Transportes devem estar no centro de políticas de baixo carbono no Brasil
O Acordo de Paris, que entrou em
vigor na última sexta-feira (4 novembro 2016), converteu a promessa de redução
das emissões em um compromisso legal, cujo objetivo central é manter a
temperatura média global 2ºC abaixo dos níveis pré-industriais. Ao ratificar o
Acordo em setembro deste ano, o Brasil se comprometeu, por meio da Contribuição
Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), a reduzir 37% das emissões
absolutas até 2025, com indicativo subsequente de 43% até 2030, com base nas
emissões de 2005.
Dentre os setores produtivos, o
transporte foi um dos que apresentaram as mais elevadas taxas de crescimento no
consumo de energia e de emissão de GEE entre os anos de 1990 e 2012, de acordo
com a Análise da Evolução das Emissões de GEE no Brasil, pesquisa realizada
pelo Observatório do Clima. Segundo o relatório, as emissões do setor passaram
de 84 milhões de toneladas em 1990 para 204 milhões em 2012.
Uma combinação de fatores nos
leva a esse cenário, dentre estes, a alta dependência de combustíveis fósseis e
a predominância do modal rodoviário no transporte de cargas no país. Os
caminhões, por exemplo, são grandes fontes emissoras de GEE e se aproximam
bastante das emissões de todo o setor industrial. Enquanto o primeiro foi
responsável por 82,2 milhões de toneladas de emissões em 2012, todo o setor
industrial emitiu 91,2 milhões de toneladas no mesmo período.
Para Rasmus Valanko, diretor de
clima e energia do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD),
o setor de transportes traz inúmeros desafios e oportunidades. “Se por um lado
é o setor responsável por 25% das emissões de gases de efeito estufa no mundo,
é também uma das áreas que mais pode sofrer transformações e contribuir para a
transição para uma economia de baixo carbono”, explicou em sua apresentação no
Congresso Sustentável 2016, promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para
o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
A presidente do CEBDS, Marina
Grossi, ressalta a importância que a adoção de medidas para tornar mais eficiente
os sistemas de transporte e logística no Brasil tem para o próprio setor. “O
setor de transportes muito em breve poderá aparecer como o principal poluidor
no país, já que o desmatamento tende a cair. Mas também é verdade que o setor
tem grandes oportunidades, por exemplo, através da ainda pouco explorada
emissão de títulos verdes. Dados da Climate Bond Initiative indicam que, em
todo o mundo, o transporte representa 67% do potencial de emissão desses
títulos, cerca de US$ 460 bilhões”, disse.
O coordenador das Câmaras
Temáticas de Mobilidade Sustentável e Impacto Social do CEBDS, Luan Santos,
reforça a urgência de pensarmos em saídas para o setor. “Em 2015, foram
emitidos aproximadamente 457 milhões de toneladas no setor de energia no
Brasil, sendo 43,7% apenas na área de transportes. Esta realidade mostra a
urgência de pensarmos medidas mitigatórias e políticas que estimulem a redução
das emissões de GEE neste setor”, afirmou.
Para Luiz Augusto Barroso,
presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o setor de transportes é um
dos principais caminhos para a descarbonização da economia. “O foco das
reduções de emissões deve ser no setor de transportes. Precisamos explorar mais
os veículos elétricos e os biocombustíveis, além de investirmos na mobilidade
corporativa, com jornadas de trabalho mais flexíveis, por exemplo”, declarou
durante o “4º Seminário Nacional sobre Gases de Efeito Estufa – Como
descarbonizar o Brasil até 2050”, que aconteceu no dia 27 de outubro no Rio de
Janeiro, onde foram apresentados os dados mais recentes sobre as emissões no
país e lançada a plataforma Sistema de Estimativa de Emissões de Gases (SEEG).
O documento do Observatório do
Clima aponta alternativas de maior e menor impacto visando a redução de
emissões e do consumo energético do setor de transportes, como a melhoria da
infraestrutura e logística no deslocamento de cargas a partir do aumento da
participação de modais mais eficientes como o ferroviário e o aquaviário, a
incorporação de tecnologias veiculares e o aumento da eficiência energética no
setor. Entretanto, tais medidas são interdependentes e necessitam de políticas
setoriais para a sua concretização. O Brasil já deu os primeiros passos nessa
direção e hoje possui um dos mais bem-sucedidos programas de biocombustíveis.
A NDC também apresenta medidas e
objetivos adicionais, como o aumento na participação de bioenergia sustentável
para 18% até 2030, a expansão do consumo de biocombustíveis, seguida do aumento
da oferta de etanol e incremento da parcela de biodiesel na mistura de diesel.
Além disso, a contribuição brasileira também prevê a promoção de medidas de
eficiência, melhorias na infraestrutura de transportes e na mobilidade em áreas
urbanas.
CEBDS
amplia a Câmara Temática de Mobilidade
Com o objetivo de ampliar o seu
campo de atuação, o CEBDS anuncia a reorientação da Câmara Temática de
Mobilidade (CTMobi), que passará a se chamar Câmara Temática de Logística e
Transportes (CTLog).
A iniciativa visa a atender o
setor de modo mais sistêmico e abrangente. Assim, a reorientação da CT
reconhece cada vez mais a importância de se promover e incentivar o debate em
torno da viabilização de novas e efetivas formas de incentivo à logística
sustentável.
Marina Grossi ressalta que é
fundamental a expansão das discussões na Câmara Temática. “O setor privado tem
muito a contribuir para a melhoria da mobilidade e logística em nossas cidades,
trabalhando próximo aos governos municipais, mostrando um caminho possível de
aceleração de processos em prol de cidades mais sustentáveis, onde o direito de
ir e vir se pauta por soluções de baixo carbono e por altos níveis de
eficiência e integração. Nesse sentido, o CEBDS cumpre um papel fundamental de
promover discussões e representar a visão das empresas, de modo a articular com
os setores públicos competentes o planejamento e execução de alternativas para
os transportes”, conclui.
Fonte: Site do CEBDS
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