Crise na ciência brasileira
A crise de financiamento pela
qual a ciência brasileira atravessa atualmente não se deve apenas à falta de
recursos, mas de visão estratégica e de uma política de Estado que compreenda a
necessidade de aumentar os investimentos no setor para assegurar a
competitividade e promover o desenvolvimento econômico e social do país.
A avaliação foi feita por
participantes do encontro “É o fim? Um debate sobre os rumos da ciência no
Brasil e inspirações de Berlim”, realizado no dia 1º de fevereiro 2018 no
espaço de eventos da Fnac Paulista.
O evento, que fez parte das
atividades do Berlin Science Communication Award, promovido pela
Humboldt-Universität zu Berlin e financiado pela Sociedade Alemã de Amparo à
Pesquisa (DFG), com apoio do Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha
(BMBF), reuniu pesquisadores e jornalistas científicos para debater sobre o
cenário atual e as perspectivas da ciência no Brasil.
“Os investimentos federais em
ciência no Brasil nos últimos anos vêm despencando em queda livre,
independentemente do governo”, disse Helena Nader, professora da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente de honra da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC).
De acordo com dados apresentados
por Nader, 31,6% das despesas financeiras e primárias do Brasil em 2015, por
exemplo, foram com amortização de dívida e 8,7% com o pagamento de juros, e
somente 5,8% relacionadas a despesas discricionárias, que são aquelas que o
Estado pode ou não executar, de acordo com a previsão de receitas.
Nessa categoria de despesas estão
incluídos os setores de educação, saúde, defesa e ciência e tecnologia. Esse
último recebeu apenas 5,6% do total de recursos destinados para o pagamento de
despesas discricionárias em 2015. “[O baixo investimento em ciência e
tecnologia] representa uma opção do Estado brasileiro”, avaliou Nader.
A opinião foi compartilhada por
Paulo Artaxo, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).
O orçamento geral da União em
2018 deverá ser 1,7% maior do que o de 2017. O orçamento para custeio e
investimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
(MCTI), contudo, deverá sofrer um corte de 56%, também em relação a 2017, comparou
Artaxo.
“Há quem diga que o problema da
ciência brasileira é a falta de recursos, como se fosse uma questão de
contabilidade. Mas não é. O que aconteceu é que mudaram as prioridades”,
afirmou. A crise pela qual a ciência brasileira passa também não é exclusiva do
setor e faz parte da crise do Estado como um todo, ponderou o pesquisador.
“A crise não é só da ciência
brasileira, mas do Estado. Portanto, a ciência brasileira não vai sair dessa
crise enquanto o país também não sair da crise institucional na qual está
imerso”, disse Artaxo.
O que o Brasil tem a perder com
isso? Muito.
Fonte: Fapesp
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