O Cerrado Brasileiro


É a segunda maior formação vegetal brasileira. Estendia-se originalmente por uma área de 2 milhões de km², abrangendo dez estados do Brasil Central. Hoje, restam apenas 20% desse total. Típico de regiões tropicais, o cerrado apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Com solo de savana tropical, deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneas, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal. A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua biodiversidade.
Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam ali. Essa riqueza biológica, porém, é seriamente afetada pela caça e pelo comércio ilegal. O cerrado é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. Atualmente, vivem ali cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros. A atividade garimpeira, por exemplo, intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento. A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Na economia, também se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se expandir principalmente a partir da década de 80. Nos últimos 30 anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do cerrado. Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas.
Pequenas árvores de troncos torcidos e recurvados e de folhas grossas, esparsas em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturando-se, às vezes, com campos limpos ou matas de árvores não muito altas, esses são os Cerrados, uma extensa área de cerca de 200 milhões de hectares, equivalente, em tamanho, a toda a Europa Ocidental. A paisagem é agressiva, e por isso, durante muito tempo, foi considerada uma área perdida para a economia do país.
Entre as espécies vegetais que caracterizam o Cerrado estão o barbatimão, o pau-santo, a gabiroba, o pequizeiro, o araçá, a sucupira, o pau-terra, a catuaba e o indaiá. Debaixo dessas árvores crescem diferentes tipos de capim, como o capim-flecha, que pode atingir uma altura de 2,5m. Onde corre um rio ou córrego, encontram-se as matas ciliares, ou matas de galeria, que são densas florestas estreitas, de árvores maiores, que margeiam os cursos d’água. Nos brejos, próximos às nascentes de água, o buriti domina a paisagem e forma as veredas de buriti.
Os Cerrados apresentam relevos variados, embora predominem os amplos planaltos. Metade do Cerrado situa-se entre 300 e 600m acima do nível do mar, e apenas 5,5% atingem uma altitude acima de 900m. Em pelo menos 2/3 da região o inverno é demarcado por um período de seca que prolonga-se por cinco a seis meses. Seu solo esconde um grande manancial de água, que alimenta seus rios.
A presença humana na região data de pelo menos 12 mil anos, com o aparecimento de grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais. Só recentemente, há cerca de 40 anos, é que começou a ser mais densamente povoada.
Caracterização do Cerrado
A província do cerrado, como denominada por EITEN, englobando 1/3 da biota brasileira e 5% da flora e fauna mundiais.É caracterizada por uma vegetação savanícola tropical composta, principalmente de gramíneas, arbustos e árvores esparsas, que dão origem a variados tipos fisionômicos, caracterizados pela heterogeneidade de sua distribuição.  
Muitos autores aceitam a hipótese do oligotrofismo distrófico para formação do Cerrado, sua vegetação com marcantes característica adaptativas a ambientes áridos, folhas largas, espessas e pilosas, caule extremamente suberizado, etc. Contudo apesar de sua aparência xeromórfica, a vegetação do cerrado situa-se em regiões com precipitação média anula de 1500 mm, estações bem definidas, em média com 6 meses de seca, solos extremamente ácidos, profundos, com deficiência nutricional e alto teor de alumínio.
Segundo EITEN os  tipos fisionômicos do cerrado (latu sensu) se distribuem de acordo com três aspectos do substrato onde se desenvolvem: a fertilidade e o teor de alumínio disponível; a profundidade; e o grau de saturação hídrica da camada superficial e subsurpeficial.
Principais tipos de vegetação
TIPOS DE INTERFLÚVIO
Cerrado (strictu sensu), é a vegetação característica do cerrado, composta por exemplares  arbustivo-arbóreos, de caules e galhos grossos e retorcidos, distribuídos de forma ligeiramente esparsa, intercalados por uma cobertura de ervas, gramíneas e espécies semi-arbustivas.
Floresta mesofítica de interflúvio (cerradão), este tipo de vegetação cresce sob solos bem drenados e relativamente ricos em nutrientes, as copas das árvores, que medem em média de 8-10 metros de altura, tocam-se o que denota um aspecto fechado a esta vegetação.
 Campo rupestre, encontrado em áreas de contato do cerrado com o caatinga e floresta atlântica, os solos deste tipo fisionômico são quase sempre rasos e sofrem bruscas variações em relação a profundidade, drenagem e conteúdo nutricional. É caracteristicamente, composto por uma vegetação arbustiva de distribuição aberta ou fechada.
