Autodepuração em Rios
O que é a
autodepuração?
Você já se imaginou tomando banho
no rio Tietê depois de São Paulo? E tomando a água do rio depois de tratamento?
Nem pensar? Você já ouviu falar em um processo chamado autodepuração? Não?
Então é hora de mudar seus conceitos!
Não é porque usamos TV 3D, Ipad,
Iphone, GPS ou uma porção de tranqueiras eletrônicas que não somos ignorantes
em assuntos tão simples, não é mesmo?
Eu particularmente possuo amigos
que não teriam coragem nem de passar perto de um rio que já recebeu algum tipo
de poluição, mesmo que ele já esteja bem longe da cidade que lhe causou
problemas e que seja assegurado através de testes que a água já voltou a ter
qualidade. Isso é por desconhecimento ou puro preconceito. O problema maior é que
a maioria das pessoas não conhecem, admitem, ou querem admitir que a natureza é
capaz de se curar das agressões que o homem imprime nela. A natureza é sábia!
Abaixo eu vou explicar como funciona o conceito da autodepuração de cursos
d’água.
Antes de iniciar, vamos ver os
seguinte conceitos:
Processos AERÓBIOS: Os
organismos processam a matéria orgânica em um ambiente com presença de
oxigênio. Nas estações de tratamento de esgoto por exemplo, o oxigênio pode ser
conseguido via aeração forçada. Nos rios, através de quedas d’água,
corredeiras, fotossíntese de algas.
Processos ANAERÓBIOS: Ocorre na
total ausência de oxigênio (O2), os microrganismos degradam a matéria orgânica
em ANAEROBIOSE.
MICROORGANISMOS
AERÓBIOS – Bactérias, fungos, protozoários, rotíferos.
ANAERÓBIOS – Praticamente apenas bactérias.
Na Zona Limpa é possível
encontrar uma maior diversidade de organismos, geralmente são peixes que não
toleram poluição e necessitam de uma maior quantidade de oxigênio. Na zona de
degradação, a diversidade de organismos diminui e dá lugar a, por exemplo,
peixes resistentes a poluição. Na zona de decomposição ativa os peixes
praticamente desaparecem, dando lugar a bactérias e fungos, muitas vezes o
lugar tem seu oxigênio reduzido a zero, e uma grande quantidade de bactérias
anaeróbias dominam a área.
Exemplo
Prático
Utilizarei como exemplo prático o
rio Meia Ponte em Goiás. O Rio Meia Ponte, nasce nos municípios de Itauçu e
Taquaral, percorre cerca de 471 Km até sua foz no rio Paranaíba. O ponto mais
crítico do rio é quando ele entra na região metropolitana de Goiânia. Após a
captação de água para tratamento, o rio começa a receber esgotos domésticos e
industriais sem tratamento num trecho de mais de 30 Km na região.
O esgoto possui uma alta DBO, ou
seja ( Demanda Bioquímica de Oxigênio) o que representa que os organismos
aeróbios necessitam de oxigênio para processar a matéria orgânica. Se existe
abundância de alimento, a quantidade de bactérias, fungos e protozoários
aumenta consideravelmente, conforme o terceiro gráfico da Figura 1. Podemos
concluir que o rio fica dentro das zonas de degradação e de decomposição ativa
durante todo percurso em sua passagem pela região. Em certos pontos da cidade,
o rio chega a ter zero de oxigênio dissolvido em suas águas, são trechos
praticamente mortos, onde nenhum organismo que depende do oxigênio consegue se
manter. Nesses pontos, existe predominância de bactérias anaeróbias, que são
responsáveis pelo mau cheiro característico de corpos d’água poluídos.
O Meia Ponte após a ponte da
rodovia GO 020 atinge seu ápice na zona de decomposição ativa, é a partir desse
ponto também que o rio vai deixando de receber os esgotos da região. O último
ponto que ainda tem uma certa representatividade é o ribeirão Santo Antônio um
pouco mais a frente. Durante um trecho de cerca de 52 Km, o rio fica num misto
de zona de decomposição ativa com zona de recuperação. Muitos fatores
contribuem para uma recuperação rápida do rio, podemos ai incluir: vazão,
velocidade da água, outros corpos d’água não poluídos que contribuem com suas
águas limpas e oxigenadas, raízes de árvores da mata ciliar e ausência de novos
lançamentos de esgoto.
Na ponte do Terêncio, que liga os
municípios de Hidrolândia e Bela Vista, o rio já apresenta características bem
melhores, ainda está na zona de recuperação, que se estende até o lago de
rochedo, onde a matéria orgânica, já mineralizada, é aproveitada por algas,
repolhos d’água e aguapés, além de
sofrer um processo de decantação provocada pelo lago.
Na parte baixa da usina, já após
o lago, existem muitos pescadores que aproveitam a abundância de peixes na
região, além de famílias que vão para o rio nadar. Ali não existe odores e nem
algas em excesso nas águas, além daquelas algas cinzas típicas de esgoto.
A cerca de 40 Km desse local, em
Pontalina, é possível perceber diversos organismos, chamados de
macroinvertebrados bentônicos, que servem de alimento para peixes e que
representam um bom indicativo de boa qualidade das águas, estes são encontrados
no substrato de fundo (sedimentos, detritos, troncos, macrófitas aquáticas,
algas filamentosas, pedras, etc), no caso foram observados alguns organismos do
tipo: Hydrophilidae, Psephenidae, Oligoneuridae, Aeshnidae, Gerridae e outros
que não identifiquei.
Imaginem um mundo sem os organismos
decompositores, os recicladores universais. É através deles que é possível o
processo de autodepuração de corpos d’água. Sem decomposição, a vida aqui na
Terra seria impossível.
O planeta agradece!
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