Empresas do bem


Para se tornarem protagonistas em um mundo no qual desenvolvimento rima com sustentabilidade, as empresas estão apostando cada vez mais em formas inovadoras de desenvolver produtos e de se relacionar com a sociedade e o meio ambiente.
Gestão
Itaipu Binacional
Voar não faz parte dos negócios da Itaipu. Mas energia, sim. Por causa disso, a companhia está desenvolvendo um avião movido a eletricidade, em parceria com a fabricante de ultraleves ACS Aviation, de São José dos Campos, interior de São Paulo. “O nosso principal interesse é científico”, afirma Celso Novais, coordenador do projeto da Itaipu. “Estamos descobrindo novas formas de trabalhar com materiais como alumínio e fibra de carbono.” A Itaipu está investindo cerca de R$ 600 mil no projeto. Mas o valor gasto deve se multiplicar por dez, considerando o desenvolvimento da aeronave – de responsabilidade do parceiro –, que deve ter autonomia para 250 quilômetros.
Suzano
A atuação dos fabricantes de papel e celulose sempre esteve na mira dos ambientalistas, que enxergam nas plantações de eucalipto uma ameaça à diversidade do ecossistema brasileiro. Por conta disso, o setor se viu obrigado a mostrar, na prática, que a realidade pode ser bem diferente. “Não existe espécie maldita, mas sim manejo florestal malfeito”, diz Paulo Groke, gerente de projetos ambientais do Instituto Ecofuturo, no qual a Suzano é a principal mantenedora. A ONG usa uma antiga fazenda da empresa, em Bertioga, no litoral de São Paulo, como base para o desenvolvimento de experiências florestais. Lá, existe um verdadeiro laboratório vivo para ações de reflorestamento de matas nativas e da melhoria de eficiência da gestão de ativos florestais. A partir de 2012, o instituto começou a “vender” serviços ambientais para bancar uma parte de seus custos operacionais, por meio do programa Reservas Ecofuturo. A primeira a se apropriar desse conhecimento foi a própria Suzano, que contratou o instituto para fazer o plano de implantação e a gestão de uma área de preservação no Maranhão, onde está investindo R$ 4 bilhões na construção de uma fábrica de celulose.
Faber-Castell
O grupo alemão Faber-Castell é referência quando o assunto é preservação ambiental pelo projeto florestal lançado há 25 anos no Brasil. Cobrindo uma área total de cerca de dez mil hectares, as plantações próprias de pínus são uma fonte de matéria-prima para a fabricação de EcoLápis e EcoGiz de cera e foram certificadas como “ambientalmente adequadas, socialmente benéficas e economicamente viáveis” pela ONG americana Forest Stewardship Council (FSC). Esse know-how está agora sendo exportado. Em 2011, a empresa iniciou um novo projeto, em parceria com organizações não governamentais da Colômbia. “Nossa ideia é incentivar pequenos fazendeiros e agricultores do País a produzirem a matéria-prima que precisamos”, afirma Carlos Zuccolo, diretor de marketing da Faber-Castell. Segundo ele, os participantes receberão as mudas a serem plantadas, educação ambiental e apoio tecnológico para o desenvolvimento da área. Em contrapartida, a empresa se compromete, no futuro, a adquirir a produção. “É o primeiro projeto do tipo para a Faber-Castell e um dos pioneiros no mundo”, diz Zuccolo.
Renault
As sobras de tinta utilizadas na pintura dos automóveis poderiam gerar uma série de problemas ambientais. Mas, na Renault, essa “lama” que escorre de suas linhas de montagem diariamente é reciclada e transformada em matéria-prima para a produção de peças metálicas. Explica-se: o lodo resultante da pintura dos automóveis contém em sua composição 17% de ferro. Para separar esse componente, a montadora francesa utiliza uma técnica que consiste em retirar a umidade do líquido. O resultado é um pó metálico que é transformado em briquetes para serem enviados às siderúrgicas. “Reciclamos mais de 800 toneladas de lodo por ano”, afirma Luíz Quinalha, diretor de fabricação da companhia.
Meio Ambiente
Unilever
A subsidiária brasileira da Unilever estabeleceu o ano de 2015 para extinguir o processo de envio de resíduos de suas fábricas a aterros sanitários, como parte de um esforço global da companhia anglo-holandesa. Das nove unidades no País, quatro já alcançaram 100% do objetivo antes do tempo: Vinhedo, Goiânia, Pouso Alegre e Indaiatuba. A gestão dos resíduos segue o famoso “Quatro Rs”: reduzir, reutilizar, reciclar e recuperar. Na planta de Vinhedo, por exemplo, é feito o envio de caixas retornáveis ao fornecedor para o transporte de insumos, como frascos e tampas. “Isso reduz o descarte de papel e papelão”, afirma Ligia Camargo, gerente de sustentabilidade da Unilever. Há, também, o reprocessamento de resíduo de óleo de cozinha, usado para fabricação de ração animal. “É aplicável, inclusive, para os resíduos que os funcionários trazem de casa”, afirma Ligia. Em 2012, a Unilever investiu mais de R$ 64 milhões em práticas e projetos de proteção, gestão e redução de impacto ambiental. Desses, aproximadamente R$ 12,7 milhões foram destinados ao tratamento e à disposição de resíduos. Globalmente, a meta da Unilever é dobrar de tamanho até 2020, ao mesmo tempo que trabalha para reduzir pela metade o impacto ambiental de seus produtos.
