Contra o Fracking - Método de extração de gás de xisto contaminaria solos e águas
No dia 10 de Dezembro 2015, a Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) conseguiu vender nove das dez concessões de
áreas marginais oferecidas na segunda etapa da 13ª Rodada de Licitações de
campos terrestres. Em cerca de duas horas, arrecadou R$ 4,248 milhões. O ágio
chegou a 3.000%, com a oferta de R$ 2,57 milhões de uma construtora pelo campo
de Barra Bonita, no Paraná, que teve a maior disputa entre todos os blocos. O
Estado possui uma das maiores reservas brasileiras de xisto em volume.
A exploração mineral do gás de xisto utiliza uma metodologia
de fraturamento hidráulico do solo, conhecida por fracking, que extrai gás de
folhelho betuminoso da rocha, conhecido como gás de xisto, que se encontra no
subsolo.
O problema é que o método exige, por unidade de mineração, a
perfuração de poços profundos que necessitam da injeção de 30 a 40 milhões de
litros de água misturados a centenas de produtos tóxicos e cancerígenos, além
de toneladas de areia a uma pressão alta o suficiente para fraturar a rocha e
liberar o gás.
A principal preocupação é a contaminação das águas de
superfície e subterrâneas, como as do Aquífero Serra Geral, que é utilizado em
parte do abastecimento de Londrina e região. Uma das vozes contra essa
exploração de gás por fraturamento hidráulico é do engenheiro Juliano Bueno de
Araújo, coordenador geral da Coalizão Não Fracking Brasil (Coesus), nascido em
Ibaiti (Norte Pioneiro) e que atua na área ambiental há 28 anos.
Quais as consequências da exploração
do fracking no Paraná
Em 2013 e em 2015, a ANP realizou leilões para exploração de
gás de xisto no Brasil e vendeu lotes que atingem 122 cidades do Paraná. Essas
áreas vão de Foz do Iguaçu, passam por municípios da região Centro-Oeste, como
Guarapuava, e seguem pela região Noroeste. Ou seja, essa exploração atinge as
áreas agrícolas mais importantes do Estado, afetando a avicultura, a
suinocultura, a apicultura, a produção de culturas como a soja e o milho.
Estamos falando de quase 42% da população do Estado que seria atingida sob o
aspecto de sua segurança hídrica, já que essas águas são utilizadas para
abastecer muitas cidades.
Isso afetaria Londrina
A Região Metropolitana de Londrina, por exemplo, utiliza a
água do Aquífero Serra Geral para parte de seu abastecimento. Esse aquífero
passa por essas áreas que foram leiloadas. Essa água mineral é de alta
qualidade para consumo e é muito importante. Se esse lençol for contaminado,
teríamos uma crise hídrica sem precedentes no Estado.
Na Argentina, o fracking afetou as águas da superfície e os
lençóis de água. Agora os produtores agrícolas não conseguem mais exportar seus
produtos, porque a irrigação é realizada com água contaminada. Isso poderia
acontecer no Paraná?
No Paraná nós consumíamos maçãs, peras e pêssegos
argentinos, mas hoje você quase não vê esses produtos em nossas prateleiras por
esse motivo. Os argentinos deixaram de produzir esses produtos porque as frutas
não têm mais qualidade e porque elas estão contaminadas, ou seja, já não
possuem os níveis aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde. Há uma
competição da agricultura e fruticultura chilenas contra as argentinas porque
os grandes importadores não compram mais produtos dessas áreas de fraturamento
hidráulico.
No Chile, por exemplo, eles colocam em seus produtos um selo
dizendo "No fracking".
Isso. Antigos exportadores argentinos têm estoques em
armazéns frigorificados e ninguém mais compra. A quantidade de agricultores que
não conseguiram mais acesso ao mercado internacional e por conseguinte deixaram
de ter capacidade para pagar seus financiamentos e praticamente entregaram suas
terras a preço de banana para a indústria do gás é uma coisa impressionante.
A ANP diz que a extração do óleo de xisto é necessária
porque os Estados Unidos baratearam o custo do combustível utilizando essa
tecnologia e que eles não podem prescindir disso para ter competitividade.
Isso é uma falácia da ANP. Ao preço do barril de petróleo
nos dias de hoje, não há viabilidade econômica para se explorar o gás de xisto.
