Sebastião Salgado faz chamado à ação para salvar o planeta
O fotógrafo brasileiro Sebastião
Salgado deu a volta ao mundo para documentar os extremos da globalização, da
migração e territórios não mapeados, mas se mostra mais incomodado pela
pilhagem irresponsável que a humanidade faz do planeta, uma visão que ele
considera mortalmente estreita.
Em visita a Hong Kong para
promover “Gênesis”, uma exposição de fotos, resultado de uma expedição de oito
anos ao redor do mundo, o fotógrafo de 70 anos afirmou que o ímpeto humano em
subjugar a natureza está levando a Terra à beira da extinção.
“Se não nos voltarmos para o
nosso planeta, não permaneceremos aqui por muito tempo”, disse Salgado em
entrevista à AFP. “Não somos mais parte do nosso planeta, nós viramos
alienígenas”, prosseguiu.
O fotógrafo documentarista viajou
para mais de cem países, incluindo Ruanda, Guatemala e Bangladesh documentando
alguns dos maiores horrores do mundo moderno: a fome, a guerra, a pobreza e o
deslocamento.
Seus retratos dramáticos de
paisagens remotas, dizimadas e vulneráveis ou de comunidades exploradas – como
trabalhadores de cemitérios de navios em Bangladesh a garimpeiros no Brasil –
inspiraram gerações de fotógrafos.
Criado no interior de Minas
Gerais, Salgado se formou em Economia antes de se voltar para a fotografia.
Começou a fotografar na casa dos 20 anos com uma câmera emprestada pela esposa
e, embora só mais tarde tenha se dedicado a esta profissão, ele sabia desde o
princípio ter encontrado sua vocação.
“Desde a primeira vez em que eu
olhei através de um visor, a partir daquele momento, minha vida mudou”, contou
Salgado.
Humanos
predadores
Ele virou profissional no começo
dos anos 1970 e desde então ganhou uma avalanche de prêmios de prestígio e suas
fotos passaram a compor os acervos de galerias importantes, como a Barbican
Gallery, em Londres, e o International Center of Photography, em Nova York.
No final dos anos 1990, ele foi
forçado a fazer um intervalo, após cobrir o genocídio em Ruanda, onde
documentou inúmeras mortes, uma experiência que teve um alto preço psicológico.
Salgado lembra o mau cheiro
assolador dos cadáveres em decomposição enquanto observava pilhas de corpos
sendo depositadas no chão por retroescavadeiras, uma visão que se fixou em sua
memória.
“Eu comecei a morrer, meu corpo
começou a adoecer”, afirmou.
Para se recuperar, ele decidiu
voltar à fazenda no Brasil, onde passou sua infância.
“Eu cresci numa área montanhosa.
Eu lembro que meu pai caminhava comigo pelas plantações, andávamos até a parte
mais alta da fazenda e sentávamos ali por horas vendo aquelas incríveis nuvens
e as luzes passando por elas. Era grandioso”, relatou.
Mas, para seu pavor, lagos secaram
e grande parte da floresta tropical tinha sido derrubada pelo desmatamento.
Quando seu corpo e mente
começaram a se curar, ele decidiu, ao lado da esposa, Lélia, replantar a
floresta que existiu ali um dia.
“Hoje, nós plantamos mais de 2,5
milhões de árvores, a floresta tropical voltou. Salvamos as onças, temos mais
de 170 espécies diferentes de aves”, contou.
Marido e mulher gerenciam a
Amazonas Images, que controla a pesquisa, a produção e a publicação das fotos
de Sebastião Salgado.
As espetaculares fotos de
natureza de Salgado – pinguins deslizando por geleiras, um babuíno solitário
cruzando dunas de areia, água gotejando da cauda de uma baleia – são
acompanhadas pelas duras críticas aos seres humanos, aos quais ele descreve
como “profundos predadores”.
“Começamos a destruir tudo,
começamos a domesticar o gado e a colocá-lo numa prisão, nós o criamos às
dezenas de milhares e milhões (de cabeças) para que possamos comê-lo”,
exemplificou.
Sua assombrosa coleção de imagens
é amplamente considerada um chamado à ação para que os seres humanos preservem
o que ainda têm.
Fonte: www.noticias.uol.com.br
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