Temos a educação ambiental que queremos


Como dizem por aí, meio ambiente é correto? Ué, mas com tanta gente passando fome, como alguém é capaz de se importar com os animais ou com as plantas?
A visão etapista ou seja das fases da resolução dos problemas sociais é uma marca em muitos discursos. Infelizmente, parece ser uma marca mais presente nos discurso de defensores de “uma única causa”, inclusive naquele(a)s que se autodeclaram defensore(a)s dos direitos humanos, pois cada um parece acreditar que sua causa é a mais importante e que deve ser privilegiada. É como existir algum homem do movimento negro capaz de olhar para uma mulher ou um homossexual e se sentir superior ou achar que devemos primeiro discutir as cotas pra depois discutir a violência contra mulheres e homossexuais. A dificuldade de unificar estas discussões em torno de uma única bandeira de luta e percebê-las como decorrentes de uma construção cultural mais ampla que alicerça princípios éticos, provavelmente, resulta do fato de muito(a)s defensore(a)s dos direitos de uns, ainda serem ostentadore(a)s de preconceitos contra outros e não admitem “essa igualdade toda para todos”.
Bom, a ideia de priorizar por importância e emergência até poderia fazer sentido se estivessemos falando de algum tipo escassez, como ocorre na administração, em que é possível falar em prioridade. Porém, quando falamos da capacidade humana de reflexão e quando coloca se em pauta a questão dos princípios, soa estranho alguém dizer que devemos ter consideração ética por um grupo de cada vez. Talvez tenha sido por essa visão que a humanidade decidiu considerar primeiro os homens, depois pensamos nas mulheres, depois pensamos nas crianças, senis, homossexuais (não necessariamente nessa ordem)… Ah, e quando algum dia começarmos a pensar em animais e plantas terá que ser um de cada vez também, começando pelo cão que é “o melhor amigo do homem”, depois pensamos na amazônia, depois pensamos nas baleias e golfinhos e por aí vai. Vamos defendendo um a um até chegarmos a algum lugar coerente, pois não há coerência argumentativa alguma nessa visão por etapas. O que faria alguém acreditar que uma ética biocêntrica não resultaria em uma sociedade muito mais justa para todos os grupos que hoje sofrem perseguições e destruição cultural?
A educação ambiental acaba sendo uma via necessária para colocar em pauta esses debates, afinal, também não há consenso no modelo de ambientalismo a ser adotado pelos movimentos sociais. Alguns partem de uma premissa conservacionista em que devemos “cuidar” do ambiente com objetivo de satisfazer as necessidades humanas, ou seja, devemos conservar com o objetivo de uso para entrentenimento, trabalho, companhia, “ciência”.
Ao contrário dessa perspectiva, foi defendido por John Muir um cuidar verdadeiro do ambiente, visando atender as necessidades que são inerentes a cada espécie. Essa visão trouxe contribuições para justificar a criação de parques, impedir construção de barragens e, especialmente, para fundamentar a discussão de uma ética biocêntrica. Ou seja, não é esquecer uns para proteger outros, mas considerar as necessidades de qualquer espécie viva diante daquilo que é importante para ela.
Você já notou também que as pessoas passaram a discutir, cada vez mais, o meio ambiente vinculado a algum tipo de mercado? Cada vez se fala mais nos “recursos” naturais à disposição do homem e em desenvolvimento sustentável, enquanto as crianças são levadas para ver animais aprisionados nos zoológicos das cidades, rodeios, vaquejadas, circos sem nem ter a oportunidade de entender de onde vieram esses animais e as consequências para estes animais de terem que vivenciar essa condição. Bom, mas pra que se importar com a insensibilização do olhar da criança se temos que nos preocupar com a violência que é cometida por adultos que passaram a vida acreditando que sua pseudo superioridade física ou mental lhe dava o direito de subjugar animais humanos e não humanos que considera mais fracos. Que ética queremos para nossa sociedade? 

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