Sua exploração custa muito mais do que o gás convencional. Eu tenho que
explodir, fraturar e tudo isso tem um custo de produção alto. Além disso, temos
que ter uma infraestrutura de gasodutos que nós não temos. A infraestrutura que
viabilizou a indústria do fracking nos Estados Unidos foi implantada porque o
petróleo e o gás convencional que existiam por lá acabaram nos anos 1980. Havia
nos Estados Unidos uma dependência externa de quase 90% de energia, o que não é
a realidade brasileira. A própria ANP afirma que até 2055 temos reservas plenas
para nosso abastecimento de gás e de petróleo e isso é tempo suficiente para
fazermos a transição da energia baseada em petróleo para 100% de energia limpa
e renovável. O Estado do Paraná pode implementar parques eólicos e parques
solares que triplicariam a nossa capacidade energética. Em relação à
necessidade do gás, nós temos florestas plantadas e a energia do biogás gerado
a partir do bagaço da cana-de-açúcar. E podemos explorar o biogás advindo da
indústria da suinocultura e da avicultura. Nós podemos deixar essa energia do
xisto enterrada eternamente, sem colocar em risco a saúde e a nossa produção
agrícola.
Recentemente tivemos um acidente ambiental de grandes
proporções envolvendo a Samarco, no Rio Doce (MG). Existe uma possibilidade de
desastre ambiental de mesmo nível com a exploração pelo fracking
Na represa do Rio Doce, apresentaram um laudo falando sobre
os riscos e ninguém fez nada, e hoje a conta passa de bilhões de reais. Pegue
esse modelo que aconteceu lá e transporte para o Paraná e reproduza em 122
cidades. É o que vai acontecer. Assistimos a esse acidente há um mês e isso
comprova a nossa incapacidade fiscalizatória. Os produtos químicos que estavam
nessa represa são os mesmos que estariam em milhares de cidades brasileiras e
em enormes extensões agrícolas com a implantação do fracking, porque essas
substâncias tóxicas percolam o solo e entre um a três anos todas essas
substâncias estariam no subsolo. Elas permaneceriam contaminando o solo por
décadas e por consequência teríamos pelo mesmo período uma terra sem capacidade
de produção, sem valor econômico e uma água que não se pode usar para nada.
Isso inviabilizaria a nossa economia como um todo. Imagine termos um embargo
contra toda a suinocultura e avicultura no Paraná? O que geraria de desemprego,
de não captação de impostos? A própria Região Metropolitana de Londrina seria
afetada.
O que pode ser feito para
combater isso
Nós temos uma campanha nacional no Estado do Paraná e em
outros 15 estados brasileiros. É composta por cientistas, ambientalistas,
engenheiros, sindicatos rurais e patronais, sindicatos de trabalhadores rurais
que participam da Coalizão Não Fracking Brasil, que tem um modelo de combate a
esse absurdo que nos foi imposto.
Em Toledo foi aprovada uma
lei municipal contra o fracking
Além de Toledo, outros municípios também aprovaram. Posso
citar Foz do Iguaçu, Cascavel e Santa Bárbara do Oeste (SP). Umuarama
apresentou agora um projeto de lei para isso. Temos dezenas de cidades do
Estado do Paraná que já apresentaram projetos de lei e alguns viraram lei
municipal. Os municípios deixaram de dar alvará de funcionamento e de
instalação para projetos de mineração e empresas que forneçam equipamentos e
insumos para a indústria de exploração do gás. Existem legislações que proíbem
o trânsito na superfície desses materiais, desses gases e de produtos químicos
para esse fim. Como cabe ao município emitir alvará de funcionamento e a
outorga e o uso da água, se ele diz que fica proibida a concessão de uso e
outorga de água para qualquer empresa de exploração de gás não convencional é
possível criar um arcabouço legal legislativo que cria impeditivos para essa
indústria. Sem água não existe fraturamento hidráulico.
Isto por si só basta
Não. A legislação municipal não é suficiente para garantir a
tranquilidade, a segurança e a paz dos seus cidadãos. Precisamos de uma
legislação federal que proíba a tecnologia e a aplicação do fraturamento
hidráulico e a exploração do gás não convencional no País. O fracking, no
mundo, é realizado em áreas desérticas, sem muita população. Nos locais onde há
população e produção agrícola e é utilizada essa tecnologia, os danos são
irreversíveis, porque a terra, uma vez contaminada, não há tecnologia que faça
o retorno ao status de segurança e não há tecnologia no planeta que recupere
aquíferos contaminados. Queremos também que a Assembleia Legislativa proíba
essa indústria no Paraná. Hoje temos um projeto de lei para proibir o fracking
e outro que dá moratória de dez anos para que essa indústria possa atuar por
aqui.
Fonte: Vítor Ogawa - FolhaWeb
Comentários
Postar um comentário