Tapar o Sol com uma peneira
O Sol é, como todos sabemos, a
fonte primária de energia para o sistema climático da Terra e de todos os
demais planetas que o orbitam. Mas a quantidade de energia que chega a um
planeta é apenas um dos fatores que determinam o seu clima.
Cerca de 30% da luz solar que
chega à Terra é simplesmente devolvida ao espaço, por ser refletida
especialmente pelas nuvens que sempre cobrem parte do nosso planeta e por
superfícies claras (como a areia dos desertos e, principalmente, o gelo das
calotas). Os 70% restantes são absorvidos pelo solo, pelas florestas e demais
tipos de vegetação, mas principalmente pelos oceanos, que ocupam 71% da
superfície do planeta e refletem pouca luz. Essa energia absorvida aquece o
planeta e, como todo objeto, a Terra passa a emitir ondas eletromagnéticas
cujas características dependem da temperatura. Nas temperaturas típicas da
Terra, o próprio planeta, nós e os objetos ao nosso redor irradiamos na faixa
do infravermelho. Assim como a luz, o infravermelho é uma onda eletromagnética,
mas de frequência de oscilação mais baixa e “comprimento de onda” mais longo.
Ele não é detectado por nossos olhos (que também não nos permitem enxergar nem
ondas de rádio, nem ultravioleta, nem raios X, dentre tantas outras radiações
de onda mais longa ou mais curta do que a luz visível), mas nas tragédias das
guerras é o que permite que mísseis persigam seus alvos (como aeronaves) e que,
com o auxílio de óculos específicos, soldados possam ver outras pessoas e
veículos, mesmo na completa escuridão. Quanto mais quente o objeto, mais
infravermelho é emitido, mais alta é a frequência e mais curto é o comprimento
de onda.
Se a historinha parasse por aí,
com a Terra recebendo luz visível e emitindo infravermelho diretamente da sua
superfície para o espaço, não teríamos o planeta belo e acolhedor no qual
evoluíram todas as formas de vida, incluindo nossa espécie. A temperatura média
da superfície da Terra seria de gélidos -18°C, ao invés de aprazíveis 15°C. E
isso acontece não somente porque nosso planeta tem uma atmosfera, mas porque
existem mais coisas entre o espaço e a Terra do que moléculas de Nitrogênio e
Oxigênio (que respondem, respectivamente, por 78% e 21% do ar que respiramos).
Na verdade, alguns gases, bastante minoritários em nossa atmosfera (principalmente
vapor d’água e dióxido de carbono, ou CO2) possuem 3 ou mais átomos na molécula
e, por isso, têm uma propriedade: a de absorver infravermelho. Isso faz toda a
diferença!
É possível que gases que
constituem uma fração tão minoritária possam influenciar o clima? A resposta é
sim! A interação entre certas moléculas e determinadas frequências de radiação
eletromagnética faz mais parte do cotidiano do que se imagina. Num forno de
micro-ondas, nem todas as moléculas absorvem as ondas eletromagnéticas que
oscilam na frequência de 2450 MHz (dois bilhões e meio de oscilações por
segundo). Inicialmente, são as moléculas da água que absorvem a grande maioria
da energia das micro-ondas, mas ao fazê-lo, estas se aquecem, sendo o calor
então repassado a todo o alimento.
Portanto, quando um planeta é
recoberto por uma atmosfera que contenha mesmo pequenas frações dos chamados
gases de efeito estufa. A Terra absorve parte da luz solar que chega e emite
infravermelho. Devido a esses gases, parte desse infravermelho não passa
diretamente para o espaço, sendo absorvido na atmosfera, que também se aquece.
A atmosfera, então, passa a emitir infravermelho para cima (ou seja, enviando
mais infravermelho para o espaço), mas também emite infravermelho para baixo,
devolvendo energia para a superfície da Terra. Esta, portanto, se torna mais
quente do que seria sem a presença desses gases na atmosfera do planeta. O fato
de parte do calor ser aprisionado, como numa estufa, é que deu o nome a esse
fenômeno, cuja existência foi prevista por Joseph Fourier em 1824 e observado
experimentalmente por John Tyndall, 35 anos depois. Svante Arrhenius, em 1896
foi o primeiro cientista ao apresentar estimativas quantitativas da influência
desse efeito sobre o clima da Terra. Na figura, os valores numéricos estão em
Watts por metro quadrado, ou W/m2 (por exemplo, os 342 W/m2 de luz solar que
chegam em média à Terra, equivalem a 17 lâmpadas fluorescentes de 20 W cada,
dispostas em uma área de um metro quadrado, ou a uma batedeira , na mesma área,
ou ainda a um ferro de passar de pouco menos de 1400W em uma área de 2m por
2m).
A estabilidade climática, existe
quando a quantidade de energia solar que chega à Terra (235 W/m2, já
descontando o que é refletido) é balanceada pelo infravermelho emitido para o
espaço (mesmo valor). Este número é uma fração (cerca de 60%) do infravermelho
emitido pela superfície (390 W/m2), já que parte deste é “interceptado” pela
atmosfera.
