Energia Eólica
A energia eólica - produzida a
partir da força dos ventos - é abundante, renovável, limpa e disponível em
muitos lugares. Essa energia é gerada por meio de aerogeradores, nas quais a
força do vento é captada por hélices ligadas a uma turbina que aciona um gerador
elétrico. A quantidade de energia transferida é função da densidade do ar, da
área coberta pela rotação das pás (hélices) e da velocidade do vento.
A avaliação técnica do potencial
eólico exige um conhecimento detalhado do comportamento dos ventos. Os dados
relativos a esse comportamento - que auxiliam na determinação do potencial
eólico de uma região - são relativos à intensidade da velocidade e à direção do
vento. Para obter esses dados, é necessário também analisar os fatores que
influenciam o regime dos ventos na localidade do empreendimento. Entre eles
pode-se citar o relevo, a rugosidade do solo e outros obstáculos distribuídos
ao longo da região.
Para que a energia eólica seja
considerada tecnicamente aproveitável, é necessário que sua densidade seja
maior ou igual a 500 W/m2, a uma altura de 50 metros, o que requer uma
velocidade mínima do vento de 7 a 8 m/s. Segundo a Organização Mundial de
Meteorologia, o vento apresenta velocidade média igual ou superior a 7 m/s, a
uma altura de 50 m, em apenas 13% da superfície terrestre. Essa proporção varia
muito entre regiões e continentes, chegando a 32% na Europa Ocidental.
A utilização dessa fonte para
geração de eletricidade, em escala comercial, começou na década de 1970, quando
se acentuou a crise internacional de petróleo. Os EUA e alguns países da Europa
se interessaram pelo desenvolvimento de fontes alternativas para a produção de
energia elétrica, buscando diminuir a dependência do petróleo e carvão.
Quanto à aplicação desse tipo de
energia no Brasil, pode-se dizer que as grandes centrais eólicas podem ser
conectadas à rede elétrica uma vez que possuem um grande potencial para atender
o Sistema Interligado Nacional (SIN). As pequenas centrais, por sua vez, são
destinadas ao suprimento de eletricidade a comunidades ou sistemas isolados,
contribuindo para o processo de universalização do atendimento de energia. Em
relação ao local, a instalação pode ser feita em terra firme (on-shore) ou no
mar (off-shore).
De acordo com a Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil possui 248 megawatts (MW) de capacidade
instalada de energia eólica, derivados de dezesseis empreendimentos em
operação. O Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, elaborado pelo Centro de
Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), mostra um potencial bruto de 143,5 GW, o
que torna a energia eólica uma alternativa importante para a diversificação do
"mix" de geração de eletricidade no País. O maior potencial foi
identificado na região litoral do Nordeste e no Sul e Sudeste. O potencial de
energia anual para o Nordeste é de cerca de 144,29 TWh/ano; para a região
Sudeste, de 54,93 TWh/ano; e, para a região Sul, de de 41,11 TWh/ano.
Ainda que a principal referência
de potencial eólico do Brasil, o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, não
apresente avaliações a respeito da potencialidade energética dos ventos na
plataforma continental do vasto litoral brasileiro - que tem nada menos que
7.367 km de extensão e conta com avançado desenvolvimento em tecnologias
offshore em função do desenvolvimento e capacitação para a prospecção e
produção de petróleo e gás natural neste ambiente - esta alternativa não pode
ser ignorada e esta via deve ser ainda cuidadosamente avaliada, tendo em vista
que estes projetos apresentam um maior volume específico de energia elétrica
gerada ao beneficiarem-se da constância dos regimes de vento no oceano.
As aplicações mais favoráveis
desta fonte energética no Brasil estão na integração ao sistema interligado de
grandes blocos de geração nos sítios de maior potencial. Em certas regiões,
como por exemplo, a região Nordeste, no vale do Rio São Francisco, pode ser
observada uma situação de conveniente complementariedade da geração eólica com
o regime hídrico, seja no período estacional ou na geração de ponta do sistema
- ou seja, o perfil de ventos observado no período seco do sistema elétrico
brasileiro mostra maior capacidade de geração de eletricidade justamente no
momento em que a afluência hidrológica nos reservatórios hidrelétricos se
reduz. Por outro lado, no período úmido do sistema elétrico brasileiro,
caracterizado pelo maior enchimento destes reservatórios, o potencial de
geração eólica de eletricidade se mostra menor.
Assim, a energia eólica se
apresenta como uma interessante alternativa de complementariedade no sistema
elétrico nacional.
