Deserto Verde
O monocultivo de madeira tem se
tornado um grande inimigo dos camponeses paranaenses, e não é de hoje. Há mais
de 70 anos, chegava ao Paraná a empresa de papel de celulose Klabin, e, desde
então, municípios como Telemaco Borba, Ortigueira e Imbaú tiveram seus
territórios cobertos em grande parte por eucalipto e pinus.
Em pesquisa desenvolvida
recentemente, o professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Roberto
Martins, aponta que mais de 300 mil hectares no Paraná são propriedade da
Klabin. O município de Imbaú é um dos mais afetados: cerca de 40% do território
está coberto pela produção industrial de árvores. Já a região noroeste do
estado é alvo da expansão da produção de carvão mineral.
“No contexto internacional, as
plantações industriais de árvores estão passando para o sul global. África,
América Latina e Sul a Ásia são os alvos das plantações industriais do grande
setor de papel e celulose mundial”, afirma o pesquisador, presente na 12ª
Jornada de Agroecologia do Paraná.
Resultado da incorporação da
Aracruz Celulose pela Votorantim, a empresa Fibria ocupa hoje 1,70 milhão de
hectares do território nacional. Segundo Martins, a empresa é uma das forças
que ameaçam a população indígena do Mato Grosso do Sul.
Na avaliação do pesquisador, o
governo Lula foi o mais favorável para as empresas de papel e celulose. De 2003
a 2007 foram aplicados 4,4 bilhões de reais no setor, além da criação do Plano
Nacional de Florestas e do Conselho Nacional de Florestas, ambos, na avaliação
de Martins, para avançar no desenvolvimento do setor.
Consequências
A lógica da produção industrial
de árvores repete a do agronegócio: plantio em larga escala, flexibilização das
leis trabalhistas, com situações de trabalho análogo à escravidão, e
desrespeito à natureza.
Uma das consequências graves do
chamado “deserto verde” é a destruição de nascentes. A pesquisa realizada por
Roberto Martins, que contou com a participação direta de 30 camponeses
atingidos, identificou mais de 40 nascentes secas como resultado do intenso
plantio de pinus e eucalipto.
Outro problema se dá em
decorrência do uso de clonagem no cultivo de eucalipto, que prejudica a
sobrevivência de abelhas e, assim, a produção de alimentos. “Hoje, há a
substituição de áreas que eram utilizadas historicamente para a produção de
alimentos e agora são áreas onde só há plantio de madeira”, aponta Martins, que
vê como resultado dessa mudança no uso da terra os baixos índices de
desenvolvimento da região de Ortigueira.
Ariolino Alves Moraes, agricultor
do assentamento Guanabara, em Imbaú, conta que quase 90% do território de
Telêmaco Borba está tomado pela empresa Klabin. “Não sobrou gente na lavoura.
Sem gente, acabou alimento, está se acabando a água, e a natureza se reduziu às
planta de eucalipto”, lamente o camponês.
“O famoso progresso,
desenvolvimento sustentável, seja lá o neologismo que a empresa queira criar,
não consegue se efetivar na região, porque o modelo autoritário de
desenvolvimento não permite a inclusão e o desenvolvimento participativo de outras
formas sociais produtivas na região”, afirma Roberto Martins.
Fonte: www.brasildefato.com.br
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