Ora, o que se deve esperar ao se
aumentar a proporção de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre? Uma
fração menor da radiação emitida pela superfície passaria pela atmosfera. Para
que o infravermelho emitido ao espaço continuasse balanceando a luz solar e
apenas metade da radiação terrestre passasse (ao invés de 60%), seriam
necessários 470 W/m2 e não mais 390. Mas isto só seria possível se a superfície
estivesse mais quente, ou, para ser mais exato, a uma temperatura 13 graus
acima da do clima presente!
Mas é exatamente o aumento desses
gases na atmosfera terrestre, o que se tem observado! As proporções de dióxido
de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) tem crescido vertiginosamente desde o início da
era industrial e esse aumento casa perfeitamente com o aquecimento observado do
sistema climático terrestre desde então, como mostramos no início deste texto. As
concentrações destes gases (em partes por milhão em volume, ou ppm, no caso do
CO2 e em partes por bilhão, ou ppb, no caso dos demais gases) mudaram nos
últimos 10 mil anos (com “zoom” nos últimos 300 anos) e qual a “forçante
radiativa”, uma medida da energia aprisionada no sistema terrestre em função do
aumento da concentração desses gases. Em 2005, a estimativa era de que o
aumento do CO2 na atmosfera (cuja concentração então era de 379 partes por
milhão e hoje em dia ultrapassou 390) já contribuía para aquecer a Terra com uma
forçante de +1,66 W/m2 (com pequena incerteza para mais ou para menos) um valor
bastante significativo para o aquecimento do sistema climático terrestre. Os
demais gases de efeito estufa (o que inclui também os halocarbonetos) entram
com algo muito próximo de 1 W/m2 a mais.
A dimensão da forçante radiativa
dos gases de efeito estufa, por sinal, é grande o suficiente para suplantar
quaisquer efeitos naturais. O Sol, por exemplo, tem um ciclo bem conhecido de
11 anos, durante o qual a energia que ele lança para o espaço varia em 0,1%, o
que, do ponto de vista do clima terrestre, significa uma forçante radiativa de
0,24 W/m2. Considerando um período de longo prazo, as estimativas são de que as
mudanças na atividade solar desde o período conhecido como “mínimo de Maunder”,
no século XVII até hoje têm contribuído com quase zero (isso mesmo!) a, na
estimativa maior, +0,68 W/m2. Percebam que, baseando-se nos especialistas que estudam
a Física do Sol, o IPCC não poderia fazer outra coisa a não ser atribuir às
variações de atividade solar uma forçante radiativa de aquecimento bastante
modesta, de poucos décimos de W/m2. Chegamos à conclusão inevitável de que a
contribuição da variabilidade solar para o clima desde o século XVII é várias
vezes menor do que a dos gases de efeito estufa. Considerando estimativas a
partir do século XVIII (e não XVII), fica mais claro que o papel do Sol é ainda
menos significativo (forçante radiativa estimada de apenas +0,12 W/m2). As
variações de temperatura e irradiância solar total desde 1880 até o início do
século XXI sugere que o Sol pode ter contribuído para o aquecimento verificado
no início do século XX. Porém, especialmente a partir da década de 1970, a
atividade solar entrou em declínio e portanto não há relação possível entre o
comportamento do Sol e o aquecimento pronunciado, observado no sistema
climático terrestre desde então.
A outra questão fundamental diz
respeito à origem desses gases que têm se acumulado na atmosfera terrestre.
Como saber, por exemplo, se o aumento de CO2 atmosférico se deve a atividades
humanas e não a causas naturais? A resposta está nos chamados isótopos, isto é,
átomos do mesmo elemento químico que diferem entre si pelo número de nêutrons
no núcleo e, portanto, tem massa distintas. Sua proporção nos tecidos orgânicos
mortos diminui a um ritmo constante com o passar do tempo, o que permite que
este seja usado em datação. Numa amostra de 14C, metade dos átomos se
desintegra a cada 5730 anos.
Quando as plantas realizam
fotossíntese, absorvem CO2 da atmosfera, mas dão “preferencia” às moléculas
contendo o isótopo leve, isto é, 12C, que difundem mais rápido e chegam antes
ao interior das células. Ao final, as plantas contém uma proporção menor de 13C
do que a atmosfera e, como 12C e 13C são estáveis, essa proporção é mantida
quando o vegetal morre.
Os combustíveis fósseis, isto é,
carvão, petróleo e gás natural provêm de plantas que morreram há milhões de
anos e, portanto, também contém uma proporção menor de 13C do que a atmosfera.
À medida que o CO2 na atmosfera tem aumentado de forma constante, a sua
composição isotópica mudou na mesma proporção. Hoje, a proporção de moléculas
desse gás contendo 13C diminuiu na exata proporção esperada pela queima de
matéria de origem vegetal. A resposta é dada pelo “primo” radioativo, o 14C. Os
combustíveis fósseis, sendo de milhões de anos de idade, não tem nenhum C14.
Adicionando carbono antigo deveria ter reduzido a proporção de C14 na
atmosfera, e de fato reduziu. Durante os últimos 50 anos, enquanto a quantidade
de carbono na atmosfera tem aumentado, a proporção de C14 diminuiu
progressivamente.
Neste crime (aquecimento global),
o exame de balística mostrou qual é a arma (gases de efeito estufa,
principalmente CO2) e havia impressões digitais dos criminosos, isto é, dos
combustíveis fósseis. Estão esperando o que para deixá-los presos?
Fonte: www.ecodebate.com.br
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