Embora se insira dentro do
contexto mundial de incentivo por tecnologias de geração elétrica menos
agressivas ao meio ambiente, como qualquer outra tecnologia de geração de energia,
a utilização dos ventos para a produção de energia elétrica também acarreta em
alguns impactos negativos - como interferências eletromagnéticas, impacto
visual, ruído, ou danos à fauna, por exemplo. Atualmente, essas ocorrências já
podem ser minimizadas e até mesmo eliminadas por meio de planejamento adequado,
treinamento e capacitação de técnicos, e emprego de inovações tecnológicas.
Aspectos
ambientais ligados à operação de usinas eólicas
Emissão de gases poluentes - O Brasil, por possuir uma matriz de
geração elétrica composta predominantemente por fontes renováveis -
principalmente de origem hidráulica - apresenta grandes vantagens no que se
refere à emissão evitada de CO2.
Além do aspecto de diversificação
da matriz energética, uma outra possibilidade atraente para empreendimentos
baseados no aproveitamento da energia eólica inclui a comercialização do CO2
evitado por meio dos certificados de redução de emissão de carbono no âmbito do
Protocolo de Kyoto. Os países desenvolvidos, para alcançarem suas metas poderão
se utilizar dos "mecanismos de flexibilidade", dentre os quais
ressalta-se o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O MDL permite que
países desenvolvidos, por meio da implantação de projetos energéticos em países
em desenvolvimento, alcancem suas metas de redução da emissão de CO2 ou outros
gases de efeito estufa. O MDL é um mecanismo disseminador de tecnologia com
grande potencial de expansão, o qual poderá incentivar o setor privado a
investir em projetos energéticos no âmbito das energias renováveis, entre elas
a energia eólica.
Das tecnologias disponíveis com
emissões de CO2 abaixo do nível da energia eólica, somente as grandes
hidrelétricas são hoje comercialmente competitivas. Entretanto, a utilização de
grandes hidrelétricas tem sido discutida em países como o Canadá e o Brasil
(dois países que apresentam grandes plantas hidrelétricas instaladas cada vez
mais longe dos centros consumidores), onde a decomposição da vegetação submersa
nos grandes reservatórios produz uma quantidade substancial de metano, que
registra um potencial de aquecimento 50 vezes maior do que o CO2.
Embora as emissões de CO2
decorrentes das grandes barragens não se dêem no mesmo patamar das emissões de
CO2 originadas da queima de combustíveis fósseis em termoelétricas, gases como
o CH4 e N2O - oriundos da decomposição do material orgânico - possuem,
respectivamente, um potencial de aquecimento global 56 e 280 vezes maior do que
o CO2, para um horizonte de 20 anos.
O uso do
solo e a adequação da topografia
Poluição visual - A reação visual às estruturas eólicas varia de
pessoa para pessoa. Trata-se de um efeito que deve ser levado em consideração,
na medida em que o aumento do rendimento das turbinas eólicas vem acompanhado
pelo aumento em suas dimensões e na altura das torres. Como consequência,
também o espaço requerido entre as turbinas torna-se maior, diminuindo,
portanto, a densidade na área da fazenda eólica - o que possibilita o
aproveitamento do solo para usos alternativos no entorno do empreendimento.
Dentre as diferenças de percepção
destes empreendimentos, a turbina eólica pode ser vista como um símbolo de
energia limpa e bem-vinda, ou, negativamente, como uma alteração de paisagem. A
forma de percepção das comunidades afetadas visualmente pelos parques eólicos
também depende da relação que essas populações têm com o meio ambiente.
Acrescenta-se que os benefícios econômicos gerados pela implantação das fazendas
eólicas muitas vezes são cruciais para amenizar potenciais atitudes ou
percepções negativas em relação à tecnologia.
A paisagem modificada pelas
fazendas eólicas traz outra possibilidade: a de atrair turistas, o que é um
fator de geração de emprego e renda.
Impacto sobre a fauna - Um dos aspectos ambientais a ser enfatizado
diz respeito à localização dos parques eólicos em áreas situadas em rotas de
migração de aves. O comportamento das aves e as taxas de mortalidade tendem a
ser específicos para cada espécie e para cada lugar.
Ao analisar os estudos sobre os
impactos na fauna alada, observa-se que parques eólicos podem trazer impactos
negativos para algumas espécies. Entretanto, estes impactos podem ser reduzidos
a um nível tolerável por meio do planejamento do futuro da geração eólica,
considerando aspectos de conservação da natureza como "evitar a instalação
de parques eólicos em áreas importantes de habitat; evitar áreas de corredor de
migração; adotar arranjo adequado das turbinas no parque eólico; usar torres de
tipos apropriados (tubulares); e utilizar sistemas de transmissão
subterrâneos".
