Clima - Ciência ao alcance de todos
O debate sobre as mudanças do
clima necessita envolver o conjunto da sociedade, o problema não é apenas da
comunidade científica ou de ambientalistas. Para isso, uma das palavras-chave é
informação. Uma sociedade que consegue compreender a dimensão de um fenômeno
como o das alterações climáticas certamente apresenta melhores condições de
exercer seu papel na cobrança e na fiscalização de políticas públicas. Mais do
que isso, o entendimento daquilo que está em jogo permitirá a cada ator social
localizar com mais precisão sua responsabilidade em tal contexto.
Nesse mesmo sentido, cabe à
cobertura jornalística oferecer informação clara e abrangente. As funções da
imprensa, entretanto, vão muito além da disponibilização de informação
contextualizada para a sociedade. Ao abordar o tema desta ou daquela maneira a
imprensa contribui para o desenho da agenda pública e, ao exercer seu papel de
fiscalizador das políticas, interage diretamente com os atores mais centrais no
atual estágio da discussão. Aprofundando e diversificando o debate, o
jornalismo influencia os tomadores de decisão no âmbito dos governos, dos
outros poderes públicos, do setor privado, dos organismos internacionais e das
organizações da sociedade civil.
É central reconhecer, entretanto,
que nunca é tarefa fácil para as redações o enfrentamento de temas com forte
conteúdo científico – reduzindo aqui a ideia de ciência para as chamadas
ciências duras, como a física, por exemplo. Estamos diante de um nicho no qual
o conhecimento é fortemente envolvido por terminologias específicas e onde a
compreensão de um conceito ou uma ideia depende do entendimento de conceitos e
ideias anteriores. Por outro lado, é também desafio dos detentores da
informação primária ofertar aos diversos públicos uma discussão mais palatável
(quando aqueles são os cientistas, há sempre o risco da reflexão impenetrável).
Agrava ainda mais o quadro o fato
de que as lógicas do jornalismo e da ciência são distintas. A ciência, por
definição, trabalha com probabilidades (há uma chance X ou Y de tal fenômeno
ocorrer). Já o jornalismo costuma operar com verdades ou, se quisermos, com
fatos mais concretos (tal fenômeno ocorreu ou ocorrerá). Os tempos são também
totalmente diferenciados: a ciência pode demorar anos ou décadas para chegar a
uma conclusão com um maior grau de certeza, enquanto o jornalismo é
instantâneo.
Por isso mesmo, no caso das
mudanças climáticas o jornalismo que busca dissecar a ciência para o grande
público tem a oportunidade de exercer de maneira plena seu potencial papel de
mediador da informação: pode traduzir para todos aquilo que, quando muito,
somente os pares dos cientistas podem entender com clareza. O que se espera,
entretanto, não é apenas a tradução de uma linguagem mais hermética para outra
mais próxima do cotidiano da audiência.
A exemplo do que ocorre com a
cobertura de outras áreas temáticas, nas discussões científicas abordadas pela
imprensa também devem ser expostos os interesses vários que vêm de mãos dadas
com as aparentemente insípidas conclusões científicas. Outros lados devem ser
ofertados e os impactos que vão além das constatações mais ou menos
desvinculadas do contexto social amplo devem ser explorados, discutidos. Enfim,
a ciência deve ser “entrevistada” como são entrevistados os políticos, os atores
sociais, os empresários, etc.
O tema das mudanças climáticas
está inserido em uma dessas situações complexas. Dadas as dimensões do
problema, rapidamente o tema saltou do campo da ciência e da discussão dominada
pelos atores que organizam a agenda meio-ambiental para as mais diversas
esferas possíveis. A economia, a política, a saúde pública, a segurança
internacional, a agricultura, a educação, para ficarmos nas mais óbvias, são
áreas de conhecimento e ação pública – e, portanto, editorias nos meios de
comunicação – que podem (e devem) estabelecer interfaces diretas como temática.
Logo, a tradução jornalística do
debate científico é embebida de um desafio adicional: não basta dissecar melhor
o assunto nas páginas de ciência, é preciso espraiar, de maneira
contextualizada e investigativa, a discussão sobre o tema em várias editorias
estabelecendo com e entre cada uma delas claras conexões no que se refere à
agenda das mudanças climáticas.
Ao fim e ao cabo, é preciso que
os atores que desempenham papel central na formatação, na execução e na
avaliação das políticas públicas (governos, partidos políticos, formadores de
opinião, órgãos de fiscalização, sociedade civil organizada e cidadãos em
geral) sejam capazes de compreender o que está em foco. Só assim poderão atuar
no sentido de obter os resultados mais próximos daquilo que consideram a sua
(deles) situação ideal.
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