Os vilões do desperdício
O uso de caixas de madeira, por
exemplo, não segue o que é estabelecido pela nova Lei – a Instrução Normativa
N°9, de 12/05/03 – que estabelece que as embalagens devam ser descartáveis ou
retornáveis; se retornáveis, devem ser higienizadas a cada uso. O transporte de
frutas e hortaliças é uma das principais etapas do processo que vai da produção
ao consumo desses alimentos. A falta de uma estratégia de logística adequada,
aliada às más condições das estradas, faz com que 20% da safra colhida sejam
desperdiçados no caminho entre a lavoura e o consumidor final, ou seja, de cada
10 frutas transportadas, 2 não podem ser consumidas.
Além do desperdício, os produtos
encarecem significativamente até chegarem à mesa do consumidor. Os meios de
transporte precários, a utilização de veículos sem manutenção periódica e o uso
de embalagens inadequadas contribuem para a proliferação de fungos e bactérias
que aceleram a deterioração dos hortifrutis e diminuem sua vida de prateleira.
No trajeto entre o produtor e as feiras livres os alimentos têm um aumento de
32% nos preços para o público final.
Sem as perdas no transporte, uma
caixa de banana poderia custar cerca de 10% menos nas CEASAS.
Os alimentos frescos são produtos
vivos que apresentam metabolismo intenso, ou seja, sua estrutura física e
química se modifica mesmo na pós-colheita. As mudanças de temperatura e umidade
sofridas pelas hortifrutis até o ponto de chegada no varejo são responsáveis
pela perda de grande parte da produção agrícola brasileira. A adequação da
embalagem, neste caso, acaba se tornando o principal instrumento de proteção
contra esses fatores externos.
As embalagens, se descartáveis,
devem ser recicláveis ou de incinerabilidade limpa. Devem, ainda, ter medidas
paletizáveis e serem rotuladas, obedecendo à regulamentação do Governo Federal.
A Central de Embalagens (CE) já
desenvolve um projeto na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São
Paulo (CEAGESP) que visa garantir a higienização de embalagens plásticas
conforme pede a Lei. Este programa, sob a coordenação do Centro de Qualidade em
Horticultura do entreposto, limpa e repara as caixas plásticas para que elas
possam ser reutilizadas. A Central aluga essas embalagens pelo contrato mínimo
de 24 meses. Como elas são reutilizáveis, o custo de sua locação é amortizado
facilmente ao longo de sua vida útil. “Em comparação com outros tipos, essas
caixas, confeccionadas em polietileno, oferecem maior durabilidade e
resistência mecânica, são totalmente recicláveis e ergonométricas, não
apresentam arestas que podem machucar o produto, além de não absorverem água,
dificultando a proliferação de microorganismos”, diz Luis Anselmo Ribeiro,
coordenador do pavilhão de higienização da CE instalado na Companhia. “Hoje, a
CE higieniza, em média, 50 mil caixas por mês somente na CEAGESP”, completa.
A CE utiliza esse tipo de
higienização somente em caixas de plástico de polietileno. Segundo Ribeiro, se
as embalagens de papelão forem higienizadas elas molham e ficam danificadas e
as madeira levam até três dias para secar, por isso, não são recomendáveis para
esse processo. “Além disso, por ficarem úmidas, acabam sendo hospedeiras de
fungos e bactérias”, acrescenta.
Para Henrique Lewi, diretor
comercial da Politeno, empresa petroquímica que produz resinas termoplásticas
(polietilenos) muito utilizadas na produção de embalagens flexíveis e rígidas,
entre outras aplicações, com a nova legislação, as embalagens de madeira serão
substituídas pelas plásticas. “Até se adequarem às novas exigências da Lei, as
embalagens ainda não precisarão ser mudadas, mas as de madeira obrigatoriamente
não poderão ser mais retornáveis, o que certamente provocará um avanço das
caixas plásticas por ser este um material barato, resistente, possível de
higienização e paletizável”.
Segundo Anita Gutierrez,
Coordenadora do Centro de Qualidade do CEAGESP, a receita para danificar e
causar perdas de frutas e hortaliças frescas resume-se em cinco ingredientes:
“O transporte completamente inadequado aliado ao uso de embalagens ásperas são
dois dos principais motivos para gerar o desperdício de alimentos no Brasil.
Além disso, acrescentamos o excesso de manuseio, a exposição dos alimentos a
granel e o ambiente de conservação e exposição quente e seco”.
O Brasil ainda não possui cultura
suficiente para investir em embalagem, logística e armazenamento de alimentos
perecíveis. “O agricultor pode fazer um grande esforço durante a produção para
oferecer um alimento de qualidade e ter todo o trabalho facilmente destruído
nos elos seguintes”, completa.
No País, poucos produtos são
armazenados para a comercialização por um longo tempo. A grande exceção é a
maçã colhida de Fevereiro a Março e disponível durante o ano todo. Apesar
disso, a perda de peso de frutas e raízes pode chegar a 15% em quatro dias após
a colheita, em temperatura e umidade ambientes. “A solução é desenvolver um
ambiente climatizado, com temperatura em torno de 15ºC, umidade relativa de 80
a 85% e constante renovação do ar”, sugere a coordenadora.
Na Europa e nos Estados Unidos, a
Lei do manuseio mínimo é obedecida com rigor. A exposição dos produtos é feita
na embalagem que vem do produtor. “Aqui a impressão de fartura e a vantagem de
menor reposição (quanto maior a quantidade de produto exposto, menos o
funcionário tem que comparecer ao setor) faz com que o sistema não funcione
como nos paises europeus. O alimento fica deteriorado e é descartado porque
perde seu valor comercial”, afirma Anita. É necessária a implantação de um
programa que abarque desde a modernização de cada etapa do processo até a
inovação das técnicas de cada elo da cadeia produtiva. “Essas mudanças
melhorariam todo o processo existente”, conclui.
Fonte: www.eco21.com.br
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