Erga o copo e brinde aos rios
Você não precisa fazer os votos
de um monge para viver segundo princípios religiosos. Pode respeitar os valores
de sua crença e também se casar, ter filhos, exercer uma atividade profissional
e curtir o lazer! Da mesma forma, você não precisa fazer grandes sacrifícios e
mudar radicalmente sua vida para viver de acordo com uma ética ambiental.
Algumas mudanças, aliás, são tão
simples de fazer que nem arranham a zona de conforto. Tudo que a gente precisa
é PENSAR UM POU-QUI-NHO e mudar hábitos… inúteis! O exemplo de hoje é: CANUDOS.
Vamos fazer uma breve reflexão
para quem ainda não ficou indignado, inconformado, profundamente incomodado com
essa verdadeira praga ambiental. Imagine a seguinte sequencia:
Você resolve preparar um bolo.
Pedala até o mercado pensando na greve dos caminhões e na dependência do
petróleo, na ração que não chegou para as vacas e as galinhas, o cacau e a mão
de obra análoga à escravidão. Compra farinha, ovos caipiras, leite, manteiga,
chocolate. Volta pra casa carregando tudo na sacola feita com banner
reaproveitado. Dedica uns 40 minutos ao preparo e põe pra assar. Depois de
esfriar, desenforma e se prepara para servir.
E então… POFT, o bolo se espatifa
no chão. Pqp. Passa o filme na sua mente: as vacas, as galinhas, o cacau, os
caminhões, o óleo diesel, o gás de cozinha, o seu dinheiro, o tempo. Recolhe as
migalhas, irritado e triste, e joga tudo no minhocário.
Ok, digamos que nosso personagem
não é tão “ecológico” assim, nem pensa nos recursos naturais e trabalho
“impregnados” nos ingredientes; e só se preocupa com o tempo e o dinheiro.
Mesmo assim, vai ficar revoltado com o desperdício.
Sequencia nº2: gigantescos navios
sonda fabricados em estaleiros descomunais perfuram campos petrolíferos
submarinos. Depois de passar por várias etapas de refino em caldeiras
monumentais, ser carregado por milhares de km em carretas a diesel, o espesso
petróleo vira canudinho. Embalado em plástico transparente, é entregue junto
com um copo de vitamina.
Nem presta atenção no que faz.
Rasga a embalagem e enfia o canudo no copo, dá uma mexidinha no açúcar. Depois
de cinco minutos, aquele subproduto de petróleo, que levou semanas para chegar
até ali, consumindo toneladas de recursos energéticos, impactando diversos
ecossistemas deixando uma imensa pegada de carbono, vai para o LIXO.
Foi útil por instantes. Será um
dano por SÉCULOS. Na melhor das hipóteses, será reciclado, mas isso também
consome energia. Na mais comum, vai para um aterro ou pior, um lixão. Na mais
horrenda e nada incomum, termina em um rio, deságua no mar, se decompõem em
microplástico e entra na cadeia alimentar. Isso se não parar enfiado no nariz
de uma tartaruga.
“Pescou” onde quero chegar, né? -
Estamos enchendo o mundo e os mares de plástico. Uma parte dele é necessária,
apropriada, precisa ser mais bem aproveitada, tem de ter sua vida útil
prolongada ao máximo. Depois de esgotarem todas as suas possibilidades naquele
formato e com aquele uso, ou já em outro formato e com uso alternativo, que
seja reciclado. Se não tiver como, que seja utilizado como fonte de energia. Se
não for possível, que seja descartado da maneira menos danosa possível!
Ou seja, o plástico que serve
para alguma coisa, e muito dele serve SIM e substitui com vantagens (ambientais
inclusive) outros materiais, dá um trabalho “eterno” porque uma de suas
qualidades é um problema: ele é muito resistente e durável. Então se tem um
plástico que podemos perfeitamente viver bem sem; cuja ausência não vai fazer
praticamente falta nenhuma; que em 99,9% das vezes, nem precisa ser substituído
por outro material… Eu sugiro, apelo, suplico: pare de consumi-lo!
Tudo mais na sua vida pode
continuar igual. Se você já se preocupa com a sustentabilidade da vida humana
na Terra, sua contribuição positiva será um pouco maior. Se não… Se ainda não
se preocupa com as mudanças climáticas, e se dá o direito de demorar no banho
porque paga as contas em dia, não se anima a trocar o carro por bicicleta para
ir até a padaria, pega sacolinha no mercado porque vai reutilizar como saco de
lixo, mistura o lixo todo porque da trabalho separar, eu acho que você está
precisando rever seus conceitos, mas não vamos discutir por causa disso agora
(outra hora, sim (risos)). Vamos combinar o seguinte: você faz o esforço
ridículo de dizer “sem canudo, obrigada” e o movimento facílimo de levar o copo
até a boca, e sem nenhum outro sacrifício passa a ter uma atitude ecológica.
Bridemos a isso? Saúde!
Fonte: Soninha Francine - Jornalista
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