômicos significativos e formar espaços
estruturais e funcionais fundamentais para transformar as nossas cidades em
áreas mais agradáveis de viver. Áreas verdes podem assim assumir um papel
primordial nos esforços para melhorar a qualidade de vida e no desenvolvimento
sustentável.
Na maioria das cidades existem,
de alguma forma, instrumentos de planejamento que influenciam a quantidade e a
qualidade dos espaços verdes, por exemplo, planos diretores. Em muitos casos
faltam, entretanto, concepções e visões abrangentes e estratégias apropriadas,
que venham a combinar o desenvolvimento e a gestão desses espaços com as
políticas mais globais para o desenvolvimento urbano. Frequentes déficits em
quantidade ou qualidade em toda a Europa e o baixo valor a eles atribuído
exigem estratégias apropriadas para o desenvolvimento e melhoria do sistema
verde urbano. Assegurar o desenvolvimento das áreas verdes, mesmo na era do
desenvolvimento sustentável, é ainda um árduo trabalho, exigindo muitas vezes
um dedicado engajamento pessoal.
Áreas
Verdes – Desafios e Benefícios
As áreas verdes são reconhecidas
por trazerem valiosas contribuições para o meio ambiente e para o bem-estar
social no âmbito urbano. As funções que esses espaços exercem e os benefícios
providos são extensivos e múltiplos. Diferentes autores já investigaram e
forneceram evidências destas diferentes funções e dos benefícios gerados. Essa
variedade e multifuncionalidade de uma área verde significa que ela pode prover
os mais variados benefícios de maneiras diversas, a usuários diferentes e com
resultados diversos. As áreas verdes urbanas têm um papel importante em relação
à qualidade de vida de seus habitantes e são essenciais na formação da identidade
da comunidade, porque dão forma, pregam o caráter e a imagem de um bairro ou de
uma cidade.
Áreas verdes existem numa grande
variedade de tipos, estruturas e formas dentro do tecido urbano. O
reconhecimento de suas funções, benefícios e valores não significa, entretanto,
que o desenvolvimento de áreas verdes goze de uma posição privilegiada na
agenda política.
Em primeiro lugar, a complexidade
dos sistemas ecológicos e sociais, com os seus problemas e interações. Nas
áreas verdes, com a sua materialidade física e biológica, processos naturais,
mutáveis e dinâmicos incidem sobre o crescimento e a maturação dos elementos
vivos. Estes precisam de um longo prazo para se desenvolver plenamente e
adquirir alta qualidade. Consequentemente, para tornar mudanças e benefícios
visíveis, o fator tempo deve ser observado.
O fato de que estes espaços, além
de ser patrimônio ambiental, representam valores de domínio público. Áreas
verdes urbanas são arenas onde a vida coletiva acontece – onde somos todos iguais
e onde estamos todos “em casa”. Elas nos ajudam a definirmo-nos como sociedade
e têm um papel importante para o bem-estar e a saúde pública. Por ser de
domínio público é compreendido – corretamente - como um bem que todos
podem/devem usufruir – mas por quem só – incorretamente - a administração
pública é responsável.
Devido a benefícios imediatos e
uma constante má distribuição dentro das malhas urbanas, a maioria das cidades
e seus habitantes ficam satisfeitos com a simples existência de um espaço
verde, sem questionar as suas qualidades. Muito frequentemente, esses espaços
são fruto de um imediatismo alimentado por atos políticos, de projetos
paisagístico-arquitetônicos pobres e sem adequação ambiental, possuem
equipamentos inadequados, padecem de má acessibilidade, têm baixa performance
ecológica, etc. Mais atenção deve ser dada à qualidade dos espaços, pois quanto
maior a sua qualidade, mais a população os valorizarão.
Quando um espaço verde se
degrada, oferecendo má qualidade (por exemplo, baixo desempenho ecológico), é
pouco provável que venha a ser “fechado”. Ao contrário, um museu ou uma piscina
depredados devem ser fechados por razões de segurança e risco à saúde, o que
constitui um motivo potencial para uma contestação local.
O processo de desenvolvimento do
verde urbano é vulnerável a muitas circunstâncias tangenciais. Enquanto o
crescimento das cidades gera fortes pressões no uso do solo comumente não há
nenhum interesse financeiro direto de acionistas, investidores ou loteadores no
desenvolvimento de áreas verdes ou espaços públicos em geral.
As áreas verdes são consideradas
um fator custo, especialmente no que se refere às exigências de manutenção. Os
benefícios ecológico-ambientais são difíceis de serem expressos monetariamente
e os econômicos que estas podem propiciar frequentemente não são conhecidos e,
consequentemente, não são levados em conta nas tomadas de decisões.
Fonte: Carlos Smaniotto Costa
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