Educador Ambiental
Para resolver os problemas
ambientais, é necessário mais do que separar o lixo para reciclagem ou fechar a
torneira enquanto se escova os dentes. Refletir sobre o nosso comportamento e
as relações que temos com a natureza e com as pessoas também é parte fundamental
desse processo.
Como nasceu a educação ambiental
Durante a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, a
sociedade tomou conhecimento dos problemas ambientais e os governos definiram
que a saída para mudar o mundo seria a educação. Foi necessário criar o termo
educação ambiental porque nos afastamos da natureza. Os processos educativos
ficaram racionais e a escola descuidou dos sentimentos, das sensações e das
relações em sala de aula, esquecendo o ar, a água, o corpo, o bairro, a cidade,
o planeta. Ora, se a educação ambiental pretende resolver os problemas
ambientais pela formação das pessoas, é preciso usar ferramentas
transformadoras. Uma delas é o aprendizado sequencial.
O que é o aprendizado sequencial em
educação ambiental
É uma pedagogia que desenvolve a
percepção de alunos e professores. A proposta consiste em uma sequência de
atividades, em quatro fases, que deve ser aplicada em espaços naturais, na
praça, no parque, na praia, na montanha, no mangue e até mesmo no jardim da
escola.
Como se dá, na prática, esse aprendizado
A primeira fase, Despertar
Entusiasmo, é formada por jogos que servem para criar interação e harmonia no
grupo. Uma das dinâmicas é realizada em uma área com diferentes espécies de
árvore. O professor escolhe uma que tenha uma aparência atraente - um salgueiro
ou um pinheiro, por exemplo - e imita a forma dela com seu corpo. Observando o
professor, as crianças tentam reconhecer qual é a árvore escolhida. A segunda,
Concentrar a Atenção, é o foco da metodologia: visa promover a concentração da
turma e acalmar a mente. Os exercícios despertam o interesse em ouvir os sons
da natureza e perceber diferentes temperaturas e cheiros. A terceira,
Experiência Direta, desenvolve a percepção das diferenças entre os elementos da
natureza. Em uma das brincadeiras, os alunos, de olhos vendados, sentem uma
árvore pela textura, pela forma e pelo cheiro. Depois, de olhos abertos, eles
têm que reconhecer, na mata, qual é aquela árvore. Essa interação aguça a
intuição e a percepção. Na última fase, Compartilhar, os estudantes dividem
suas impressões sobre o que fizeram durante essas aulas contando histórias,
fazendo desenhos, poesias coletivas e individuais e haicais.
Como é o trabalho do educador no
aprendizado sequencial
Ao explorar a natureza com as
crianças, ele aplica cinco regras da educação ao ar livre. A primeira é ensinar
menos e compartilhar mais. Isso torna qualquer visita mais agradável, porque a
criança se cansa de ficar apenas ouvindo. A segunda é ser receptivo, perceber o
que os alunos estão pedindo e humanizar as relações. A terceira é se
concentrar, porque não dá para fazer nada se a turma não estiver atenta. A
quarta regra é experimentar primeiro e falar depois. Nem tudo precisa ser
explicado. É importante dar ao professor e às crianças tempo para encantar-se
com detalhes que ainda ninguém viu e compartilhar o que todos estão sentindo.
Por fim, criar um ambiente leve, alegre e receptivo, onde todos se sintam bem.
O trabalho visa fazer alunos e professores perceberem o que estão sentindo,
pois o sentimento influencia a maneira de compreender e pensar. É mais fácil
discordar de uma ideia se você está irritado. Quando está feliz, tende a ser
mais receptivo.
Professores de todas as disciplinas podem
ser educadores ambientais
Sim. O professor de Ciências tem
muita informação sobre a natureza e acaba fazendo um trabalho mais explicativo.
Mas o fundamental para qualquer professor é educar principalmente pelo que ele
é, por suas atitudes, e não apenas pelo conhecimento que tem da matéria. As
crianças aprendem muito pela imitação. O bom professor diz aquilo em que de
fato acredita. Ele refletiu sobre o conteúdo que leciona e fala do assunto com
convicção, fazendo uma confissão por meio da Física, da Matemática, da Língua
Portuguesa.
