Brasil e a Economia Verde
As questões ambientais têm sido
crescentemente incorporadas à agenda científica dos mais diversos campos do
conhecimento e às agendas políticas locais, nacionais, regionais e globais. Sua
ascendente relevância tem origem na compreensão cada vez mais difundida de que
a sustentabilidade ambiental é imprescindível para o desenvolvimento de longo
prazo das sociedades. Por um lado, sob uma perspectiva alarmista, trata-se de
uma temática cuja negligência muito provavelmente resultará em efeitos
perversos para o ser humano e para o desenvolvimento, conforme apontam hoje
numerosos estudos. Do ponto de vista estratégico, vêm sendo identificadas as
potencialidades e oportunidades que sua incorporação efetiva envolve, pois ela
pode contribuir para alcançar processos mais sustentáveis de desenvolvimento em
suas diversas dimensões (econômica, social e ambiental).
O desafio de caminhar na direção
de uma sociedade mais igualitária e mais sustentável está, mais do que nunca,
em pauta. É nesse contexto que surge o conceito de economia verde. Definida
pelo PNUMA como “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da
igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos
ambientais e as escassezes ecológicas”, a economia verde foi um dos temas-chave
da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
que ocorreu em 2012 no Rio de Janeiro.
O desafio não é simples e as
discussões estão somente no início. Apesar de haver uma conceituação formal,
seus delineamentos precisos ainda estão por formular. Afinal, o que é uma
economia verde? Quais economias estão mais perto de atingi-la? Como medir o
grau de “esverdeamento” de uma economia? O que significa, concretamente,
realizar a transição para uma economia verde? Qual é o papel do Estado nessa
transição? Como financiar essa transição? Quais setores serão mais impactados?
Quais serão mais beneficiados? Como a transição afetará o dia-a-dia dos
cidadãos? Quais são os riscos de não se ingressar em uma economia verde? E no
caso do Brasil, o que o país tem feito e ainda terá de fazer para avançar rumo
a uma economia verde? Como o país está, frente aos demais? Quais são os
principais gargalos e desafios? Como enfrentá-los? O que essa transição
acarretaria para a sociedade, para os setores produtivos, para o governo, para
os consumidores? A economia verde suscita muitas questões, que não têm de forma
alguma respostas simples e diretas. Sabe-se, contudo, que a transição requererá
esforços substanciais e o engajamento de todos os segmentos da sociedade, em
particular dos governos e do setor privado. Demandará, da parte dos governos, que
se nivele o campo de atuação para produtos mais verdes através da remoção de
incentivos perversos, revisão de políticas e de incentivos, fortalecimento da
infraestrutura de mercado, introdução de novos mecanismos de mercado,
redirecionamento dos investimentos públicos e “esverdeamento” da demanda
pública. Da parte do setor privado, será preciso responder a essas reformas de
políticas por meio de crescentes financiamentos e investimentos, assim como de
construção de habilidades e capacidades de inovação para tirar proveito das
oportunidades de uma economia verde.
O momento para discutir um
paradigma alternativo, onde a geração de riqueza não aumenta as disparidades
sociais e não gera riscos ambientais, nem escassezes ecológicas, não poderia
ser mais oportuno. A crise de 2008, da qual a economia mundial ainda tenta se
recuperar, pode ser uma oportunidade para se pensar e formular o modelo
econômico que desejamos seguir.
A transição para uma economia
verde poderia beneficiar o Brasil em diversos sentidos. A economia verde requer
uma maior igualdade social, o que é algo especialmente necessário no país, que
está entre os dez países com pior distribuição de renda do planeta. A transição
poderia, portanto, servir como plataforma para erradicação da pobreza. Além
disso, o país possui condições naturais bastante favoráveis: a biodiversidade
mais rica do planeta, fartos recursos hídricos, grandes áreas continentais e
costeiras, recursos oceânicos ainda desconhecidos; enfim, um patrimônio natural
que, apesar de ameaçado, ainda é abundante. Na economia verde, o capital
natural passa a ser um ativo, que gera dividendos e produz um diferencial
competitivo. Estão colocados, portanto, os pré-requisitos para que, mais do que
beneficiário, o Brasil seja capaz de liderar na transição rumo a uma economia
verde, assumindo seu papel de agente global de mudança.
Fonte: Luiz Henrique Lopes
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