Pesca Insustentável
Anteriormente, os oceanos eram
considerados uma fonte inesgotável de alimento: Thomas Huxley um biólogo,
inglês companheiro do Naturalista Charles Darwin, escreveu que os recursos
marinhos eram os únicos que podiam ser considerados eternos.
Três em cada 10 peixes são mortos
por engano e são jogados de volta na água. Todos os anos, 250 mil tartarugas
são mortas pelos ganchos destinados aos peixes-espada. Mais de 70% dos estoques
populacionais de peixes da Europa progressivamente são empobrecidos pelo uso excessivo
das redes.
Esse é o retrato de uma pesca
insana que despovoa os mares, fazendo desaparecer as espécies mais procuradas,
como o atum. Para curar os oceanos, a receita que será proposta nesta
sexta-feira no Slow Fish, o evento organizado em Gênova pelo Slow Food,
baseia-se no retorno à biodiversidade gastronômica, às tradições mediterrâneas
que, ao longo dos séculos, criaram milhares de receitas para cozinhar os peixes
que hoje foram esquecidos.
“No Mediterrâneo, há mais de 500
espécies de peixes, crustáceos e moluscos, mas o esforço de pesca está se
concentrando em um leque restrito, dos atuns aos linguados, das lula aos
robalos, que justamente por isso correm o risco de desaparecer”, diz Silvio
Grego, biólogo marinho comprometido também no fronte da Academia Italiana da
Cozinha. “Trazer novamente para a mesa as sardinhas, o peixe-espátula, o
peixe-espada, os pequenos peixes significa voltar aos aromas e aos sabores da
tradição, obtendo muitas vantagens”.
Romper a monocultura do atum e do
robalo significa permitir que os animais com um ciclo de vida mais longo tenham
o tempo de se reproduzir. Além disso, se obteria um claro benefício para a
carteira, já que os peixes pobres custam quatro ou cinco vezes menos. E se
limitaria o consumo das espécies maiores e mais longevas que, com o passar do
tempo, acumulam nas suas carnes poluentes como os metais pesados.
Para se ter uma ideia do que
perdemos, enquanto destruímos a riqueza do mar porque esquecemos do uso sábio,
basta pensar que o peixe-sabre, ou peixe-espátula, base preciosa para os
enroladinhos de peixe, é jogado fora na Sardenha, enquanto os pequenos peixes,
muito apreciados na Sardenha, são jogados fora na Sicília.
No Slow Fish, será apresentada
uma lista de peixes com o sinal vermelha e uma outra lista com o sinal verde.
Serão rejeitadas as criações de camarões tropicais, porque contribuem para a
destruição das florestas de mangue que defendem as costas dos ciclones e dos
maremotos, e o salmão de criação (são necessários cinco quilos de ração para
cada quilo de salmão, e os resíduos produzidos por uma criação de 200 mil
animais são equivalentes aos esgotos de uma cidade de 60 mil pessoas). Serão
promovidos, ao contrário, como exemplo de aquicultura sustentável, mexilhões e
ostras, carpas e tainhas.
O alerta sobre o empobrecimento
dos mares será relançado em Gênova também por Maria Damanaki, comissária
europeia para a pesca. “Apresentaremos em julho a nossa proposta para tornar
rastreável toda a cadeia de peixes”, declarou a comissária. “Quem for pego
pescando ilegalmente perderá a licença. Além disso, daremos incentivos para
melhorar os sistemas de detecção dos navios pesqueiros, a fim de favorecer os
controles e os comportamentos responsáveis”. Haverá também a possibilidade de
aumentar em 5% as cotas de pescado para os barcos que aceitarem ter a bordo
câmeras de vídeo para controlar o conteúdo das redes.
“No Mar do Norte, metade do
pescado é descartado no mar por ser considerado inutilizável”, lembra Domitila
Senni, do Ocean 2012, coalizão de associações ambientalistas. “As novas
propostas da Comissão parecem estar indo na direção certa, mas o tempo já
expirou”.
“Sem uma ação coordenada dos 22
países às margens do Mediterrâneo, não podemos esperar para estancar a
hemorragia de vida que atinge toda a bacia. Chegou o momento de estabelecer as
regras para um governo da pesca”, propõe Carlo Petrini, presidente do Slow
Food.
Fonte: www.ecodebate.com.br
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