O professor está preparado para ser um
educador ambiental
Especialmente preparado, porque é
um educador. Mas, se ele quer se engajar na questão ambiental, deve começar
pensando na sua vida, no seu comportamento e na sua relação com o próprio corpo
e com a natureza. O contato mais direto que temos com ela é pela alimentação.
Então, ele deve analisar a relação entre o que come, o ambiente e o modo como
monta seu cardápio, por exemplo. Uma maneira de fazer isso é pensar sobre o
ciclo que aquele alimento percorreu, desde sua origem até chegar à mesa. É
importante também refletir sobre o que consome e como se relaciona com o mundo
à sua volta. O professor pode ainda perceber como se sente na frente de uma
vitrine. Tem vontade de comprar? Fica frustrado se não pode? Analisa por que
necessita daquilo? Esse exercício dá uma grande bagagem, equivalente à que ele
acumularia em vários cursos. É só aprender a usá-la.
Qual o benefício de a escola proporcionar
uma vivência na natureza
Em contato com a natureza
percebemos que temos uma existência em comum. Quanto mais unificamos as
relações entre nós e o ambiente, mais harmônica é nossa vida. Na nossa proposta
pedagógica, o professor não ensina o que é natureza e não a descreve, mas
relaciona-se com ela e compartilha com os alunos o que para ele faz sentido
nessa experiência. O encantamento dos estudantes pelo tema vem dessa troca com
o professor, que motiva a turma a querer aprender. O relacionamento entre eles
se torna mais intenso e sincero, as mentes se acalmam e a concentração de todos
melhora.
A questão ambiental tem caráter filosófico
O problema ambiental é resultado
de uma crise de percepção. Se queremos resolver essa crise, temos de melhorar
nosso entendimento sobre o mundo. Assim, criamos um território fértil para
encontrar soluções, e a escola pode ajudar nisso. Durante as aulas, promovemos
momentos de diálogo - o que é muito diferente do debate -, em que os estudantes
conversam, analisando o que pensam sobre aquele assunto e procurando entender o
que está acontecendo em nosso planeta. Esse é um exercício de observação de
nossa forma de pensar e das dificuldades de aceitar opiniões diferentes.
Qual é a origem dos problemas ambientais
Os biólogos chilenos Humberto
Maturana e Francisco Valera e a historiadora austríaca Riane Eisler sustentam a
idéia de que os problemas ambientais surgiram há 7 mil anos, com o fim das
culturas "matrísticas" - o termo vem da palavra matriz e se refere à
mulher - e o surgimento das culturas patriarcais. Na cultura matrística, a
relação com a natureza e com as pessoas da comunidade e de outros povos era
estabelecida por limites e de forma harmônica. Os povos se viam como parte do
ambiente e a complexidade estava nas relações e não nas questões materiais. A
cultura patriarcal surgiu na Mesopotâmia, quando o homem começou a desejar
dominar o meio e outros povos. Hoje, temos o mesmo conflito: aceitar os limites
impostos pela natureza sabendo que somos mais de 6 bilhões e que vivemos em um
planeta só ou atender ao desejo de ter uma vida confortável e consumir cada vez
mais?
Por que a tecnologia e a ciência não conseguiram
resolver esses problemas
Albert Einstein dizia que nós não
conseguimos solucionar um problema permanecendo no mesmo nível de consciência
em que ele foi criado. Veja o exemplo do lixo: começamos a criar substâncias
artificiais que a natureza não reconhece. Daí, desenvolvemos tecnologias de
reciclagem que imitam com muita limitação o ciclo da natureza, mas não resolvem
a questão. A confiança na tecnologia faz as pessoas consumirem sem compromisso.
Hoje, o volume de produção de lixo é desproporcional ao que é possível
reciclar. Então, a reciclagem nunca solucionará a questão, porque a indústria
vai criar novas substâncias e as pessoas vão consumir cada vez mais achando que
tudo pode ser reciclado.
Fonte: www.revistaescola.abril.com.br
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