O ruído é outro fator que merece
ser mencionado, devido não só à perturbação que causa aos habitantes das áreas
onde se localizam os empreendimentos eólicos, como também à fauna local - como,
por exemplo, a sua interferência no processo reprodutivo das tartarugas.
Outros aspectos ambientais - O impacto sobre o solo ocorre de forma
pontual à área de instalação da base de concreto onde a turbina é instalada.
Vários testes de compactação do solo são feitos para avaliação das condições de
instalação de cada turbina. Por não haver uso de combustíveis fósseis, o risco
de contaminação do solo por resíduo líquido devido à operação e manutenção de
parques eólicos é reduzido ou quase nulo. Esta característica minimiza também
os riscos de contaminação do lençol freático.
É importante lembrar que a taxa
de ocupação no solo de uma turbina eólica está restrita à pequena área
referente à construção da base de concreto para sustentação de toda a máquina:
a área em torno da base de concreto fica totalmente disponível para o
aproveitamento agrícola ou pecuário; e a vegetação em torno da turbina eólica
pode ser mantida intacta.
A energia
eólica e o Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
Considerando-se que as fontes
alternativas ainda têm custos mais elevados do que as convencionais, em abril
de 2002 o Governo Federal criou, por meio da Lei nº 10.438, o Programa de
Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Com o objetivo
de ampliar a participação das fontes alternativas na matriz elétrica, o Proinfa
prevê, em sua primeira fase, a instalação de 3.300 MW de potência no sistema
elétrico interligado - sendo 1.423 MW de usinas eólicas, 1.192 MW de pequenas
centrais hidrelétricas (PCH) e 685 MW de biomassa.
Dentre outros benefícios, o
Proinfa apresenta:
- A diversificação da matriz
energética e a consequente redução da dependência hidrológica;
- A racionalização de oferta
energética por meio da complementaridade sazonal entre os regimes eólico, de
biomassa e hidrológico, especialmente no Nordeste e Sudeste. No rio São
Francisco, por exemplo, cada 100 megawatts médios produzidos por fonte eólica
proporcionaria uma economia de água da ordem de 40 m3/s;
- A possibilidade de
elegibilidade, referente ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), pela
Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, criada pelo Decreto
Presidencial de 7 de julho de 1999, dos projetos aprovados no âmbito do
Proinfa".
Diversas empresas estrangeiras já
mostraram interesse em estudos de viabilidade técnica para implementação de
grandes parques eólicos no Brasil. Além dos 1,4 GW de projetos já contratados
no Proinfa, quatro em operação, representando 158,3 MW, e 50 parques em
implantação, representando 1.264,6 MW. Existem, ainda, cerca de 3,5 GW em
projetos eólicos autorizados pela Aneel que não integram a carteira de projetos
do Proinfa. Empresas, como a Wobben Wind Power Industria e Com. Ltda, SIIF
Énergies do Brasil Ltda, Enerbrasil Ltda, Ventos do Sul, Eletrowind e outras,
já mantêm torres de medições e estudos de infra-estrutura para instalação e
operação de parques eólicos, que nesta fase, em sua grande maioria,
encontram-se planejados para instalação ao longo da costa da região Nordeste.
A segunda fase do Proinfa,
prevista para iniciar após o término da primeira, e terminar em 20 anos após o
início do programa - portanto, em 2022 -, supõe que as três fontes eleitas
(PCH, biomassa e eólica) atinjam uma participação de 10% da geração de energia
elétrica brasileira. Supõe ainda contratar, a cada ano, no mínimo 15% do acréscimo
de geração do setor. Com base nestes números e considerando a projeção da
demanda feita nos quatro cenários considerados no Plano Nacional de Energia -
PNE 2030 (EPE, 2006b) -, um prolongamento destes números de 2022 a 2030, um
fator de capacidade de 0,30, e uma divisão equitativa entre as três fontes,
chega-se a uma potência instalada de geração de energia elétrica em usinas
eólicas, no fim do horizonte, entre 9 GW e 13 GW.
Nesse contexto, vale citar que já
está em operação o parque eólico de Osório, localizado no litoral norte do Rio
Grande do Sul. Esse empreendimento é composto por 75 torres de aerogeradores e
tem uma capacidade instalada estimada em 150 MW, sendo a maior usina eólica da
América Latina e a segunda no mundo.
Fonte: www.mma.gov.br
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