Brasil - Apenas 30% das cidades têm planos municipais de saneamento
Apenas 30,4% das cidades
brasileiras têm planos municipais de saneamento básico. É o que aponta um
estudo do Instituto Trata Brasil divulgado nesta segunda-feira (21 agosto 2017)
com exclusividade pelo G1, feito com base em dados do governo federal.
Segundo o levantamento da
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, ligada ao Ministério das Cidades,
das 5.570 cidades brasileiras, apenas 1.692 (30,4%) declararam ter feito seus
planos municipais. Outras 37,5% das cidades estão com os planos em andamento.
Além disso, 2% das cidades apresentaram inconsistências nos dados, e não há
informações sobre 29,9%.
Os planos estão previstos na Lei
11.445 de 2007, conhecida como a Lei do Saneamento Básico. A legislação prevê a
universalização dos serviços de abastecimento de água e de tratamento da rede
de esgoto no país, sendo que um dos principais pilares é a elaboração de um
plano municipal do setor para cada cidade.
Dados do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgados em janeiro deste ano e
referentes a 2015, mostram que cerca de 34 milhões de brasileiros não possuem
acesso a água potável. Além disso, apenas 50,3% dos brasileiros têm acesso a
coleta de esgoto, o que significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizam
medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de uma fossa,
seja jogando o esgoto diretamente em rios.
Além da importância de
estabelecer metas e diretrizes para o saneamento local, o plano municipal é
importante porque a sua existência será condição para o acesso da cidade a
recursos federais na área de saneamento.
Por conta das dificuldades, os
prazos estabelecidos para as prefeituras elaborarem os planos foram
prorrogados, passando de 2013 para 2015 e, posteriormente, para 31 de dezembro
de 2017. Isso quer dizer que, caso este prazo não seja prorrogado novamente, ter
o plano será condição de acesso aos recursos federais de saneamento a partir de
2018.
“As postergações que ocorreram
foram muito prejudiciais, pois não privilegiaram quem tinha feito o plano e não
puniram quem não fez. Passou uma imagem muito ruim de pouca seriedade nesses
prazos e de que, perto da data, ele vai ser prorrogado novamente”, afirma
Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil.
“A gente devia estar cobrando a
revisão dos planos, mas estamos cobrando a elaboração. Estamos bem atrasados.”
Dificuldades e falta de estímulo – Segundo Édison Carlos, essa falta de seriedade é
um dos motivos por trás do baixo percentual de cidades com planos, mas não o
único. “Um plano de saneamento é um estudo de engenharia, que exige profissionais
capacitados. As cidades, principalmente as pequenas e as médias, argumentam que
não têm esses profissionais e não conseguem contratar serviços de assessorias e
consultorias, pois não têm recursos”, afirma.
“Também há muita falta de
vontade. Estamos há 10 anos da lei, então já era possível a cidade achar algum
caminho para elaborar o plano, seja pedindo ajuda ao governo do estado, seja
pedindo ajuda federal. Houve baixo interesse, e as postergações dos prazos
passaram a imagem de que aquilo poderia ser deixado mais para a frente.”
Dos 30,4% dos municípios que
declararam ter um plano, 85,5% têm população inferior a 50 mil habitantes, algo
que, segundo o presidente do Trata Brasil, mostra que “mesmo cidades pequenas
têm encontrado apoio” quando há interesse.
Diferenças regionais – Os únicos três estados onde mais de 50% dos
municípios fizeram seus planos foram Santa Catarina (86%), São Paulo (64%) e
Rio Grande do Sul (54%). Em número de cidades, São Paulo foi o estado que mais
avançou, com 411 dos 645 municípios com planos.
Em 15 estados, menos de 20% dos
municípios fizeram os planos, o que mostra as dificuldades para atingir a
obrigatoriedade da lei. Os maiores gargalos estão nos estados do Norte,
especialmente nos estados de Amapá (0%), Pará (15%) e Rondônia (10%).
“O Norte, assim como o Nordeste,
está muito abaixo dos indicadores médios do Brasil. Muitos estados também estão
em situação financeira tão ruim que não conseguem dar apoio aos municípios”,
diz Édison.
A região Norte tem os piores
índices de saneamento do país: 56,9% para cobertura de água, 8,7% para esgoto e
16,4% para esgoto tratado, segundo dados do SNIS 2015.
Já o Sudeste, cuja proporção de
cidades com planos é mais alta que a média nacional, é a região com a melhor
situação de saneamento no país: 91,2% (água), 77,2% (esgoto) e 47,4%
(tratamento de esgoto).
Apoio técnico e eventos – A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental
informou que considera os planos municipais como fundamentais para o
desenvolvimento das políticas públicas de saneamento. Em nota, informou que
“vem apoiando os municípios no processo de elaboração de seus planos municipais
por meio de disponibilização de materiais técnicos de apoio e de diversos
eventos de capacitação, bem como apoia diretamente diversos municípios e
consórcios na elaboração de planos de saneamento básico, que foram contratados
após seleção pública do PAC”.
Quanto ao percentual de
municípios que declararam possuir o plano, a secretaria destacou que “além
destes (1.692 Municípios, cerca de 30%), o ‘Panorama dos Planos Municipais de
Saneamento Básico’ aponta que outros 2.092 municípios (cerca de 40%) informaram
estar elaborando-os”. “Assim, aproximadamente 70% dos municípios brasileiros
possuem ou estão elaborando seus planos municipais.”
Questionada sobre o prazo de 31
de dezembro para a elaboração dos planos, a secretaria informou que “não tem
conhecimento de qualquer movimentação para alteração deste prazo”.
Fonte: G1
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