Ecoassist
A imagem de sofás boiando nos rios, principalmente em dias de chuva forte em São Paulo, inspirou o economista José Augusto Garutti a criar a Ecoassist. Desde janeiro de 2010, a empresa paulista oferece o serviço de descarte ecológico. A Ecoassist recolhe produtos dispensados por consumidores e empresas, como eletroeletrônicos, sofás, colchões, armários, geladeiras e fogões, desmonta-os e envia o material para a indústria recicladora. O processo é homologado e o cliente recebe um certificado de que o resíduo foi corretamente descartado e reciclado. O serviço pode sair de graça se o consumidor tiver uma apólice de seguro residencial da Itaú Seguros ou condominial da Allianz. A Ecoassist movimenta mais de 200 toneladas de lixo mensalmente e está presente em todas as capitais do País.
Diageo
Com ações simples, muitas vezes é possível resolver uma série de problemas. O programa Glass is Good, da empresa de bebidas britânica Diageo, dona da marca de uísque Johnnie Walker e da vodca Smirnoff, é um bom exemplo dessa ideia. A companhia precisava resolver a questão do descarte das embalagens de seus produtos, todas de vidro. Para isso, fez uma parceria com a cooperativa de catadores Vira Lata, do bairro Jardim Boa Vista, na periferia da cidade de São Paulo. O objetivo era coletar os vasilhames diretamente nos bares que vendem as bebidas da empresa, o que acabou aumentando a renda dos catadores. Ao mesmo tempo, a Diageo também melhorou a vida dos donos desses estabelecimentos, que não precisaram mais se preocupar com o descarte dos vasilhames. “Já reciclamos 1,5 mil toneladas de vidro”, afirma Grazielle Parenti, diretora de relações corporativas da Diageo. A iniciativa, que começou em São Paulo, será estendida para o Rio de Janeiro, neste ano, e chegará a oito cidades até 2014.
Educação
Carlyle
Quando saem do escritório do fundo de investimento americano Carlyle, na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, seus funcionários se deparam com uma paisagem de primeiro mundo: lojas de grife e grandes centros comerciais. Apesar do luxo e das facilidades ao redor, quem trabalha para a companhia hoje conhece um Brasil menos glamouroso. Isso porque são engajados nos esforços do Instituto Carlyle. “Muitos de nossos funcionários têm 25 anos e precisavam saber qual é a realidade fora do ambiente da Faria Lima”, afirma Juan Carlos Felix, diretor-geral da Carlyle no País. O caminho encontrado pela companhia para fazer isso foi incentivar a educação. O instituto não gerencia diretamente projetos: ele coleta recursos com investidores, procura ONGs de médio porte e as auxilia para que prestem um serviço de melhor qualidade. A primeira leva de investimentos está em curso. A lista de ONGs que serão beneficiadas deve ser anunciada em breve.“A diferença do instituto para o fundo é que não vendemos a ONG depois de alguns anos,” diz Felix.
Duas Rodas
A octogenária Duas Rodas, especializada em essências e aditivos químicos para a produção de alimentos, com sede em Jaraguá do Sul (SC), está revelando novas empreendedoras Brasil afora. Desde setembro de 2012, o caminhão-escola do projeto “Eu que fiz”, equipado com uma cozinha modelo e salas de aula, já ministrou cursos profissionalizantes gratuitos em oito Estados. A iniciativa garante renda extra a mulheres de comunidades carentes e também capacita empreendedores que trabalham com chocolate artesanal. Nesse período, mais de 2,9 mil pessoas foram treinadas. O objetivo do projeto é quadruplicar esse número nos próximos dois anos.
Fnac
Além de vender livros, DVDs e eletroeletrônicos, a rede francesa Fnac busca disseminar conhecimento. Desde 2000, quando chegou ao Brasil, a ideia de ter espaços em suas lojas para debates, workshops, apresentações e entrevistas foi importada da matriz. Em 2012, mais de 100 mil pessoas participaram de alguns dos dois mil eventos culturais gratuitos que aconteceram nas 11 lojas do País. “Estamos promovendo o acesso à informação”, diz Andréa Moraes, gerente de comunicação e marketing da Fnac. Os temas dos cursos, palestras e debates vão desde o mundo dos games, literatura e tecnologia até como contar uma história para crianças. Neste ano, a Fnac quer ampliar ainda mais o acesso ao conhecimento, pois os eventos serão transmitidos por um canal na web.
