Efeito cascata na perda de Biodiversidade
A manutenção da biodiversidade
local implica muitas vezes a manutenção do próprio ecossistema, razão pela qual
as medidas de conservação e exploração dos recursos naturais têm que a
promover, em prol do equilíbrio e sustentabilidade dos sistemas ecológicos.
A perda de determinadas espécies
pode ter diversos efeitos nas espécies que persistem no ecossistema. O número
de espécies que irá ser influenciado pelo desaparecimento de outras, e a forma
como esses efeitos irão ocorrer, depende das características do ecossistema e
do papel das espécies na sua estrutura.
Um “Efeito Cascata” ocorre quando
uma extinção local de uma espécie altera significativamente as dimensões das
populações de outras espécies, o que potencialmente pode levar à perda de mais
espécies.
Este efeito é particularmente
evidente nos casos em que a espécie desaparecida é um “Predador Chave”, um
“Mutualista Chave” ou uma Presa de um predador especialista.
Perda de
um Predador Chave
A perda de um predador num
ecossistema vai afetar o tamanho de uma determinada população de presas, embora
a extensão e a forma como os efeitos se vão fazer sentir dependa de quanto esse
predador limitava a população de que se alimentava.
O tamanho da população de presas
pode ser controlado por outros fatores para além da predação (é o chamado
control-Donor, modelo que descreve as situações em que os predadores não afetam
as populações de presas), e neste caso a perda do predador do ecossistema não
será significativo para as espécies predadas. Os fatores limitantes do efetivo
populacional de uma presa poderão ser agentes como o alimento, o espaço, a
competição intra ou inter específica, entre outros, pelo que a ausência de
predador poderá nunca vir a ser evidente.
Num sistema onde o número de
presas é controlado pelos predadores (interações positivas/negativas entre a
presa e o predador, descrito no modelo de Lotka-Volterra), o impacto da perda
da espécie predadora poderá ser significativo, especialmente se a posição desta
na cadeia trófica for relativamente elevada.
Os chamados “Predadores Chave”
afetam não só o tamanho da população de presas, mas também a diversidade de
espécies da comunidade. Ao limitarem, quando presentes, a população de
determinada espécie, os “Predadores Chave” permitem a existência de uma elevada
diversidade específica. Uma determinada presa que seja a preferencial de um
determinado predador, na ausência deste (ou seja, na ausência do fator
limitante), pode ter uma explosão demográfica e passar a dominar os recursos do
ecossistema, em detrimento de outras espécies (com outros fatores limitantes),
por processos de competição inter específica, que se traduzem, muitas vezes,
por uma competição exclusiva.
Os “Predadores Chave” não são
fáceis de identificar e o reconhecimento destas espécies, com este estatuto
essencial para o funcionamento de um ecossistema, requer muito estudo e muita
investigação. A lontra marinha do Pacífico, por exemplo, que pode ser observada
no Oceanário do Parque das Nações, atua como “Predador Chave” no Pacífico
Norte, sendo a única espécie não humana capaz de controlar as populações de
ouriços-do-mar. A sua ação impede que os ouriços dominem as costas da América
do Norte e eliminem drasticamente as populações vegetais marinhas, com elevada
perda de biodiversidade.
Perda de
um Mutualista Chave
As espécies envolvidas numa
relação de mutualismo (interações mutuamente benéficas, como o caso da
polinização de plantas por insetos) são profundamente afetadas se uma das
espécies parceiras se perder. A consequência do desaparecimento de uma espécie
envolvida numa relação deste tipo é tanto mais grave quanto maior for a
especificidade do mutualismo. Por exemplo, determinadas espécies de orquídeas
dependem de uma única espécie de abelhas para se processar a polinização, e
existem espécies de vespas que polinizam uma única espécie de figueira (Ficus
spp.).
Certas espécies, os “Mutualistas
Chave”, podem assumir um papel de extrema importância na comunidade.
Ao contrário do caso dos
“Predadores Chave”, é relativamente fácil identificar um “Mutualista Chave”,
havendo casos em que é suficiente a observação não experimental dos recursos
utilizados pelas espécies. Num dado ecossistema, em que se identifica um
“Mutualista Chave”, as medidas de gestão a implementar terão um encaminhamento
também facilitado. Além de se procurar favorecer o incremento da espécie
essencial ao ecossistema, a promoção do aumento da sua densidade populacional
traduz-se, normalmente, no aumento das populações dependentes.
Perda de
Presa de predador especialista
A perda de uma espécie,
geralmente, tem tanto mais impacto num predador seu, quanto maior for o nível
da cadeia trófica ocupada por esse predador. As populações de predadores de
topo da cadeia trófica tendem a estar limitadas pela disponibilidade de presas,
ao contrário das espécies que ocupam níveis mais baixos da cadeia, como os
herbívoros, que estão normalmente limitados por predadores, parasitas e doenças.
Desta forma, a população do predador de topo sofrerá gravemente com a remoção
de presas, que funcionam como o seu fator limitante.
Esta situação pode ser tanto mais
grave para o predador de topo, quanto maior for a sua especialização alimentar,
e no caso dos predadores especialistas não é relevante se a posição que ocupa
na cadeia trófica é elevada ou não. Por exemplo, muitos insetos, que se
encontram numa posição baixa na cadeia trófica, são predadores especialistas de
uma única espécie de planta, por terem desenvolvido técnicas para superar as
suas defesas, e o desaparecimento destas será catastrófico para a população de
invertebrados.
Numa comunidade, as espécies mais
comuns tendem a ter como predadores os mais especialistas, ao contrário do que
acontece com as espécies mais raras ou endemicas. Assim, o declínio das
espécies mais comuns tem normalmente um maior impacto nos predadores especialistas.
Fonte: Nuno Leitão
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