Campos litossólicos miscelâneos, são caracterizados pela presença de um substrato duro, rocha mãe, e a quase inexistência de solo macio, este quando presente não ocupa mais que poucos centímetros de profundidade até se deparar com a camada rochosa pela qual não passam nem umidade nem raízes. Sua flora é caracterizada por um tapete de ervas latifoliadas ou de gramíneas curtas, havendo em geral a ausências de exemplares arbustivos, ou a presença de raríssimos espécimes lenhosos, neste caso enraizados em frestas da camada rochosa.
Vegetação de afloramento de rocha maciça, representada por cactos, liquens, musgos, bromélias, ervas e raríssimas árvores e arbustos, cresce sob penhascos e morros rochosos.
TIPOS ASSOCIADOS A CURSOS D'ÁGUA
Florestas de galerias e florestas de encosta associadas, são tipos de vegetação que ocorrem de modo adjacente, estão associados a proximidade do lençol freático da superfície do solo. Assim como as florestas mesofíticas, constituem um tipo florestal, contudo estão situadas sob solos mais férteis e com maior disponibilidade hídrica, o que lhes atribui uma característica mais densa.
Buritizais e veredas, ocorrem nos fundos vales em áreas inundadas, inviáveis para o desenvolvimento das florestas de galerias. São caracterizados pela presença dos denominados "brejos" e a ocorrência de agrupamento de exemplares de buriti (Mauritia vinifera M.), nas áreas mais úmidas, e babaçu (Orbignya barbosiana B) e carnaúba (Copernicia prunifera M), em éreas mais secas.
Campo úmido, caracterizado por um campo limpo, com raras espécimes arbóreas,  que permanece encharcado durante a época chuvosa e ressecado na estação seca, ou no final desta, em geral constitui uma área de transição que separa a floresta de galeria ou vereda do cerrado de interflúvio.
Distribuição do cerrado
O cerrado é a segunda maior região biogeográfica do Brasil, se estende por 25% do território nacional, cerca de 200 milhões de hectares (4), englobando 12 estados. Sua área "core", ou nuclear, ocupa toda a área do Brasil central, incluindo os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o oeste e norte de Minas Gerais, oeste da Bahia e o Distrito Federal.
Prolongações da área "core" do cerrado, denominadas áreas marginais, estendem-se, em direção ao norte do país, alcançando a região centro-sul do Maranhão e norte do Piauí, para oeste, até Rondônia, existem ainda fragmentos desta vegetação, formando as áreas disjuntas do cerrado, que ocupam 1/5 do estado de São Paulo, e os estados de Rondônia e Amapá.
Podem ser encontradas ainda manchas de Cerrado incrustadas na região da caatinga, floresta atlântica e floresta amazônica.
Devido a sua localização, o cerrado, compartilha espécimes com a maioria dos biomas brasileiros (floresta amazônica, caatinga e floresta atlântica). devido a esse fato possui uma biodiversidade comparável a da floresta amazônica. Contudo devido ao alto grau de endemismo, cerca de 45% de suas espécies são exclusivas de algumas regiões (4), e a ocupação desordenada e destrutiva de sua área o cerrado é hoje o ecossistema brasileiro que mais sofre agressões por parte do "desenvolvimento".
Conservação
 Intencionalmente deixamos para discutir por último este fator, de extraordinária importância para o Bioma do Cerrado, seja pelos múltiplos e diversificados efeitos ecológicos que exerce, seja por ser ele uma excelente ferramenta para o manejo de áreas de Cerrado, com objetivos conservacionistas. "Mas"... o leitor diria intrigado: "como conservar, ateando fogo ao Cerrado?". A resposta é simples: proteção total e absoluta contra o fogo no Cerrado é uma utopia, é extremamente difícil. O acúmulo anual de biomassa seca, de palha, acaba criando condições tão favoráveis à queima que qualquer descuido com o uso do fogo, ou a queda de raios no início da estação chuvosa, acabam por produzir incêndios tremendamente desastrosos para o ecossistema como um todo, impossíveis de serem controlados pelo homem. Neste caso é preferível prevenir tais incêndios, realizando queimadas programadas, em áreas limitadas e sucessivas, cujos efeitos poderão ser até mesmo benéficos. Tudo depende de sabermos manejar o fogo adeqüadamente, levando em conta uma série de fatores, como os objetivos do manejo, a direção do vento, as condições de umidade e temperatura do ar, a umidade da palha combustível e do solo, a época do ano, a freqüência das queimadas etc. É assim que se faz em outros biomas savânicos, semelhantes aos nossos Cerrados, de países como África do Sul, Austrália, onde a cultura ecológica é mais científica e menos emocional do que a nossa.
