IBAMA cancela Usina do Tapajós
O Ibama cancelou o processo de
licenciamento da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, que estava prevista para
ser construída no coração da Amazônia, no Pará. O ato é um reconhecimento da
inviabilidade ambiental do empreendimento. Sem a licença ambiental é impossível
realizar o leilão da usina.
“Nós, Munduruku, estamos muito
felizes com o cancelamento da usina. Isso é muito importante para o nosso povo.
Agora vamos continuar lutando contra as outras usinas no nosso rio”, afirma
Arnaldo Kabá Munduruku, cacique-geral do povo. Ainda existem outros 42 projetos
de hidrelétricas apenas na bacia do rio Tapajós e dezenas na Amazônia.
Recentemente, mais de 1,2 milhão de pessoas ao redor do mundo se juntaram à
luta dos Munduruku contra as hidrelétricas.
Além de alagar a terra indígena
Sawré Muybu, do povo Munduruku, e impactar dezenas de comunidades ribeirinhas,
a obra causaria impactos ambientais irreversíveis. No ano passado, uma análise
do Estudo de Impacto Ambiental da hidrelétrica, produzida pelo Greenpeace e realizada
por pesquisadores renomados, já havia mostrado a inviabilidade do
empreendimento.
“Além de uma grande vitória das
populações tradicionais e indígenas do Tapajós, a decisão de cancelar o
processo de licenciamento desta usina também reforça a necessidade do Brasil
reavaliar sua política de expansão da matriz de hidrelétricas na Amazônia,
devido aos impactos inaceitáveis que este tipo de obra gera sobre o bioma”,
afirma Danicley de Aguiar, da campanha da Amazônia do Greenpeace.
No início desta semana, o
Ministério Público Federal do Pará (MPF) havia recomendado ao Ibama que
cancelasse o licenciamento ambiental da usina em função da
inconstitucionalidade do projeto devido à necessidade de remoção permanente dos
indígenas. A terra indígena Sawré Muybu, que teria parte de sua área alagada
pelo empreendimento, está em processo de demarcação e foi reconhecida em abril
deste ano pela Funai. A Constituição de 1988 veda a remoção de povos indígenas
de suas terras.
“Diante da realidade imposta, o
governo acertou na decisão que garante a proteção da floresta e seus povos.
Agora esperamos que o Ministério da Justiça reconheça o direito originário do
povo Munduruku e realize a demarcação da TI Sawré Muybu”, conclui Danicley.
Em declarações à imprensa, o
governo demonstrou preocupação com os graves impactos socioambientais do
empreendimento. O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (PV-MA) afirmou
ao jornal Valor Econômico que a “obra é inteiramente dispensável”. Ele acredita
que fontes renováveis podem suprir a demanda de energia de São Luiz do Tapajós.
Esse cancelamento traz a
oportunidade de repensar o modelo de geração de energia no Brasil. Fontes
renováveis e verdadeiramente limpas, como a eólica e a solar são uma realidade
e podem suprir a demanda do país, que tem plenas condições de escolher outros
caminhos.
Conforme mostrou um estudo
realizado pelo Greenpeace, é possível produzir a mesma energia esperada por São
Luiz do Tapajós com o uso dessas fontes.
Em nota, para relembrarmos: A usina seria construída em meio à terra indígena
Sawré Maybu, área dos índios mundurucu, localizada entre os municípios de
Itaituba e Trairão, no Pará. A Funai pediu a demarcação de uma área de 178.000
hectares, que está sob análise do governo. Para construir a usina, seria
necessário alagar uma área de 729 quilômetros quadrados em uma das regiões mais
sensíveis e preservadas de toda a Amazônia. O processo de licenciamento da
usina foi solicitado em 2009 e era tocado pela Eletrobras, responsável pelo
projeto. Uma das maiores defensoras da usina era a presidente afastada Dilma
Rousseff. O governo chegou a anunciar que faria o leilão da usina em dezembro
de 2014, mesmo sem ter sua licença ambiental, mas voltou atrás depois.
Fonte: Greenpeace Brasil
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