Comunidade
ADM
A sétima arte foi a forma encontrada pela americana ADM, uma das maiores processadoras de soja do mundo, para complementar à educação infantil nas comunidades em que atua. Em parceria com a Rede Educare, a empresa criou o projeto “Cinema Popular”. A iniciativa está presente em São Domingos do Capim (PA) e Rondonópolis (MT). O objetivo é levar o projeto para outras regiões. Ana Paula Cruz, responsável pelo “Cinema Popular”, explica que a premissa é fazer da telona algo que apoie o trabalho das escolas locais. Em segundo plano está a possibilidade de oferecer lazer às crianças e aos adolescentes. “O melhor retorno que a empresa pode ter desse tipo de trabalho é a conquista de parceiros na comunidade.” O acervo do “Cinema Popular” se aproxima de 200 filmes e 50 livros sobre a sétima arte.
Scania
Boa parte dos acidentes que acontecem nas rodovias brasileiras envolve motoristas de caminhão. Um problema que fez o governo mudar as regras do setor, reduzindo a jornada de trabalho para a categoria. A sueca Scania, no entanto, se preocupa com esse tema há mais tempo. Desde 2005, a cada dois anos, a filial brasileira promove uma competição para eleger O Melhor Motorista de Caminhão do Brasil. Na edição realizada no ano passado, 47 mil caminhoneiros participaram. “Nosso objetivo é aumentar a qualificação e valorizar a profissão de caminhoneiro”, afirma Roberto Leoncini, diretor-geral da Scania do Brasil. Segundo ele, além das atividades que avaliam a habilidade dos motoristas, o evento conta com palestras sobre temas que vão desde a alimentação na estrada até higiene. “Ser um bom profissional não é só saber dirigir bem”, diz Leoncini.
Impsa
As torres de parques eólicos costumam provocar um estranhamento nos moradores das comunidades quando são erguidas. Isso porque, como são gigantes, alteram radicalmente a paisagem local. O grupo argentino Impsa, especializado na fabricação de aerogeradores, conhece por experiência própria as dificuldades de um processo desse tipo. Por isso decidiu criar algumas ações para minimizar os efeitos provocados nas comunidades que abrigam seus 30 parques eólicos no País. A solução encontrada pela companhia foi investir em projetos na área de educação e promover atividades esportivas e culturais nas escolas dessas regiões. “Conseguimos melhorar o nível de educação das pessoas por meio de palestras e atividades de integração”, afirma José Luis Menghini, vice-presidente da Impsa no Brasil. “Também fizemos outras melhorias, como a instalação de laboratórios de informática em algumas escolas.” Além disso, nas áreas em que é necessário derrubar árvores para instalar os aerogeradores, a companhia constrói estufas de mudas para fazer o replantio. Depois, as estufas são doadas para os moradores locais.
Tecnologia
Não Precisa Anotar
Colocar a tecnologia a serviço da sustentabilidade. Foi com essa ideia que Marco Combat, 28 anos, estudante de sistemas de informação da PUC-Rio, criou um aplicativo para smartphones. O grande diferencial é um sistema de geolocalização de todos os pontos de coleta seletiva da capital fluminense. Neste semestre, será lançada uma nova versão do software “Não Precisa Anotar” para os sistemas Android e iOs, em seis idiomas: português, inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. “No futuro, vamos lançar em japonês e mandarim”, diz Combat, que pretende ver o seu serviço utilizado pelos turistas que visitarão o País nos grandes eventos esportivos e religiosos previstos até 2016.
Geo Energética
A paranaense Geo Energética pode ser definida como uma start-up voltada à sustentabilidade, ao agronegócio e à energia. A mistura desses três segmentos de negócios dá certo graças ao aproveitamento de resíduos da cana-de-açúcar, como vinhaça e palha, partes geralmente descartadas nas usinas. Um processo que vem sendo pesquisado pela Geo desde 2001 torna possível gerar biogás com essas sobras. “A tecnologia pode ser adaptada para qualquer empresa agroindustrial que tenha resíduos, como frango, porco e soja”, afirma Alessandro Gardemann, diretor da companhia. A primeira unidade comercial da Geo foi instalada em uma usina na cidade de Tamboara (PR) e tem capacidade para gerar 4 megawatts por hora, o suficiente para iluminar uma cidade com dez mil habitantes. No ano passado, a Geo faturou R$ 8 milhões e reaproveitou mais de 100 mil toneladas de resíduos, já utilizadas na geração de energia limpa.
Mercedes-Benz
Transferir a tecnologia de ônibus híbridos produzidos na Europa para o Brasil não era propriamente um problema para a Mercedes-Benz. Mas, ao tentar fazer isso, a empresa deparou-se com algumas particularidades do mercado brasileiro que exigiram o desenvolvimento de aplicações específicas. O ônibus híbrido totalmente nacional foi lançado exatamente para atender à realidade nacional. Segundo Curt Axthelm, gerente de marketing de ônibus da Mercedes-Benz, graças à parceria com a Eletra, empresa especializada em tecnologia de tração elétrica, foi possível substituir as baterias de lítio – muito comuns no Exterior, mas com alta complexidade de manutenção – por similares produzidas no Brasil. O uso da tecnologia desenvolvida aqui ajudou a empresa a reduzir o preço dos carros. Entre os principais componentes estão a bateria de fundo ácido, já utilizada em ônibus convencionais, e o motor fabricado pela catarinense Weg. A expectativa da empresa é de que a médio prazo os veículos já poderão transportar passageiros nas cidades brasileiras. 

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