 "Mas..." diria ainda o leitor: "... e quando o homem não estava presente em tais regiões, no passado remoto, incêndios desastrosos também não ocorriam em consequência dos raios? Não seria melhor deixar queimar, então, naturalmente?". Grandes incêndios certamente ocorriam, só que não eram desastrosos. Não existiam cercas de arame farpado prendendo os animais. Eles podiam fugir livremente do fogo, para as regiões vizinhas. Por outro lado, áreas eventualmente dizimadas pelo fogo podiam ser repovoadas pelas populações adjacentes. Hoje é diferente. Além das cercas, a vizinhança de um Parque Nacional ou qualquer outra unidade de conservação, é formada por fazendas, onde a vegetação e a fauna natural já não mais existem. O Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás, por exemplo, é uma verdadeira ilha de Cerrado, em meio a um mar de soja. Se a sua fauna for dizimada por grandes incêndios, ele não terá como ser naturalmente repovoado, uma vez que essa fauna já não mais existe nas vizinhanças. Manejar o fogo em unidades de conservação como esta é uma necessidade urgente, sob pena de vermos perdida grande parte de sua biodiversidade.
Poucas são as nossas unidades de conservação, com áreas bem significativas, onde o Cerrado é o bioma dominante. Entre elas podemos mencionar o Parque Nacional das Emas (131.832 ha), o Parque Nacional Grande Sertão Veredas (84.000 ha), o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (33.000 ha), o Parque Nacional da Serra da Canastra (71.525 ha), o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (60.000 ha), o Parque Nacional de Brasília (28.000 ha). Embora estas áreas possam, à primeira vista, parecer enormes, para a conservação de carnívoros de maior porte, como a onça-pintada e a onça-parda, por exemplo, o ideal seria que elas fossem ainda maiores.
Se considerarmos que cerca de 45% da área do Domínio do Cerrado já foram convertidos em pastagens cultivadas e lavouras diversas, é extremamente urgente que novas unidades de conservação representativas dos cerrados sejam criadas ao longo de toda a extensão deste Domínio, não só em sua área nuclear mas também em seus extremos norte, sul, leste e oeste. A criação de unidades de conservação com áreas menos significativas não deve, todavia, ser menosprezada. Quando adequadamente manejadas, elas também são de enorme importância para a preservação da biodiversidade. Só assim se conseguirá, em tempo, conservar o maior número de espécies de sua rica e variadíssima flora e fauna.
A grande maioria das atuais unidades de conservação, sejam elas federais, estaduais ou municipais, acha-se hoje em uma situação de completo abandono, com sérios problemas fundiários, de demarcação de terras e construção de cercas, de acesso por estrada de rodagem, de comunicação, de gerenciamento, de realização de benfeitorias necessárias, de pessoal em número e qualificação suficientes etc. Quanto ao manejo de sua fauna e flora, então nem se fale. Pouco ou nada se faz para conhecer as populações animais, seu estado sanitário, sua dinâmica etc. Admite-se "a priori" que elas estão bem pelo simples fato de estarem "protegidas" por uma cerca, quando esta existe. Na realidade, isto poderá significar o seu fim. Problemas de consangüinidade, viroses, verminoses, epidemias, poderão estar ocorrendo entre os animais, dizimando-os dramaticamente, e nem se sabe disto. Pesquisas a médio e longo prazo são essenciais para que possamos compreender o que acontece com as populações animais remanescentes nos cerrados. Paralelamente, espécies exóticas de gramíneas, principalmente as de origem africana, como o capim-gordura, o capim-jaraguá, a braquiária, estão invadindo estas unidades de conservação e substituindo rapidamente as espécies nativas do seu riquíssimo estrato herbáceo/subarbustivo. Dentro de alguns anos, ou décadas que seja, estas unidades transformar-se-ão em verdadeiros pastos de gordura, jaraguá ou braquiária e terão perdido, assim, toda a sua enorme riqueza de espécies de outrora.

Comentários

  1. Olá. Gostaria de seguir o seu blog. Como faço?
    Obrigada por estar no meu, o blog Fabiane Vargens - Teatro Social e Cultura Popular. Valeu e força na caminhada.
    Abraço

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